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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

93 - Os Titans do Porto de Leixões

Recebi do meu querido amigo Carlos Vinhal a informação de que o velho Tintan do Molho Sul do Porto de Leixões vai ser removido. 
Mas o que é o Titan ?, perguntarão a maior parte dos meus amigos. Pois aqui vai a história do "bicho" . Melhor dos "bichos" pois são dois os Titans.
Aquando do início da construção do Porto de Leixões por volta de 1880, colocou-se a questão como a pedra, pesadíssimos blocos de granito, deveria ser colocada entrando pelo mar dentro.Então foram encomendados a uma empresa francesa dois gigantescos e poderosos guindastes movidos a vapor que se deslocavam sobre carris. Foram baptizados por titãs pelo seu aspecto colossal.
Eram colossos que levantavam 50 toneladas. O do molhe Norte chegou a cair ao mar, entre os dias 22 e 23 de Dezembro de 1892 derivado a um forte temporal, tendo sido recuperado três anos mais tarde. Para além de terem sido utilizados para obras de recuperação, também exerceram funções de cargas e descargas, principalmente o do Molhe Sul, até aos anos 60 do século passado.
Foto obtida a partir do Molho Norte da Barra do Douro. Nas extremidades, os Titãs 
São os únicos exemplares que ainda restam no mundo na sua categoria de força/potência. Independentemente da sua importância e significado para Leixões e para toda a região, os titãs têm hoje uma importância acrescida pelo seu valor como testemunhas privilegiadas da era industrial e da arquitectura/maquinaria do ferro.
A Foto antiga é de Emílio Biel, o texto respigado do original de Joel Cleto, publicado no site do Porto de Leixões em https://www.apdl.pt/gca/index.php?id=195

domingo, 28 de agosto de 2011

92 - Os Farois da Foz - Barra do Douro

Grande polémica envolveu a construção dos dois paredões do Molhe da Foz do Douro. O primeiro projecto recusado em 1997, previa uma construção de 600 metros para o Paredão de Gaia e mais de 700 para o do Porto.
O novo projecto foi aprovado e a empreitada assinada, creio que no dia 1 de Abril de 2004, prevendo-se o final da obra ao fim de 28 meses. O valor orçado foi de 25 milhões de Euros. Claro que nem o prazo foi cumprido nem o orçamento cuja derrapagem foi da ordem de 2,6 milhões de euros, mas também li que foi de 12 milhões. A obra foi dada como pronta em Março 2009.   
O paredão do lado do Porto, chamado Norte, Prémio de Engenharia, acabou por ficar com 480 metros, mais ou menos. O velhinho Farol de Felgueiras está ali ao lado. 
Os temporais, dizem, foi uma das razões do atraso da obra. Foi há três anos, em Agosto, que trabalhadores tiveram de ser resgatados por helicópteros devido a uma súbita mudança dos humores do mar. Bom, e continuam a provocar estragos. O bar que se encontra debaixo do passadiço e agora com esplanada na antiga Meia Laranja, já foi destruído. Coisa que não foi de admirar.  
Ora esta obra foi pensada para que a Barra do Douro se tornasse navegável. Expert's dizem que foi dinheiro deitado à rua, pois há muitos anos não passam barcos comerciais a barra. A não ser os que vão carregar granito ao Douro, Região. Outros, são de opinião contrária. Entre eles o meu amigo Rui Amaro (Blogues Navios à Vista e O Piloto Prático do Douro e Leixões, já várias vezes aqui recomendados).   
Além disso, o aumento da salinização da água prejudicará as populações que pelo Douro e Paiva são abastecidas. Tudo isto bisbilhotei por aí, porque de água não percebo nada. A não ser no duche, se está quente ou fria
Sabe-se que a Barra do Douro foi desde tempos imemoriais o Porto de Abrigo do Norte de Portugal. As nossas relações com os povos do Norte da Europa e do Mediterrâneo, fizeram de Porto e Gaia ancoradouros por excelência. Por isso Portus Cale. Coisa de Gallecios, cuja origem vem deste torrãozinho e pena foi D. Afonso Henriques ter ido para Sul, quando deveria ter reconhecido as suas origens patrícias e ir para Norte. Dos Nórdicos ficamos com os Rabelos, barcos de mar que o nosso engenho adaptou ao rio. Mas isso é história (ou estória ?) de mais para a areia da barra do Douro que assoreava a sua entrada. Vinda do Cabedelo, de Gaia.
Do lado de Gaia, o Molhe Sul. O Atlântico e o Douro se abraçam, calmos e serenos. Que se portem bem assim, o que não creio. Ninguém crê.
Foi ponto assente que o nosso Presidente Rui Rio não gostou nada desta ideia da Barra, contrariamente ao seu vizinho e correlegionário político, de Gaia, Filipe Menezes. Para este seria uma boa obra à qual aproveitava para incluir uma Marina. Vi em tempos umas obras na Afurada, disseram-me que era para a tal Marina. Mas já lá não vou desde o S. Pedro de há dois anos.
Do lado de cá, em frente ao chamado Molhe Norte, o velhinho Farolim de Felgueiras, que agora só ronca. Não é pejorativo não senhores. É o nome que os mareantes dão à voz da buzina, ligada em dias de mau mar. Porque as luzes de sinalização da Barra agora são dos nóveis faróis.
Independentemente das polémicas sobre esta obra, em tantas horas passadas por ali, vi dois barcos atravessar a barra. Um deles num dia de verdadeiro temporal, escondendo-se da vista entre as vagas. A foto anda por aí. Esta encontrei-a por casualidade.
Para mim, tem tudo de bom, porque posso caminhar aqueles quási 500 metros sentindo uma sensação de liberdade, a máquina vendo o que por vezes não vejo.
Mais ou menos onde era a Meia Laranja, as pedras se amontoam. Não sei se foi o mar - ou o rio - que as atirou para ali em dias de temporal ou se têm a finalidade de proteger alguma coisa.
Sabe bem estar na zona de restauração, mas em dias de calor não.
Da Meia Laranja sobra isto. Os pescadores do Robalo queixam-se. Os da Taínha nem por isso. Está sempre uma "loirinha" ao lado.
Em dia de São Bartolomeu, como sabe bem olhar o Farol de Felgueiras, comer uns tremoços, amendoins e azeitonas, claro, com a tal de "loirinha" fresquinha ao lado.
Na esplanada em frente à Praia da Pastora, já teve um Jardim bem arranjado e florido, mas que o temporal do Inverno passado deve ter levado. Como é zona desinteressante, a Câmara não lhe liga e o povo também, deixando por lá o lixo que faz.
Há um motivo escultórico de José Rodrigues (um dos 4 Vintes, fundadores da Cooperativa Árvore e da Bienal de Cerveira) e dedicado ao Grande Escritor Ferreira de Castro (Oliveira de Azeméis, 24-Maio-1898 / Porto, 29-Junho-1974) autor de A Selva, Emigrantes, Instinto Supremo, A Lã e a Neve e tantos outros. No tempo "da outra senhora" nem dele se falava nas escolas. Mas foi-me segredado pelo meu último professor de português. Conheci-o em Novembro de 1969, na Biblioteca do Hospital Militar de Bissau. Mas isso são outras histórias (ou estórias, tanto faz).
Nota à margem do tema, podem encontrar-se as suas obras, senão todas, uma boa parte, nas Catacumbas do Chaminé da Mota.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

91 - Alfarrabista Chaminé da Mota

Por várias vezes passei no número 28 da Rua das Flores sem nunca ter entrado, admirando de fora o seu interior e as suas montras. Até que em Maio último, entrei mesmo e fiquei espantado com o que vi. Chaminé da Mota não é só um Alfarrabista.
Fundada em 1981, a casa é um autentico museu vivo, com um acervo de peças que nos deixam deslumbrados. É, tem de ser, mais um ícone da Cidade. Por mim tudo farei para dar a conhecer.  
À entrada, um simples cartaz em forma de páginas de livro, desenhado, faz-nos recuar ao tempo em que grandes artistas plásticos criavam, quási em anonimato, a publicidade gráfica, arte ou industria na qual me formei profissionalmente. 
À esquerda, um cartaz de meados dos anos 50, impresso na antiga Litografia Universal, cuja tiragem inicial foi de 2.000 exemplares. Desconheço o autor gráfico. Sei que um desses exemplares de primeira edição, em leilão, estava com o valor inicial de 100 euros.  
Numa das minhas passagens, presumo ter reconhecido o arquitecto e fotógrafo João Meneres, velho companheiro de andanças profissionais.
                                 
Passeando pelo interior, onde a par dos livros descobrimos peças de sonho.  
Recordações de uma guerra mundial, creio que da primeira (1914-1918). Se estiver errado, alguém o denunciará.
Cartaz com uma legenda explicativa que esqueci. Mas tem a ver com a característica da reprodução. Voltarei um dias destes.
Por cima da estante, carregada de belas brochuras, os frascos de Litro da tinta de escrever que se usavam nas escolas e escritórios. Os aparos utilizados eram os ponta de lança, Chamavam-se Perry.?
Uma infinidade de belas peças estão em exposição por todo o lado.

As catacumbas
 
Caixas de música, do séc. XIX de várias origens, são um regalo para os olhos e ouvidos. Um disco enorme, construído em material que desconheço, com pontinhos e traços, solta os sons da Internacional. Dizia-me o Senhor Chaminé da Mota: Um dia será o Hino do Brasil (Estava nessa altura acompanhado por uma visitante amiga, brasileira). Ele riu, nós rimos. Conheci a música. Leia-se o que a Wikipédia diz: No Brasil, é a canção oficial do Partido Comunista Brasileiro. Os anarquistas brasileiros também o adotam. Porém, diferentemente dos comunistas, mantêm a versão original da tradução de Neno Vasco para o verso "Messias, deus, chefes supremos", ao invés de "Senhores, patrões, chefes supremos". O verso é suprimido na versão do Partido Comunista para evitar conflitos com alas da Igreja Católica que o apoiam. No Brasil foi gravada pela banda paulista de punk rock Garotos Podres, cujo vocalista é doutor em história e estudioso dos escritos de Karl Marx.(reproduzi o texto na íntegra).
Mas adiante.
As montras variam de exposição. Creio que serão temáticas. Ontem não faltava um brinquedo da minha meninice. Na de baixo, os "gibis" da pré adolescencia.
Um dia voltarei a esta Casa de Cultura para saber mais coisas. Se houver paciências que me aturem. Até lá, não percam uma visita.
O Senhor Chaminé da Mota deu-me o prazer de registar uma pose de recordação em Maio. Ontem não estava, mas prometo que voltarei para aprender.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

90 - Espinho e Ó Tempo Volta p'ra Trás

Nunca gostei particularmente de Espinho. Nem há 44 anos quando fui obrigado a vegetar por ali, nem agora. Acho mesmo que quem gostou e amou Espinho verdadeiramente, foi o camarada Canhão, companheiro de muitos companheiros meus, que foi como uma marca registada da vida desde Vendas Novas, ali bem próximo de Évora. Infelizmente já não está entre nós desde há precisamente dois anos. Esse Alentejano de Borba, que escrevia poemas e amou, se não todas, quási todas as meninas Espinhenses. E nunca se esqueceu delas, nem desta Cidade, alguns anos depois.
Mas o António Canhão foi único. Sem ele, Espinho não seria tão lembrado.
Espinho, bem como os seus vizinhos a norte, embora não tenham nada a ver com um comum autárquico, Miramar, Aguda e Granja, tomaram desde o princípio do século passado um ar burguês, onde as vivendas e palacetes da gente fina que vinha de fora, se lhes impôs como uma marca registada. Hoje, quási tudo está em ruínas. Eram as praias dos ricos. Mas era e é, terra de gente séria e franca, conserveiros, cordoeiros, pescadores. Com as quais ainda convivi algum tempo. Hoje já não existem estes misteres. Os pescadores ainda se arrastam por essa costa, da Aguda até Silvalde. Só para lembrar aos mais novos que ainda existe alguma faina. Os tractores substituindo os bois na Arte Xávega.
Mas Espinho ainda continua a querer impôr-se como estância de veraneio. E acho muito bem. Mas a moda dos edifícios recuperados é muito sui-generis: recupera-se a fachada e constroi-se logo atrás em altitude. Este da foto é um pequeno exemplo, mas outros são bem mais gritantes no seu exagero. Que poderá não ser em altitude, mas a descaracterização do que foram alguns belos edifícios da época de ouro de Espinho. O Cine-teatro São Pedro é um exemplo. O outro é o Nosso Café. Um àparte, dirigido especialmente à minha querida amiga Gisele, a mais Portuguesa de todas as Cariocas: Se quiseres as fotos destes mamarrachos, tens de me pedir muito. E mesmo assim não sei se as enviarei. Por vezes, nas recordações não se devem mexer.
A velha Estação da Linha do Vouga. A Linha ainda funciona, com as bilheteiras aqui ao lado num pequeno cubículo e os funcionários com ar de arreliados e complicando a vida a quem quer utilizar o comboio. Estive lá e tenho fotos. Por vezes tenho pena de não gravar vídeos, só para se ouvir como  funcionários zelosos de uma empresa altamente deficitária do Estado Português tratam os utentes de um serviço que deveria ser público.
Precisei, neste momento do campeonato, de desafogar umas m'águas. Tentei utilizar as traseiras da antiga Estação. Não sou de indecoros, muito menos junto de uns rapazinhos utilizando umas seringas e cantando o hino nacional da sua comunidade. Para alguma coisa servem as paredes da Estação velha.
As placas comemorativas dos 100 anos da fundação da Linha do Vouga e da Estação de Espinho. Uma das mais antigas linhas férreas do País.
O comboio iniciando a sua viagem. Todo aquele espaço que outrora foi lindo, deve servir para tudo. Mais parece que caiu por ali uma bomba e nada foi recuperado.
Mas voltemos ao veraneio e aos seus espaços.
A enorme piscina municipal que vista das janelinhas voltadas para a praia, mais parece um aquário. Mas não de peixes ou outras espécies marítimas.
Aquela tijoleira a toda a volta deve dar uma sensação de prazer que nem os romanos nas termas que descobriram por esse nosso Portugal sentiram.
A praia norte não tem limites. Podem os trabalhadores e trabalhadoras do bronze vir até ao "Calçadão".  Há sol para todos. E vento também, ou não fosse ele aqui de uma qualidade impar.
Mas há algo extraordinário em plena cobertura - uma enorme praça sem graça nenhuma - da linha ferroviária do Norte. Uns tubos enormes, surrealistas, que talvez ficassem bem num museu de arte contemporânea. Mas na via pública ? Mesmo que sejam respiros indispensáveis ao interior da linha férrea, não era (será) possível um artista tirar um bom partido da situação ? Mas isso sou eu a imaginar...
Voltando à praia e a uma mimosa tenda-casa de veraneio. Com vistas para o mar. Ao montar e ao desmontar.
Nem tudo é mau e para os saudosistas desfrutarem desta vista antiga de Espinho, mas não tanto como isso. Com destaque para o Estádio Violas onde o meu Salgueiros há cerca de 20 anos, derrotou os Tigres sagrando-se Campeão Nacional da segunda divisão, permanecendo na primeira até acabarem com ele. No mesmo dia, o FêCêPê também realizou feito igual, mas referente à primeira. Noite de farra, ainda a Avenida dos Aliados, no Porto, claro, era palco de grandes festanças. Tudo acabou no Mal Cozinhado, cheio como um ovo  e também na extinta Taverna de São Jorge, nas Virtudes. Como queria ser o Mourão e saber cantar Ó Tempo... Volta p'ra trás...

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

89 - Porto, Igreja de Santo Ildefonso, outra parte

A casualidade é uma constante da vida. Passeava por Santa Catarina em direcção à Batalha com uns amigos quando resolvemos entrar na Igreja de Santo Ildefonso. Tinha lá estado há pouco tempo e  sobre ela escrevi e mostrei fotos em 20 de Maio na postagem 75.

Fiquei surpreendido pois encontrava-se aberta uma porta lateral. A curiosidade leva-nos a conhecer novas coisas.
Encontramos uma pequena exposição com raridades antigas. Com destaque para um arco em talha, que provàvelmente terá rematado um cruzeiro ou altar. Acho eu.. Nada o identifica, nem a sua origem
Duas imagens o ladeiam. Umas belezas.
Um livro de contas.

Uma lindíssima fonte descobrimos
E este Cristo, lavrado em pedra num pedestal do mesmo material.

Não há qualquer informação sobre as peças atrás descritas. Mas havia a informação que estão em exposição Orgãos em algumas igrejas da Cidade. Mas porque será que nunca sabemos quando a cultura está aberta a todos ? Ou serei eu que ando distraído. Bom já eramos três distraídos. E francamente, esqueci de registar quais as Igrejas em que os podemos ver de perto e saber da sua história. Mea culpa.
Subindo umas íngremes escadas, chegamos ao coro onde se pode visualizar a Igreja como nunca a tinha visto. E logo bem próximo o Vitral alusivo à Transfiguração. Obra do Prof. Isolino Vaz, de 1967.
Pormenores do tecto que foi no seu passado um rico trabalho cromático a ouro puro, mais tarde recoberto a cal. Porquê ?
Vista de cima, a Capela Mor e duas das estátuas dos apóstolos - outras duas encontram-se nos outros cantos da Igreja e que substituíram no início do séc. XX painéis pintados com as figuras dos quatro doutores da Igreja. O arco cruzeiro está encimado por talha de 1950 e uma imagem de Jesus Cristo.
As laterais onde se encontram duas imponentes telas que quási não se definem. As molduras são recamadas a ouro, pintadas a castanho no princípio do séc. XX. Esperam restauro.
E olhamos então para o Orgão, que não sei se funciona, pois li em tempos necessitar de restauro. É do séc. XIX.
Uma visita em que me excedi no falar alto, típico de quem é meio surdo e asmático, mas também pelo entusiasmo com que tentei dar a conhecer aos meus amigos o pouco do que li e aprendi sobre a Igreja. Valeu-me um grande raspanete, dito com cortesia, (e com toda a razão) pelo senhor que anteriormente me abriu as portas para ver as cruzes que estão no exterior que vieram da Colina do Bonjardim. Há 2 séculos.