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terça-feira, 29 de novembro de 2011

105 - Um dia com azia qualquer um tem

Exma Senhora Directora
da Fundação...

Fiquei surpreso quando V. Exª me acusou de desvendar para o exterior (entendi, creio, o mundo global da internet.) as obras que estão expostas na Fundação.

Na altura da minha visita, expliquei o que faço em favor da minha Cidade, tentando dá-la a conhecer ao Mundo. Nunca com fins comerciais. Ofereci sempre as minhas possibilidades fotográficas às Juntas de Freguesia e outros organismos, mas até hoje nenhum (nenhuma) se interessou. Como escrevi, sem quaisquer outros interesses que não sejam os da divulgação da minha Cidade.

Vou caminhando sózinho, lendo aqui e acolá o que consigo, mas como Portuense, aliado ao prazer de fotografar e bisbilhotar, acho-me no dever de divulgar o que temos de bom. De mau também, mas isso são outras crónicas.

V. Exªa disse-me que escrevi um erro grave sobre a proprietária do edifício. Teria escrito que era da Câmara. Acontece que verifiquei os meus escritos e não vejo qualquer referência a esta afirmação.

No entanto, devo dizer, que basta ler numa edição da Câmara sobre o Património da Freguesia da ... o seguinte:

Casa dos ....


... séc. XVII-XVIII /1978 / Pedro Ramalho, arqº (reabilitação)


Casa nobre típica do Porto, do período barroco, apresenta linhas contidas, nobilitadas no eixo central com o portal e brazão-de-armas (esquartelado: I Coutinho, II Pereira, III Andrade, IV Bandeira). É provàvel que na origem tenha estado o arcediago Luís Magalhães da Costa, instituidor do Morgado de Oliveira do Douro e avô materno de António Mateus Freire de Andrade Coutinho Bandeira, Fidalgo da Casa Real e membro da Junta do Governo do Reino (1808). A Casa manteve-se na sua descendência, nos Barões de Pombeiro de Riba-Vizela, que a venderam à Câmara Municipal do Porto. Actualmente alberga a Fundação ...

Exmª. Ssenhora Directora.
Nos vários sites da internete estão escritos o que os Museus, Fundações, Igrejas, contêm. Não será por eu fotografar que os "bandidos" vão assaltá-las. Coitados do Louvre, do Prado, do Metropolitan, da Sagrada Família, da Capela Sistina, enfim, se resolvessem seguir os pensamentos das nossas instituições.

Então fechem-se todas as portas, coloquem-se pelotões de segurança, não deixem ninguém entrar e assim as obras que os artistas e coleccionadores produziram e adquiriram estarão, talvez, em segurança. O povo de hoje não as conhecerá, e ficarão todas após a morte do último humano, religiosamente sepultadas entre quatro paredes. E quem sabe, vindos de Marte ou Saturno chegue aqui alguém que vai arquelogicamente desvendar que houve povos que fizeram e guardaram umas coisitas fechadas a sete chaves para ninguém saber que existiram.

Quem sabe, um dia vão roubar Conímbriga, ou a Capela dos Ossos, ou o Mosteiro dos Jerónimos e vendê-los para um outro sistema planetário.

Mas ninguém se importa com o que os ladrões dos Franceses roubaram durante as Invasões. Nem com os roubos que aconteceram há uma dezena anos na Bélgica e há dias na América (ou Alemanha, já não me lembro bem), de obras portuguesas valiosíssimas. Saberá alguém o paradouro dessas obras ? Ouvimos ou lêmos em que pé estão as investigações ?

Exmªa Senhora Directora
O nosso Património está esquecido e não é divulgado. O turista acidental vem visitar a Sé e olhar a Torre dos Clérigos. Tomar um Café no Majestic e fotografar o interior da Lello (que agora já é proíbido a não ser com pedidos prévios para o fazer das 8 às 9 horas da manhã. E acho muito bem). Já vai indo à Estação de S. Bento e almoçar à Ribeira. E o resto do nosso património ? Vamos continuar a escondê-lo ?

Agora até o miradouro por detrás da Igreja de Nª Sraª da Vitória está vedado. Propriedade particular.

Tenho feito a minha parte e continuarei a fazê-lo. Não me tenho dado mal. Talvez por isso, levei amigos a interessarem-se por concertos na Casa da Música, a visitar os Jardins do Palácio, olhar para o interior das nossas Igrejas seculares, a admirar Teixeira Lopes, Silva Porto, Marques da Silva, Garret e Camilo e Eça e Ferreira de Castro e Agustina e Sofia e Manoel de Oliveira e Rui Veloso. E a viver o nosso S. João, a comer uma sardinha no pão e a olhar as Alminhas da Ponte.

Peço-lhe imensa desculpa, Exmª Senhora Directora, pelos meus desabafos.

Queira receber os meus cumprimentos