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domingo, 5 de junho de 2011

76 - Igreja de Nossa Senhora da Lapa

A Lapa, como nós Portuenses conhecemos o sítio, só o é desde a construção da Igreja. Antigamente chamava-se Monte de Germalde e também de Santo Ovídio. Este último nome perdurou muito tempo, pois a minha avó referia-se ainda a ele. Mas é da história que no Campo de Santo Ovídio, no séc. XVIII, João de Almada (grande homem com enorme visão a quem a Cidade muito ficou a dever - e ainda deve - pelo engrandecimento e desenvolvimento do nosso Porto) mandou abrir uma larga Praça a onde mais tarde se veio a construir um Quartel Militar, o actual Quartel General, e que teve repercussões históricas assinaláveis. Hoje faz paredes meias com a Igreja da Lapa. O Culto de Nossa Senhora da Lapa é muito antigo. Teve e acho que ainda tem, invocações espalhadas pelo Mundo, levadas pelos nossos marinheiros, tendo especialmente proliferado no Brasil. Conta a lenda, que no sopé deste Monte de Germalde, existia uma Fonte da invocação de Nossa Senhora da Lapa e uma imagem a que os moradores locais prestavam culto. Bom, agora entram os meus devaneios. Há aqui duas Fontes. Uma delas na Igreja. Chamada Poço. Lá chegarei. Outra, no caminho que vai dar às Águas Férreas. Provàvelmente será uma canalização de Salgueiros ou de Arca D'Água. E nada terá a ver com a Fonte original da lenda. Mas especular não custa. Hoje ainda está aqui uma granítica Fonte, cuja idade desconheço. Apenas sei que está encostada aos terrenos baixos do Hospital (da Venerável Irmandade da Ordem da Lapa). Por conseguinte, será no sopé do tal Monte de Germalde ? Caros amigos e leitores. Se souberam mais do que isto, é só comentar. O que agradeço desde já.

Uma foto "sacada" já não sei de que blogue, (não liguem à assinatura pois é um roubo e não sei a quem) mas é de certeza de um amigo Portuense, mostra-nos a Igreja talvez há coisa de 80 anos. Comparem-na com a foto inicial. À esquerda é a agora Rua de Antero de Quental, antiga estrada para Braga. Que tinha a sua origem em Carlos Alberto (antigo Largo dos Ferradores). À direita, o que seria a futura Escola de hoje, não estava totalmente construída. As árvores ainda estavam em fase de crescimento. Mas vamos à história, que eu respiguei aqui e ali, a maior parte do site do meu amigo António Amen (http://amen.no.sapo.pt/) por sua vez apanhado de um documento do Prof. Dr. Francisco Ribeiro da Silva.
Como sempre, a história pode ser verdadeira ou não. Depende do que há escrito ou da interpretação que fazemos dela. Sendo assim, diz-se que a Igreja deveria ser implantada num local onde fosse visível de longe para os peregrinos se orientarem. Isto porque o verdadeiro culto de Nossa Senhora da Lapa foi instituído em Portugal por um cónego de S. Paulo, do Brasil, Padre Ângelo de Sequeira, nos meados do séc. XVIII e cujos sermões em louvor de Nª Srª da Lapa levou o povo de Germalde a aumentar a sua devoção. E assim ficou o local como Santuário. No qual se deveria construir uma Igreja.O Padre Ângelo de Sequeira tomou a iniciativa de construir uma Igreja e um Seminário no local da Fonte. Por desarranjos de comunicação, outra especulação minha, alguém pensou que deveria ser no Monte de Santa Catarina - algures nas actuais Rua do Paraíso e elevada até à Rua de Santa Catarina, um morro com muita pedra e também água - . Ainda lá está a Fonte de Vila Parda. (Ver neste blogue a Rua do Bonjardim). A ideia foi abandonada mas já havia muita pedra cortada que foi trazida aqui para o Monte que só por casualidade acabou de ser o local da construção da Igreja. História complexa de donos de terrenos e de padres, mas que neste ponto preciso eram terrenos camarários. Logo, penso eu, ninguém estava disposto a dar ao Brasileiro Padre Ângelo terrenos para a construção da Igreja. Que se amanhasse com a Câmara. E isso aconteceu. Começou por se construir uma pequena Capela, iniciada em 7 de Janeiro de 1755, conhecida pela Capela de Nossa Senhora da Lapa das Confissões, porque o tal padre era bom nestas coisas e conseguia que os bandoleiros que neste sítio existiam "aos montes" devolvessem aos proprietários os seus roubos depois da confissão.
A Imagem da Senhora da Lapa trazida pelo Padre, do Brasil e que entretanto esteve guardada na Igreja de Santa Clara, veio em procissão até à nova Capela em 10 de Março. A sua construção correu em ritmo acelerado, pois então. Mas já era pequena a Capela para tantos devotos que ali acorriam, especialmente para ouvir o Padre Ângelo.


Então há que erguer uma nova Igreja. Desde a data duvidosa do lançamento da primeira pedra em 17 de Julho de 1756 e 5 de Outubro de 1757, data da encomenda do risco ao Arquitecto Gonçalo Pereira, muita tinta correu. Porque este arquitecto abandonou a obra por discordar da empreitada. Seguiu-a João Clamer Strovel, mas foi reprovado. Finalmente José Figueiredo Seixas toma conta dela sendo lançado o Arco da Capela-Mor em 22 de Setembro de 1758. A escadaria completada em 1826. A Torre Poente em 1855 e a Nascente em 1863. Acho que o homem nunca chegou a ver a sua obra completa. Mas ficou para a história da Arquitectura do Porto.

Na fachada 4 estátuas em granito reproduzindo figuras bíblicas: Judite, Ester, Raquel, Sara. Na Torre Nascente esteve um relógio do séc. XIX, guardado na Sala dos Quadros. Dizem.
A fachada está construída com cerca de 2.720 pedras de granito. Imagine-se a pedra que foi precisa para construir todo o conjunto, que podem ver na foto de 4x1, lá em acima.
Duas portas monumentais nos separam do interior da Igreja em estilo Neo-clássico.
A Irmandade de Nossa Senhora da Lapa foi instituída em 1755 pelo Papa Bento XIV. Dizem as as línguas do Povo, que o dinheiro e outros valores conseguidos e arrecadados pela Irmandade, foram reclamados por Santo Ildefonso. Esta Irmandade deveria julgar-se a "dona dos reinos". Não lhe chegou bater-se contra os Clérigos de Nazoni, (o grande arquitecto do Porto, da sua Torre, Igreja e Hospital,) cujas obras conseguiu fazer demorar anos a fio até se concretizarem, como se voltou depois para esta Irmandade da Senhora da Lapa. Claro que daqui houve umas fugas de dinheiro e outros mal geridos. Mas a história das irmandades está cheia de coisas do género. E que chegaram até aos nosso dias. Ponto.






Aspecto do interior da Igreja e do Altar-Mor. De cada lado. obras de valor
No altar-mor a imagem de Nossa Senhora da Lapa. Li que é do século XVIII. Será a mesma que o Padre Ângelo trouxe nos seus braços para Portugal ? À direita, o Cadeiral - imagem péssima, pois a igreja estava às escuras e o fotógrafo (eu mesmo) não soube usar o que tinha à mão, - que parece ter vindo do antigo Convento dos Loios. Que depois foi chamado de Palácio das Cardosas. Agora futuro Hotel. Entre o desleixo a que a Cidade está votada e a utilização do que temos, que se use o que poder ser, mesmo com capitais estrangeiros.
À esquerda, na Capela-Mor, está o "Monumento" que guarda em cofre o Coração do nosso D. Pedro IV. O Imperador do Brasil, o Primeiro. Nosso, da Cidade, pois claro. Haverá alguma Cidade no Mundo, Republicana de quatro costados e de muitas revoluções, que adore um Rei que foi Constituicionalista ? Sua esposa cumpriu os desejos do Imperador/Rei. E a sempre Leal, depois de Mui Nobre e Invicta, a Cidade do Porto partilha com seus irmãos do lado de lá do Atlântico este Coração. Mas agora tem de haver um reparo. Que me foi dado a notar por um trabalhador da Igreja. Não, o líquido formol onde está o coração do Rei não é mudado de 4 em 4 anos, conforme diz a lenda. Não é preciso. Mas se quiser vê-lo, escreve à Câmara Municipal. Pode ser que permitam autorizar a abrir o Monumento e a visualizar o Cofre onde está depositado o Coração...
Desfaço-me das emoções e volto-me para os vitrais. Os que estão ao nível das janelas do chão são de 1927, de Maumejean, Paris. A mim não me diz nada esta autoria.
Os do coro alto são de 1931, de R. Leone, Lisboa. Podem ser grandes artistas. Não fui investigar. Mas que os Vitrais são bonitos, não há dúvidas.
Nas penumbras, pode-se ver o Órgão de Tubos, o mais importante da Península Ibérica. Montado em 1995 por Georg Jann, o mais conceituado mestre orgânico da Europa. Dizem.





Aspecto da Igreja e de alguns altares.







Acho que este grupo se chamará Senhor dos Passos. Mas sou leigo. Me desculpem se estou errado.

Lá em cima, escrevi sobre um Poço. Pois ele aqui está e a sua Fonte. Na sala chamada do Poço. Não sei se tem a ver com a lenda antiga. Não há ninguém que nos explique sobre a sua origem. Sendo assim, regista-se a imagem e siga em frente.






Na Sala do Poço, na parede, uns painéis sobre Nossa Senhora.

No seguimento do caminho para a Sacristia, um Cristo. Diz-se um que Irmão da Confraria pôs dinheiro do seu bolso para vestir um Cristo na Cruz, que andava -não sei por onde - despido. Séc. XVIII. Será este ? Só faço conjecturas.


Na Sacristia, este altar com outro Cristo. Pobre de mim, que só andei por ali, olhando. É a minha maneira de ver o que me rodeia. Sem cicerones.

Ainda na Sacristia, três vitrais alusivos a Nossa Senhora desenhados por De Francesco e realizados em Itália em 1993. Para mim, leigo nestas coisas, o vitral da esquerda nada tem a ver com os outros. Refiro-me às cores. Mas quem sou eu para entender vitrais, desenhos, cores ?


Um aspecto parcial da Sacristia. Li que está lá um Arcaz do séc. XVIII em pau santo e pau rosa. Talvez proveniente do Convento de São Bento d'Avé Maria. Eu pecador me confesso. Vi sim, um espécie de armário, aberto, com vestes que os padres usam. Achei sacrílego fotografar. Se estas vestes estavam guardadas no tal Arcaz, fico com pena de não as ter registado. Desculpem este leigo. Que só sabe das coisas depois de fotografar.