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sábado, 2 de abril de 2011

71 - Igreja das Almas e de São José das Taipas

Incluída no Património Histórico e Monumental da Cidade, que o é também da Humanidade, está situada a sul da Cordoaria, a dois passos da Torre dos Clérigos, do antigo Aljube, do Convento de S. Bento e da Igreja de N. Sra. da Vitória, da Universidade, da Lello, do Hospital de Santo António, do Palácio da Justiça, e no início da Rua Dr. Barbosa de Castro que desde 1679 até 1920 se chamou Rua do Calvário e onde nasceu Almeida Garrett.

Enfim, um nunca mais acabar de Património, faltando referir muito dele, numa área talvez de 1 km2. Por tanto, por conseguinte, por consequencia, muitas vezes ando por aqui.

Achava estranho nunca ter encontrado esta Igreja aberta, fosse qual fosse a hora do dia e da semana que por aqui passava. Gostava de a conhecer há muito. Até que a casualidade de um passeio não programado, a vi aberta.

Estava à porta semi-aberta um grupo de jovens. Com licença, pedi, e aventurei-me na Igreja. Posteriormente, fiquei a saber que esses jovens, estudantes através da Árvore, estão a proceder a limpezas para conservação. E minorar o custo de restauros. Valeram-me e muito as informações que a Mestra me transmitiu sobre um pouco da história do Templo, que complementaram o que li e agora reli, escrito sobre ele. Com excepção da página do http://www.portoxxi.com não vale a pena percorrer a net. Parece um edifício clandestino. Mas sigamos. A construção da Igreja foi iniciada em 1795 sendo o projecto de Carlos da Cruz Amarante. Talvez por falta de capital e também pelos acontecimentos políticos que se viveram desde o início do séc. XIX, só foi concluída em 1878. O exterior é em estilo barroco e o interior em neo-clássico de características portuenses. Também li que é neo-clássico italiano. Embora tudo que é estrangeiro é que é bom (em qualquer parte do mundo) não podia deixar de referir o que me dá mais prazer. Portuense. Está errado ? Ponto final e siga.
Na capela-mor destaque para um grandioso retábulo representando Nª. Sª. das Almas. Presume a minha gentil cicerone de ocasião, que será do séc. XIX desconhecendo a origem e o autor.
Também em destaque as imagens de S. José e S. Nicolau Tolentino. Li (mas posterior à visita) que existem uma tela antiga da escola alemá e um famoso presépio. Casualmente descobri que este esteve exposto no Hospital de S. João aquando das comemorações dos 50 anos da sua existencia. Portanto, há 2 ou 3 anos. Não custa nada regressar à Igreja, aproveitando esta ocasião única de estar aberta (?) e tentar ver as peças. Se é que lá estarão ...
Nas laterais estão 4 altares representando as Senhoras das Dores, da Saúde, da Conceição e Santo António. Intercalados, 2 púlpitos.
Sabia da existencia de um painel representando o Desastre da Ponte das Barcas - As Alminhas -. Embora com má luz, consegui registá-lo. Julgava que era maior, mas a Mestra informou-me que até é bastante grande, olhando à característica do material em que está pintado. Cobre, se bem percebi.

Este painel esteve na Ribeira até ser substituido em 1897 pelo actual, em Bronze, do Teixeira Lopes, Pai.

A Irmandade das Almas de S. José das Taipas, fundada em 1780 e que resultou da fusão das de S. Nicolau Tolentino das Almas e de S. José das Taipas, congregou muitas simpatias das gentes da Ribeira. Por isso confiaram-lhe em 1810, o encargo do sufrágio dos Mortos do Desastre da Ponte das Barcas, ocorrido em 29 de Março de 1809. E da recolha de esmolas.

Pelo muito que conseguiram (de esmolas), a confraria da irmandade da Capela das Almas, de Santa Catarina, exigiu "distribuição" das mesmas. Questão reles por motivos de ganância, como escreveu alguém na época. Mas parece que foi polémica durantes muitos anos.

A partir dessa data (1810), daqui saiu todos os anos uma procissão em direcção à Ribeira, até 1909. Primeiro, da Capela - de que falarei (escreverei) adiante - e depois da Igreja. Deixou de se realizar por causa da implantação de República. Ora aqui está uma coisa que não entendo. Primeiro, porque a República foi implantada em 5 de Outubro de 1910. Segundo, o que tinha a ver um caso com o outro. Mas nós vivemos a 100 anos de distância e a história é história.

Fiquei a saber que, provavelmente pela mudança de regime, a Igreja só começou a abrir a porta, uma vez por ano: No dia 29 de Março. Talvez por isso, encontrei umas simples flores (ver a foto), ainda viçosas, na ara do altar. Uma homenagem prestada três dias antes da minha visita, com 200 anos de história. Toquei as flores e senti uma certa emoção. As gentes do Porto nunca esquece os seus.

Agora a parte da história mais antiga.


A Irmandade actual, depois da fusão, reunia-se na capela privativa da família Pachecos, fundada em 1666. Com o desenvolvimento do culto das Almas, foi necessário construir-se um novo templo. Daqui se partiu para a actual Igreja mais conhecida pelos Portuenses como a de S. José das Taipas. Na foto o Altar, cuja imagem não sei quem representa. Mas presumo que será Nª. Sª. das Dores.


Será que se chama zimbório a este cume da Capela ? (A primeira vez que ouvi esta palavra, se a memória já alzeimada não me falha, veio de meu Pai olhando e apontando para o Templo de Santa Luzia em Viana do Castelo). É magnífico.
No pátio ligado à Capela e na parede que fará parte da Igreja vê-se perfeitamente esta inscrição datada.
Este é o portal de ligação da Capela com o Pátio. Muitas "pedras" por ali, com lixo à mistura. Não devo mostrar tudo que vi. Afinal fui um invasor. Mas há limpezas na Capela e na Igreja. Não esqueçamos.
Nesse - neste - pátio, entre as pedras, encontra-se esta Pia de Água Benta. A que ou a quem pertenceriam ? Mas estarei certo ao escrever isto ?
Uma jovem em trabalho de limpeza. O grupo a que me referi de início está espalhado por vários espaços. São estudantes na Cooperativa Árvore. Trabalhando, aprendendo. A Mestra é duma simpatia tremenda. Tenho de lá voltar e aprender. Se ela achar que mereço ser aluno ocasional.

Um apontamento. Não me senti muito bem, fotografava mas imaginava que roubava. Senti como que invadindo propriedade privada, alerta, esperando a chegada dos guardas.

Afinal, agora olho para trás e não parece que há 2 dias alguém tivesse intenções de me caçar. Sensações. Porque já as vivi ( Igreja de Rio Tinto, de Ermezinde, Palácio do Freixo, Casa da Câmara, etc.)

Mas gato escaldado de água fria tem medo.

Talvez compreenda agora, depois da lição que recebi, o porquê desta Igreja estar sempre fechada.