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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

51 - As Virtudes

As Virtudes são como uma espécie de lugar - que na realidade o é, na Freguesia de Miragaia - mas que abrange Rua, Calçada, Passeio, Alameda, Fonte, Jardim, e também Judeus, Padres, Ingleses, Muralhas, Horto, Miradouro, Burgueses. E a lembrança recente de amigos da extinta Taverna de S. Jorge, (creio que anteriormente se chamaria Passeio das Virtudes e onde declamava os seus versos Vasco de Lima Couto, poeta grande da Cidade) um já falecido, o guitarrista Jorge Barradas, madeirense de nascimento, portuense de adopção, um dos fundadores dos 3 de Portugal e criador do bonito Fado "Cidade das 3 Pontes", na década de 80 do século passado. Ela, cidade, a minha, o Porto, que agora tem 6 Pontes. Uma casa e amizades que me deixaram muitas saudades. Hoje é um restaurante, não direi de luxo, mas com preços de comidas e bebidas a saber a tal. E nada de especial neste campo. A nascente encontramos a casa dos Padres Bernardos, que já aqui viviam pelo menos no ano de 1619. De mão em mão após a extinção das ordens religiosas acabou por ser vendida ao Clube Inglês em 1923. Abandonada e degradada, foi recuperada e é hoje uma instituição de solidariedade social, que segundo li, da responsabilidade da Ordem de Malta . Parece que no seu interior tem pormenores de arquitectura dignos de visita. Por aqui existia a Porta ou Postigo das Virtudes, uma das passagens nas Muralhas Fernandinas para o interior da Cidade. Até ao século XIX.
Por ali ainda se podem ver alguns torreões e panos das Muralhas bem conservados

No Passeio ou Alameda das Virtudes, que já foi Praça, olhando para Norte, encontramos estas casas (na verdade não sei se são as originais, recuperadas) que foram da Procuradoria, se a minha interpretação é correcta dos textos que fui lendo, dos tais Padres Bernardos. Se bem tenha escrito, anteriormente, que o cemitério Judeu poderia ter existido na Bandeirinha, também é verdade que escrevi e porque li, claro, que poderia ser na Calçada das Virtudes; agora também leio que poderá ter sido aqui, na Alameda. É certo, a calçada passa perto, mas bem lá em abaixo. E como não há nada escrito, tanto quanto sei, os palpites disparam. Uma coisa sei, da primitiva judiaria lá em Monchique até aqui é um pedacinho razoável. Mas vou-me deixar de palpites e seguir em frente. Legendando a foto, é uma vista do Passeio ou Alameda das Virtudes sobre Miragaia de baixo. Os terrenos para a sua construção foram doados pelos tais Padres Bernardos para que a Câmara construísse o miradouro que planeou, sobre o Rio e sobre Gaia. Poder-se-ia ver também a Foz. Um aspecto sobre o antigo Horto das Virtudes, hoje Jardim, visto da Alameda. Que tem umas grades de protecção para evitar que possíveis suicidas com ideias pré-concebidas as percam. A ideia foi equacionada desde o início da sua construção. É o que dizem os escritos.
A Calçada deve ter sido aberta por altura da construção da Fonte que está lá no fundo. Ora se uma é de 1619, a outra não deve andar longe desta data. Penso eu. Criou-se aqui um passeio público muito bem frequentado e segundo os cronistas, pelas mais belas mulheres da Cidade. Para que os coches pudessem passar e vir até aqui ao sítio, alargou-se a Porta das Virtudes, aberta nas Muralhas. Do lado direito de quem desce, foi construído um paredão que veio a ruir. Passados anos construiu-se outro, com arcos. Mas como cenas menos dignas para a moral vigente ali se passavam, foram os arcos entaipados, como ainda hoje se podem observar.
Do Jardim das Virtudes, podem-se ver bem a Alameda, a Calçada, o Paredão com os Arcos. E as costas do Chafariz ou Fonte. E o parque de estacionamento.
O Chafariz das Virtudes ou Fonte do Rio Frio é Monumento Nacional, construída em 1619, para aproveitamento das águas do Rio que nascia para os lados da actual Rua da Torrinha, em Cedofeita e que desagua no Douro. Agora por baixo da Alfandega, mas anteriormente na chamada Praia de Miragaia. Onde estão as casas arcadas, já referidas em escritos anteriores. Tem duas carrancas que vertiam a água para um tanque. Francamente, ou o tanque desapareceu destruído ou está subterrado. Um dia destes, com uma manobra menos feliz de um condutor, lá vão as carrancas também. Será que não era de proteger o pobre Monumento Nacional ? Nesta foto do princípio do século XX, creio que de Arnaldo Soares, o tal tanque já não existia. Se é que alguma vez existiu. Pelo menos é o que dá para se entender. É verdade que foi o Chafariz vandalisado. Nesta data já não existia no nicho a imagem que deveria ser de Nossa Senhora das Virtudes.Este painel também está em muito mau estado. E no escudo ao alto, também faltam dois castelos.

As carrancas têm agora na boca uns tubos de chapa, não sei para quê, pois a fonte está desactivada. Será o tanque aquelas formas côncavas por baixo das carrancas ? Ou será desconhecimento do autor do escrito primitivo ? Como se pode comprovar, os carros estão estacionados a meio metro.
Convido a voltarmo-nos a situar no Passeio ou Alameda, mas agora olhando, digamos assim, para Poente. Encontramos do lado esquerdo o edifício da Cooperativa Árvore, de ensino de artes e como tal tem os seus muros cheiinhos de grafitis. É uma casa de 1767, pertença dos Albuquerques. Não sei se são os mesmos que anteriormente referi, mas se são, não há dúvida que era gente cheia de nota. Em frente, uns passos abaixo, existe outro casarão mas entaipado, com uns grafitis até que bonitinhos, e do qual sobressai apenas um brasão. Como não encontrei nenhuma referência à casa, passo adiante.
A casa tinha anexa uma quinta, o actual Jardim das Virtudes, de onde esta imagem foi obtida. No alto o Palácio da Justiça e um pouco escondida a Igreja de S. José das Taipas, que nunca está aberta, pelo menos nas horas decentes que por lá passo. E já foram muitas as vezes. Parece que possui uma das três obras "flamengas" da Cidade. As outros são o retábulo da Capela dos Alfaiates e o tríptico de Pentecostes na Igreja de Miragaia. Ambos já por aqui mostrados.
Aspecto do Jardim, próximo do Largo do Viriato. Nele esteve instalada uma bateria aquando do Cerco da Cidade durante as Lutas Liberais.
Mas antes também era um quinta que passou a ser Horto. Em 1884 é de José Marques Loureiro, que criou estufas onde produziu ananazes. Parece que com sucesso. Dedicou-se também ao cultivo de plantas chegando a ser fornecedor oficial da Casa Real.
Os primeiros catálogos de flores e fruteiras na nossa língua são lançados por ele.

A quinta-horto ocupava uma área bastante grande, mas acabou por ser retalhada. Li no sítio de Junta de freguesia que serão da quinta original, algumas das árvores que se vêm pelas encostas de Miragaia. Mas li também em http://dias-com-arvores.blogspot.com/2004/09/jardim-das-virtudes-visto-da-rvore.html que nada existe do velho Horto, (ou serão só as camélias ?) com excepção de uma árvore de nome Ginkgo, bicentenária, classificada como de interesse público.
Não sei quando passou para a posse da Câmara, mas sei que em 1996 foi reconvertido em Jardim Público. Que pelos vistos esteve muito tempo fechado, ou por longos períodos, pois nunca o vi aberto nestes últimos 4 anos.
Reabriu em Junho, e dele podem apreciar-se belas paísagens sobre Miragaia, o Douro e Gaia.
Pormenores


Miragaia e os seus Armazéns
A Igreja de Miragaia no centro do casario.
À direita a Alfândega
Vista parcial de um bairro social impulsionado pelo saudoso Padre Américo.

Uma nota para os visitantes. O Jardim tem duas entradas. Uma pela Rua Azevedo de Albuquerque, de quem vem do Viriato ou descendo pela Cordoaria. Outra pela Rua de S. Pedro de Miragaia, logo a seguir ao Chafariz das Virtudes.

Bons passeios.