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sábado, 29 de outubro de 2011

103 - O Bom, o Mau e o Vilão

Filme que ainda hoje acho de culto, não só pelos extraordinários actores e realização, mas também pelo tema musical, - mas é só a minha opinião - adaptado perfeitamente para o meu tema de hoje. Quer dizer, só o título. E vão já ver (ler) porquê.
Tudo começa com um convite para ter a liberdade de fotografar o Museu Guerra Junqueiro. Que mete pelo meio um casal brasileiro de amigos que vêm visitar o Porto. História de Arte e Museologia. E a Dra. Eva Rocha (o nome é dificíl não lembrar) com uma grande simpatia e disponibilidade.
É "Por Detrás da Sé", um dos nomes desta Rua que agora é de D. Hugo. Telefonema a marcar a possibilidade da visita, logo aceite. Mas que calhou mesmo no dia do temporal, quarta-feira passada. Mas não desisti.
A foto não mostra o temporal, mas só eu sei os trabalhos que passei para a fazer. Mas gosto de recordações. Porque queria também mostrar os dois edifícios, naquela rua que fez parte do Crasto da Idade do Ferro:  A Fundação e o Museu.
O tema Guerra Junqueiro ( Freixo de Espada à Cinta, 17.Setembro.1850 - Lisboa, 7 de Julho de 1923) é vastíssimo. Por isso fica para outras "obras".
Logo me foi recomendado que deveria complementar a futura "obra" com uma visita à Fundação a que a Senhora sua filha e genro deram nome.
O que fiz hoje, dia magnífico com um calorzinho de 18 graus. Também aqui a disponibilidade foi grande, não só para me guiarem numa visita completa e de quem conhece a fundo a obra da filha de Junqueiro, a Fundação, como todos os aspectos da vida do poeta, escritor, jornalista, político e coleccionador. Como me permitiram fotografar o que entendesse. Sou mau para fixar nomes. Mas a amabilidade da Senhora Directora - francamente não sei se deverei chamá-la assim - e da Senhora que posteriormente me acompanhou, usando o vocabulário actual, não há palavras para descrever.
Por hoje vão os pormenores à entrada de ambos os edifícios, hoje pertença da Câmara Municipal do Porto. Por doação da filha de Guerra Junqueiro, o do Museu. (O da Fundação, não sei bem se já era da Câmara). Como também de todo o acervo que podemos admirar. 
Agora vem a disponibilidade dos camaradas bandalhos.
Acontece... (que saudades deste programa da RTP2 e do Carlos Pinto Coelho), da parte do Bando recebi uma chamada na terça-feira, estava eu sossegadinho às voltas com o Castelo de Gaia. Vai p'ra lá vem pr'a cá e ficou marcado almoço para quarta, com encontro no Bolhão. Até aí, tudo bem. Frango Galeto de primeira e Tripas à Moda do Porto, óptimas, no Pedro dos Frangos. Muita conversa após repasto, até que são horas de "nos metermos ao temporal".
Na rua não se podia andar, então fomos parar ao novo estabelecimento de café, chás e afins, descoberto pelo Quintas e pelo Peixoto. E aí vem a desilusão.
Para fazermos a foto da praxe, a gentil empregada disponibilizou-se totalmente. Mas vem de lá "uma cara de pau", por sinal feia (aí somos conforme Deus nos deu, nada a fazer ) e com cabelo de quem se tinha posto naquele momento a pé da cama, rezingar com a mocinha.
Todo o mundo percebeu que era proibido fotografar. Além da falta de chá, embora estivessemos numa casa onde ele é rei, a senhora foi infeliz da maneira como se dirigiu à empregada. Esta gente moderna... Só para chatear fiz a foto acima, porque nem tudo é mau naquela casa.
Contradições do Fraichaising e da Tradição Portuense. Já na casa dos Cafés Delta, ao Bolhão, fui proibido de fotografar. Escrevi aos Cafés mostrando a minha tristeza. Sem resposta ao fim de mais de três semanas.
Agora devem, caros amigos, terem compreendido a minha história associada ao filme. O Bom - Museus, Fundações, Casas de Tradição (vamos excluir a Lello até saber da história direitinho). O Mau, os que nos proíbem de fotografar umas coisitas sem importância. E o Vilão, eu , e já agora os meus amigos que andam comigo nestas "cenas" e só se riem...

domingo, 23 de outubro de 2011

102 - Galeria da Vista Alegre, no Porto

Uma casualidade levou-me a entrar na Galeria da Vista Alegre, no Porto, a Fábrica de Porcelanas, em Ílhavo, próximo de Aveiro, fundada no séc. XIX por José Ferreira Pinto Basto. E de cujo grupo agora fazem parte as Fábricas Bordalo Pinheiro das Caldas da Rainha e a Atlantis (antiga Crisal) de Alcobaça.
Esta Galeria está instalada no antigo Palacete do Conde de Vizela, de inicíos do séc. XX da autoria do grande arquitecto Marques da Silva, voltada para as Carmelitas, esquina com Cândido dos Reis
Este espaço era um antigo entreposto onde as mercadorias da Fábrica de Vizela esperavam ordem de embarque para o estrangeiro e ex-colónias portuguesas.
Foi adaptado para Galeria e Loja de Vendas das Fábricas Vista Alegre, Bordalo Pinheiro e Atlantis, em vários níveis e andares, mas mantendo muito das estruturas primitivas.
Peças de mobiliário totalmente português, umas novas outras recuperadas e restauradas.
Nos andares inferiores, são bem patentes os muros de suporte em pedra de granito, característica da construção portuense. Alguns arcos de suportes estavam e continuam entaipados.
Outros abriram-se prolongando os espaços e visitas a salas de exposição de louças com diferentes características.
Alguns mmobiliários e adereços, faianças e vidros, fazem-nos lembrar um Museu Vivo.
Neste sala podem ver-se os "barrotes" de madeira que sustentavam o tecto primitivo.
Uma peça da Bordalo Pinheiro, que correu mundo na net e foi um enorme sucesso de vendas: O Tomas à Moodys, gesto bem português do Zé Povinho, representando a revolta e a insolência, criado por Rafael Bordalo Pinheiro. Surgiu pela primeira vez na 5ª edição do periódico "A Lanterna Mágica" a 12 de Junho de 1875.
Popularizou-se com a cerâmica da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, a partir do último quartel do século XIX.
Bendita a casualidade que me levou a este espaço. Os amigos Percival e Laura é que foram os culpados. Tenho de agradecer ao colaborador da Empresa VAA (infelizmente não fixei o nome) que se dignou acompanhar-me na visita e mostrando pormenores, prestando todos os esclarecimentos que lhe pedi. Com um prazer que se reflectia no rosto. Embora a hora de fechar a Galeria tivesse passado há muito.
O Porto ainda tem destas coisas...
Visitem http://www.vistaalegreatlantis.com/

Uma nota: Não sei se Bordalo se escreve assim ou assim Bordallo:

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

101 - Proibido Fotografar a Livraria Lello

Fiquei surpreendido quando há dias o amigo Peixoto me disse que era proibído fotografar no interior da Lello.
Rebati que não podia ser, pois o lema da Lello era É Proibído Proibir.
Ontem entrei na Lello com o Percival e a Laura, casal amigo brasileiro, ambos ligados ao ensino e à cultura (onde está à venda um livro sobre a Cultura Portuguesa na América do Sul com fotos do   Percival) e realmente confirmei que era Proibido fotografar e/ou fazer vídeos.
Casa cheia mesmo olhando ao tardio da hora, quási 19 horas. No passeio, turistas olhavam o estabelecimento. 
Fiquei chocado pela proibição. A amiga Laura, inconformada, dirigiu-se à recepção e perguntou o porquê da proibição.
Uma explicação simples como resposta: Caiu nas escadas uma senhora que fotografava.
A senhora colocou um processo em tribunal contra a Livraria, culpando-a da queda.
O processo trouxe complicações para a Lello. Então, acabaram-se as fotos.
No momento até concordei com a atitude. Sei por experiência própria o quanto é difícil fotografar em locais públicos fechados. Não há respeito pelo local nem com os utentes, sejam outros caçadores de imagens ou apenas simples uso-frutuários momentâneos ou clientes. 
Especialmente nesta casa, as pessoas atropelam-se, incomodando muitas vezes quem está a ver um livro ou a comprar. Não respeitam minimamente o local. E refiro-me em especial a turistas estrangeiros, (espanhois e orientais são o máximo) que empurram e fazem tanto barulho como se estivessem no mercado do Bolhão.
Caindo em mim e mais a frio, lembrei-me haver (ou pelo menos havia) um seguro de acidentes que abrangem os clientes. Não sei como decorreu o caso. Provàvelmente não foi bom para a Livraria para tomarem esta atitude extrema. 
Apenas sei que fico triste porque a considerada terceira mais bela livraria do mundo tem as suas portas encerradas para os fotógrafos.
Sinceramente espero que a situação mude. O mundo precisa de ver esta obra de arte. E que os fotógrafos amadores mudem também a sua atitude.
E quero voltar a saber que é Proíbido Proibir.

sábado, 15 de outubro de 2011

100 - Torre dos Clérigos, a Velha Senhora

Um dos ex-Libris da Cidade do Porto, a Torre dos Clérigos, incluída no conjunto de que fazem parte a Igreja e o antigo Hospital, hoje residência sacerdotal, merece um lugar de destaque neste espaço, comemorando comigo o escrito 100. Vaidades à parte, pergunto, especialmente aos meus conterrâneos portuenses e vizinhos: Conhece mesmo a Torre dos Clérigos ?
Todos sabemos (principalmente o pessoal do meu tempo) que foi Nicolau Nasoni o seu obreiro. O conjunto dos Clérigos foi construído junto à Muralha Fernandina, mas do lado exterior, num terreno chamado Lugar da Cruz da Cassoa, junto ao primitivo Adro dos Enforcados, que passou para os terrenos do Hospital de Santo António. Era a zona do Olival. Quando passarem por aqui, lembrem-se que o local foi sepultura dos enforcados criminosos sentenciados na forca e também dos que morriam fora de religião.
Mas por agora é a Torre que tentarei dar a conhecer. Mais ou menos, claro. Foi construída entre 1754 e 1763 e durante anos Nasoni trabalhou sem receber, embora mais tarde tenha conseguido o seu dinheiro. Foi D. Jerónimo de Távora Noronha Leme e Sernache, protector de Nasoni, que ofertou o presente à Irmandade dos Clérigos Pobres que lho tinha pedido.
Vista desde a Rua da Ponte Nova
O projecto inicial previa duas Torres. Ficou-se apenas por esta o que já não é mau. Imaginem o que seriam duas Torres dos Clérigos na Cidade do Porto. Caía o Carmo e a Trindade lá para os lados de Lisboa, se já estivessem construídas.
Tem 6 andares, 75 metros de altura, 225 degraus numa escada em caracol. Num encontro de 2 pessoas, só se passa de lado. Logo a partir dos primeiros 10 degraus da subida. Serviu como telégrafo comercial, referente à navegação e relógio da Cidade.
Destaca-se fàcilmente de todas as Torres que se encontram pela Cidade, independentemente do local e o ângulo em que a vemos.
É Monumento Nacional desde 1910, construída em estilo Barroco
Vista desde as Muralhas Fernandinas, no troço da Sé.
Vista da Sé, com o casario da Vitória aos seus pés.
Vista da Rua da Bainharia, atravessando as Ruas de Mouzinho da Silveira, Flores e Ponte Nova. Ao alto são os Caldeireiros.
Vista da Rua da Madeira, próximo à Batalha. Mas vamos conhecer alguns pormenores.
Ao lado tem a companhia da estátua de D. António Ferreira Gomes, o Bispo do Porto exilado por ordem de Salazar nos anos 60.
Tem no topo 4 sineiras e mostradores de relógios nos quatro lados. Do alto, admira-se a Cidade, bem como as vizinhas Gaia e Gondomar. A não perder uma subida até ao cimo.
No quarto andar está lavrada uma legenda bíblica e numa varanda abalaustrada podemos apreciar já a Cidade e arredores.
Janelas sineiras e aqui está instalado o carrilhão de concerto com 49 sinos. Que podem ser devidamente apreciados durante a subida. Uma janela com frontão triangular e um escudo com monograma A M - Avé-Maria - coberto com as chaves de S. Pedro.
A Porta Central é encimada por um medalhão ornado e legenda bíblica. Segue-se num nicho a  estátua de S. Pedro. Neste andar a espessura das paredes de granito é de 2,20 m.
Torre dos Clérigos
A Cidade do Porto espremida para cima
(Teixeira de Pascoais)


Nicolau Nasoni (Toscana - San Giovanni Valdarno, 2.6.1691 - Porto, 30.8.1773) foi um artista, decorador e arquitecto italiano que deixou muitas obras na Cidade do Porto e também pela região Norte. Teve bastantes seguidores, pelo que lhe são atribuídas obras que talvez não sejam da sua autoria. Um dos seus discípulos e em parte responsável pelas obras dos Clérigos, foi António Pereira, presumível autor de S. João Novo. Mas existe ainda hoje a dúvida sobre o seu autor real.
A sua primeira grande obra conhecida foi a Galilé da Sé em 1736 e o Chafariz de S. Miguel, adoçado à Casa do Despacho. Mas na Sacristia, Capela-Mor e provàvelmente no Corpo da Igreja executou pinturas desde 1725.
Nasoni chegou a emigrar para o Brasil, onde negócios mal conseguidos sendo mesmo roubado o deixou na miséria.. Regressou ao Porto onde viria a morrer e sepultado em local desconhecido na Igreja dos Clérigos.

Parte dos textos foram recolhidos do Livro de Ouro - Porto-Património Mundial editado pelo Comércio do Porto e que o meu amigo Manuel Cibrão me emprestou sem data de devolução.
Outros excertos foram adaptados do IPPAR. Na Wikipédia, no espaço pequeníssimo dedicado à Torre, lê-se que a estátua por cima da Porta Central é de S. Paulo. Julgo que erradamente.
Respigos da sua Biografia recolhi-os em vários sites, incluindo http://Sigarra.up.pt
E não esqueçam de fazer uma subida de 75 metros. O número de degraus, variável de site para site, não custam nada a fazer.



quinta-feira, 13 de outubro de 2011

99 - Artesanato e Velharias

Grande e boa surpresa ao visitar mais uma loja na Cidade do Porto. Neste caso foi a Galeria de Artesanato O Galo. E de Velharias também. Coisas com Alma, Memória e Paixão, como diz o seu proprietário Artur Azevedo. Por coincidiência, vim a saber que é familiar do meu amigo Jorge Teixeira, o Jteix.45.
Localizada por baixo da Capela de S. Salvador do Mundo, (de finais do séc. XV, reformada no séc. XVII e a última restauração em 1892) no início de Mouzinho da Silveira, a Galeria representa vários artesãos e exporta para alguns países, sendo o de maior expressão o Japão. Esta loja e armazém tem uma história interessantíssima, com muitas demandas e sentenças, desde a sua origem no séc. XV. Tema para outras estórias.
O seu interior marca-nos desde a entrada, construído em pedra de granito. 
Para além do artesanato tradicional em cerâmica, barro, madeira, tecidos, saltam-nos à vista pequenos brinquedos que marcaram juventudes dos 40, 50, 60.
Os "santinhos" das cascatas e presépios, recordam esses velhos tempos
A portada original de uma janela que esteve numa loja dos antepassados dos actuais proprietários. Quási em frente.
A reconstituição da construção de um barco rabelo. E pequeninos rabelos.
Cerâmica portuguesa. Amostras de painéis construídos por encomenda.
Os nossos brinquedos dos anos 40, 50, 60...Pistolas de fulminantes, carros de chapa, louças para as meninas, futuras donas de casa; piascas Rapa, Tira, Deixa, Põe, das festas de Natal. Para jogarmos com pinhões.
Estojos de lápis de cor, em chapa, da Molin. O J. Peixoto quási chorou ao vê-los, recordando-lhe os tempos em que trabalhou nesta empresa.
E as velharias são também muitas e sortidas. Máquinas de costura vi três marcas: Pfaff, Singer e Oliva.


A Pandeireta das romarias. Quási era obrigatória a sua compra pelos excursionistas de grupos de amigos - as Caixas de 20 Amigos - que no final de um ano de quotização
confraternizavam organizando uma excursão. O regresso era uma festa nas camionetas, que todas as empresas de transportes rodoviáros tinham para o efeito. E também servia para angariar a gorgeta para o motorista.

Um pormenor da Loja-Galeria.
Lápis fabricados pela Viarco e comercializados pela Molin. Enquanto o Presidente J. Teixeira conversava com os familiares, o J. Peixoto puxava os lápis para fora para que o Boneco fotográfico melhor reproduzisse o expositor. Em madeira, claro. Ao lado, cones, cubos e outros elementos geométricos com que os nossos professores se serviam para ensinar os meninos. Como era bom sentir as peças e formar figuras
Material que as Escolas possuiam e nós no Quadro Preto utilizávamos.
Miniaturas de azulejos.
Galos de Barcelos tradicionais e mais futuristas. Quadros reproduzindos os azulejos da Estação de S. Bento. Loiças.
Um mundo de lembranças, mas também da criatividade artesanal portuguesa.
Já agora, o mínimo que posso fazer é deixar o contacto: arturazevedo@iol.pt