Pesquisar

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

146 - A Rua de Sá da Bandeira

A Rua de Sá da Bandeira é para mim a artéria da Cidade do Porto, a par com o espaço Praça da Liberdade-Avenida dos Aliados, que mais belos edifícios possui. Vi terminá-la e tenho boas recordações dela.
É uma homenagem a Sá da Bandeira, o Maneta, (1795 - 1876), figura proeminente da história de Portugal do séc. XIX, grande combatente tanto na Guerra Peninsular (Invasões Napoleónicas) como nas Lutas Liberais, ao lado de D. Pedro IV. Para os curiosos, ver a sua vida em http://www.arqnet.pt/dicionario/sabandeira1m.html
A Rua começou a ser aberta em 1836, de Sul para Norte, digamos assim, através dos terrenos abandonados do Convento dos Congregados, que fugiram quando D. Pedro IV tomou a Cidade.
A intenção era a abertura de uma artéria que ligasse a Praça de D. Pedro, hoje Praça da Liberdade, à Rua do Bonjardim que estava ali próxima. Actualmente a artéria chama-se Rua de Sampaio Bruno (José Pereira de Sampaio, 1857 - 1915, de pseudónimo Bruno e assim ficou para a posteridade este portuense, escritor, filósofo e ensaísta). Foi o início da Rua de Sá da Bandeira, depois chamou-se Travessa.
As primeiras casas começaram a ser construidas em 1843 e as traseiras ficaram voltadas para a Viela dos Congregados, hoje Travessa, que era extensa. A única entrada desta artéria vê-se à direita na foto e nela estavam instalados Restaurantes e Tascas que serviam boa comida a preços baixos e "Fora de Horas". A rapaziada do meu tempo deve lembrar-se das Tripas e dos Bifes da Flor dos Congregados, da Viúva ou do Paris, depois do cinema ou do teatro.
Havia também o Girassol frequentado pela gente do teatro e que oferecia um jantar ao "jogador que marcasse o primeiro golo" nos desafios que Porto e Salgueiros realizavam em "casa". Nessa altura, meados e finais dos anos 50 do século passado, um jantar à maneira deveria ficar pelos 20 escudos. O que era muito bom, se olharmos que um copo de vinho, o célebre negus, custava 5 tostões.

Hoje, o actual início da Rua é junto à Igreja dos Congregados e só muito mais tarde foi iniciada a sua abertura, concluída em 1916, quando se começaram as obras para a abertura da Avenida dos Aliados. Anteriormente parece-me que se incluía esta parte na velha Rua do Bonjardim.

O edifício do lado direito foi a sede do Banco Borges e Irmão, transferida do edifício que tinham no gaveto do Bonjardim com os Congregados. Num dos andares da frente voltada para a Praça da Liberdade mesmo no gaveto das Ruas de Sá da Bandeira à esquerda e de Santo António (ou 31 de Janeiro) à direita ficava a delegação de um Jornal lisboeta cujo título não me lembro.

Nesse edifício, à esquerda na foto, onde se encontram as actuais instalações da Sousa Ribeiro, era o Café Excelsior, também conhecido pelo Café dos Ciclistas.

Presumo que a Rua nessa altura iria pouco além do local onde está o Teatro Sá da Bandeira. Em 21 de Fevereiro de 1858 foi inaugurado o Teatro Baquet com entrada pela Rua de Santo António (actual 31 de Janeiro) mas com ligação por uma artéria estreita - hoje fechada com um portão a cadeado - à Rua Sá da Bandeira. O Teatro Baquet ficou destruído num incêndio em 20 de Março de 1888 e no mesmo local, creio que nos princípios de 1890 foram inaugurados os Armazéns Hermínios, com fachada e entrada também pela Rua de Sá da Bandeira. Hoje esse local tem um prédio - na minha opinião mamarracho, de frontaria toda espelhada, contrastando com a arquitectura local - que alberga o Hotel Teatro.

No local do edifício do Teatro Sá da Bandeira construiu-se primitivamente um barracão de madeira como Teatro de Cavalinhos, em 4 de Agosto de 1855. Em 1867 foi demolido para ser construído um em pedra que 10 anos depois foi substituído pelo actual edifício. Mas a fachada para esta rua só foi construída em finais da década de 1870. Chamava-se Teatro-Circo do Príncipe Real tendo sido alterado o nome após a revolução de 5 de Outubro de 1910.

Teatro de grande importância na vida cultural da cidade - era o único na altura pois o Real Teatro de S. João tinha ardido e a construção do novo e actual Teatro Nacional de S. João só em 1920 foi inaugurado - teve como empresário o grande Arnaldo Rocha Brito, o livre-pensador, o "Bonito" (bonito, bonito, é o Rocha Brito, diziam as senhoras numa rábula de revista) desde 1910 até à sua morte em 1970.

No dia dos meus 17 anos os meus pais ofertaram-me o almoço no Abadia e uma entrada para a Revista à Portuguesa, cujo nome não me lembro, sendo cabeça de cartaz Camilo de Oliveira. A entrada não era permitida a menores de 18 anos e constava-se que no ano seguinte entraria em vigor a lei que proibia a prostituição. Nunca a canção de Gilbert Becaud, de 1961, Et Maintenant foi tão ouvida e glosada.

Em frente, fazendo esquina com a Rua do Bonjardim, o edifício de A Brazileira, creio que, tal qual o vemos hoje é de 1938. Foi inicialmente concebido pelo arquitecto Oliveira Ferreira (1884 - 1957) julgo que em 1914.
A Brazileira foi fundada em 4 de Maio de 1903 por Adriano Telles, farmacêutico do Porto, tendo ainda jovem emigrado para o Brasil, enriquecendo com o negócio do café. Regressado, montou uma torrefacção e oferecia uma chávena de café a quem comprasse uma saquinho dele. Adquiriu os prédios à volta até chegar ao edifício de hoje. A Sala Pequena foi comprada há poucos anos pelos Caffè di Roma e a Sala Grande é Restaurante.
Era o Café preferido pelos jogadores de futebol da Cidade e pelos artistas lisboetas e não só que se apresentavam no Teatro Sá da Bandeira.

De costas para o Teatro e divididos pela Rua de Sampaio Bruno, à esquerda o edifício do antigo-relativamente-recente Banco Pinto de Magalhães. Nacionalizado após o 25 de Abril de 1974, várias forças se conjugaram para o levar à falência. Sem o primitivo dono, o saudoso, para mim, Afonso Pinto de Magalhães.
Para os interssados ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_Pinto_de_Magalh%C3%A3es e especialmente para os amigos brasileiros http://pt.wikipedia.org/wiki/Banco_Pinto_Magalh%C3%A3es

Edifício mamarracho, cheio de espelhados, foi construído, se bem me lembro, na década de 60. Não sei se o anterior foi o que tinha na frente voltada para Sá da Bandeira uma fonte, construída após a abertura do troço da actual Sampaio Bruno.

Do lado direito, o edifício onde se alojou pimitivamente o Banco Borges (antes, casa bancária).  Por baixo existia o Bar Borges, local preferido de "africanistas e brasileiros" e por cima, do lado da actual Sampaio Bruno, o Hotel Aliança. Destes comércios ainda me lembro das fachadas.
O edifício antigo e a Fonte anteriormente referida

Só em 1876 continuou a abertura da Rua. A de Passos Manuel já existia desde 1874 e era - é - a primeira à direita de quem sobe.
Pensou-se entretanto na abertura de um espaço que ligasse a Rua de Passos Manuel com a Avenida dos Aliados. Em 1944 nasce o projecto para a abertura da Praça D. João I. Incluía de cada lado da Praça própriamente dito, a colocação das Estátuas do Rei D. João I e da Rainha D. Filipa de Lencastre. Figuras queridas da Cidade desde o séc. XIV. Mas Salazar proíbiu, só porque Álvaro Cunhal escreveu algo sobre o Rei. Pelo menos é o que se escreve. Os pedestais estiveram anos sem dono até 1957, onde foram colocados "Os Córceis" da autoria de João Fragoso.

A sul da Praça ergue-se o edifício Rialto, inaugurado em finais da década de 40. É o conhecido e simbólico arranha-ceus da Cidade com 8 andares, projectado por Rogério de Azevedo (1988 - 1983). No rés-do-chão e cave, o Café Rialto, luxuoso, foi projectado por Artur Andrade (1913 - 2005). No interior, murais de Guilherme Camarinha, Dórdio Gomes e Abel Salazar. Um baixo relevo de João Fragoso desapareceu quando o Café foi comprado para nele se instalar uma agencia bancária. Foi o que li, pois nunca lá mais entrei.
Na cave eram famosos os sofás em couro gravado, elegantes e confortáveis, onde a malta podia estudar mas só até às 17 horas, Hora do Chá.

Em frente, nascia o edifício sede do ex-Banco Português do Atlântico, de Artur Cupertino de Miranda (1892 - 1988) inaugurado em 1951. Possuí-a imensas obras de arte, vi algumas. Depois de adquirido por outro banco não sei se ainda existem.

Em frente ao edifício passa uma artéria que liga Bonjardim a Sá da Bandeira. Por baixo existiam instalações do Banco com uma espécie de multibanco actual, através do qual eram permitidas fazer transações; uma Cervejaria pertencente ao Carvalho, ex-jogador do Porto e depois do Salgueiros; e um Café, o Odin, chamado dos Salgueiristas. Aos sábados à tarde, eu menino, era companhia do meu pai, vindos desde o Marquês a pé, por Santa Catarina, dobrando Gonçalo Cristovão e embicando a Sá da Bandeira, pela parte nova. No retorno era o mesmo caminho.
Naquela altura não me custava subir, principalmente depois de um lanche.

A Poente a Praça ganhou o Teatro Rivoli, que quanto me lembro. só era Cinema. Ganhou algum Teatro mas só quando Filipe la Féria o alugou passou a ter Teatro de casas cheias. Já me referi ao edifício quando "tratei" da Rua do Bonjardim. A nascente, formando ângulo, por acaso redondo, entre as Ruas Sá da Bandeira e Passos Manuel, é construído o edifício da Confidente, a maior organização do País na Compra e Venda de Propriedades. Assim diziam os calendários e cartazes promocionais e anúncios na Rádio.
Pois o dono, o Antero da Confidente como era conhecido, no largo da Praça D. João I mandou construir uma Fonte Luminosa. Poucas vezes a vi, pois raramente o meu pai ía à Baixa à noite. A Praça no piso central também teve uma rosa dos ventos, colorida, linda. Depois de várias reformas, está feia e serve para armar barracas principalmente no Natal. A Fonte, não sei se luminosa, está no Jardim da Praça do Marquês de Pombal. E a rosa dos ventos ? sei lá...

Em 1880 a Rua Sá da Bandeira chega à Rua Formosa, chamada antigamente Rua da Neta, já aberta nessa altura. Alguns graníticos e belos edifícios nem todos bem conservados, acompanham a Rua.

Foto de Agosto de 2007 da Viela da Neta
Mas para chegar à Rua Formosa (da Neta antigamente) é destruída a Viela da Neta, sobrando hoje uma pequena parte. Parece que ninguém conheceu a Neta e o porquê de assim se chamarem as artérias. Escreveu Andrea da Cunha Freitas, o velho historiador do Porto (1912 - 2000) que já eram conhecidos estes nomes desde 1774 referidos nuns documentos como uma rua e viela do Pai Ambrósio da Neta.
Essa famosa Viela vinha desde lá de baixo próximo do Bonjardim e acabava nas Liceiras, onde nas trazeiras da sua residencia no Porto, ao Largo da Trindade, Dona Antónia Ferreira, a famosa Ferreirinha, a dos Vinhos (1811 - 1896) vendia produtos das suas quintas.
A Viela, agora conhecida como Travessa da Rua Formosa, para além duma grande tasca/restaurante bem jeitoso e antigo, albergava as traseiras e armazéns de duas casas comerciais importantes da Cidade: a Casa Forte, "Forte nos sortidos, fraca nos preços" era o slogan, e onde chegou a abrir uma loja de artigos de desporto e campismo; e a Lã Maria, uma espécie de tem tudo a preços familiares. As casas comerciais fecharam nos anos 80/90, os edifícios degradaram-se até ter acontecido um desmoronamento que obrigou ao encerramento da Viela.

Na esquina das Ruas Formosa e Sá da Bandeira, o edifício Singer. Já não existe a Singer nem o oculista que lhe seguiu; agora, está tudo fechado, incluindo a Villares do célebre Samarra, grande benemérito do Porto (clube) do lado da Rua Formosa.

Do outro lado da Rua, a velha Ourivesaria do Bolhão com o relógio parado há anos, num dos tais edifícios degradados, que pelo menos exteriormente, é um dos poucos nesse estado ruinoso. Em frente o edifício Tamegão, assim conhecido porque nos seus baixos existia a Casa com o mesmo nome que talvez tenha sido a maior do Porto na venda de cutalerias, louças, etc.
Ao lado, o Solar do Conde de Bolhão, edificado em meados do séc. XIX, a mando de António Alves de Sousa Guimarães. Para além de intensa actividade social que dentro de portas se desenrolou, aqui foi recebida a Rainha D. Maria II e a família real. Num anexo dos Jardins foi construída uma das primeiras cinematecas do País.
No início do séc. XX foi vendido à Litografia do Bolhão, que para o adaptar à indústia, destruiu uma parte do res-dochão e dos jardins. Esta gráfica funcionou até princípios da década de 90.
Li já há uns anos que o edifício entrou em recuperação para albergar a Academia Contemporânea do Espéctaculo e o Teatro do Bolhão. Uma fase foi concluída, mas parece que faltavam 300 mil euros para completar o valor de fundos comunitários para concluir a obra. Presumo que foi tudo por água abaixo.
Famosa é a estátua de Mercúrio colocada lá no alto.
Mais um mamarracho espelhado do lado esquerdo da Rua de quem sobe, cujo novo troço até à Rua de Fernandes Tomás começou a ser aberto em 1904.
Toda a planta baixa desses edifícios são comércios, destacando-se as mercearias finas da Casa Ramos e da Casa Chinesa talvez dos anos 50. Um pouco acima, a Casa Christina cujo início é de 1804 na antiga Rua do Bispo, em Liceiras, com torrefação de Cafés e Fábrica de Chocolates. Mudou-se para a Rua Sá da Bandeira em 1920.

Do outro lado é o Mercado do Bolhão, cuja origem remonta a 1839. Depois de várias adaptações chega ao edifício que hoje conhecemos, construído em 1914, considerado uma obra de vanguarda para a época. Na década de 40 foi construído o piso superior que liga as Ruas de Alexandre Braga, a nascente e Sá da Bandeira.
Toda esta zona assentava num lameiro, atravessado por um riacho que neste local formava uma bolha de água e daí veio o nome para o Mercado do Bolhão.
Está há anos degradado a precisar de urgentes reformas, mas não se ata nem desata com a sua recuperação.

A rua parou na de Fernandes Tomás e só nos anos 50 do séc. XX se vai prolongar até à de Gonçalo Cristovão. Eram terrenos agrícolas, e existiam duas fábricas importantes: uma tecelagem cujo nome desconheço e a Fundição do Bolhão, de 1848. Nela se produziu uma memória em honra de D. Pedro V, o Bem Amado (1837-1861), - creio que se encontra em Leça da Palmeira - colocada à entrada do Mercado do lado de Fernandes Tomás; e a coroa que encima a torre sineira do Santuário de Fátima, com 7 mil quilos.
Destaca-se o edifícío do Palácio do Comércio contruído entre 1944 e 1954 (que ocupa todo um quarteirão e é o centro de quatro ruas) projecto dos arquitetos David Moreira da Silva (1909-2002) e sua esposa Maria José Marques da Silva (1914-1996), para o industrial Delfim Ferreira.
No topo uma escultura denominada O Triunfo da Indústria do mestre Henrique Moreira (1890 - 1979).

O troço entre Fernandes Tomás até ao final em Gonçalo de Cristovão, atravessando a Rua da Firmeza.

Vários edifícios vão sendo construídos.

Pormenores interiores e exteriores

Na esquina da Rua da Firmeza, aberta totalmente em 1885, foi construído o Edifício Emporium projecto do arquitecto Arthur de Almeida Junior em 1939, que alberga a Confeitaria Cunha, mudada de Santa Catarina nos anos 80. Era famoso o seu Bolo-Rei e na véspera do dia da Natal, quando por hábito fazemos a ceia da consoada, formava-se uma fila enorme para o comprar.

Aqui é Fradelos, topónimo do séc. XIII, onde existiam Casais com terrenos agrícolas, sendo um deles da família de Brás Cubas (Porto, 1507-1592), o fundador da Cidade de Santos e o descobridor de ouro e metais no Brasil:  http://pt.wikipedia.org/wiki/Br%C3%A1s_Cubas
Segundo a lenda, em tempos antigos existiu um hospício dos monges bentos que mandavam os doentes para este sítio por ser saudável. A capela actual é setecentista.

Em 1955 a Câmara promove um concurso público para remate deste troço, que é ganho pelos arquitectos Agostinho Rica (1915-2010) e Benjamim do Carmo. A solução é de um edifício que remata o quarteirão, um edifiío-ponte sobre o final da Rua e que liga à de Goncalo Cristovão e um jardim a poente. Coitadito do Jardim, quanto pobrezito ele é. Nele está colocado uma estátua em bonze, a Maturidade, de João Charters d'Almeida. Dei fé desta estátua apenas há alguns dias.

De um dos andares do edifício que remata a rua, uma vista para sul que para além da Capela de Fradelos, permite ver o edifício chamado DKW por aquí se terem instalados os escritórios e o stand de automóveis daquela marca, nos anos 50. O projecto é de Arménio Losa (1908-1988) e Cassiano Branco (1897-1970)

Do mesmo andar, uma vista para norte

Muitas foram as fontes onde recolhi imagens e textos. Para além da Wikipédia, destaco:

Outras fontes foram as minhas memórias do sítio




segunda-feira, 19 de novembro de 2012

145 - Memórias da Póvoa de Varzim

Prometi trazer de novo a Póvoa de Varzim a este espaço. Pois cá estou.

Não me lembro rigorosamente quando fui a primeira vez à Póvoa, mas julgo que andaria pelos meus 10 anos de idade numa excursão de camioneta com meus pais e padrinhos, excursões essas que se chamavam de 20 amigos. Era como os remediados pobres dos anos 50 e 60 do século passado poderiam conhecer um pouco de Portugal. Cotizavam semanalmente durante um ano para poder ter o prazer de usufruir de um domingo diferente.

Com o passar dos anos, fui visitando a Póvoa, principalmente em grupos de amigos de trabalho. Naquela altura era obrigatória a paragem para tomar o pequeno almoço num dos cafés junto à praia. O Diana Bar, hoje transformado em Biblioteca Pública, é um bonito edifício que segundo os escritos foi onde o José Régio (Vila do Conde, n. 17 de Setembro de 1901. f. 22 de Dezembro de 1969) escreveu parte das suas obras.

Não muito afastado, o Bar da Praia era o outro Café. 

As camionetas aparcavam num espaço que já não existe, muito lindo e ajardinado, se bem me lembro, próximo da Estátua do Cego do Maio. Notava um certo respeito quando os adultos olhavam esta estátua e aqui se faziam as primeiras fotos para mais tarde recordar.
Hoje é fácil sabermos que o Cego do Maio (José Rodrigues Maio, ou Ti'Mário) foi um herói Poveiro, nascido em 8 de Outubro de 1817 e falecido em 13 de Novembro de 1884. Pescador e Salva- vidas, será a figura mais representativa desta bela terra, galardoado com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor Lealdade e Mérito, a mais alta condecoração do Estado. Naquela altura, Reino.
Diz a lenda que quando D. Luís I o condecorou, o Cego do Maio retribuiu o presente com um punhado de conchinhas, dizendo: Tome lá ó Ti'Rei, uns beijinhos para as suas crianças brincarem.

Avenida dos Banhos
O Concelho actual, digamos assim, tem marcas arqueológicas que remontam a 200 mil anos antes de Cristo. As populações foram-se fixando no território entre 4 a 6 mil anos atrás. O mar e o comércio, depois as pescas, tornaram esta região apetecível, pelo que foi fundada uma cidade fortificada cerca de 900 anos A.C.
Vários forais reais lhe foram sendo concedidos, reconhecida que foi a importância deste território.

As águas fortemente iodadas e as praias de longos areais, desde o séc. XVIII tornam a Póvoa num centro balnear de excelência. O maior e melhor do Norte de Portugal.

Estádio do Varzim Sport Clube
Outras visitas fui fazendo à Póvoa, algumas profissionalmente, outras por causa do futebol. Campo de difícil deslocação para as equipas visitantes, o Varzim Foot-ball Club, assim foi baptizado em 25 de Dezembro de 1915, alterado em 25 de Março de 1916 para Varzim Sport Club, é a primeira filial do Futebol Clube do Porto.
Lembro de alguns nomes que por este clube passaram, no meu tempo, claro: Noé, Fonseca, Horácio, (um dos bébés do Leixões no tempo do Pedroto) Quim, Sidónio, Salvador (tive uns minutos de conversa com ele em Setembro de 2007), Camolas ("meu instruendo" na GACA 3, em Paramos-Espinho e que precisava de licenças para os treinos, dizia ele e sempre concedidas). E do grande Meirim, o treinador que conseguiu feitos louváveis no clube. Lembro-me de ter eliminado o Porto em pleno estádio das Antas da Taça de Portugal, e a um honroso 4º ou 6º lugar, já não lembro, num campeonato da I Divisão.
Se estiver errado, os Poveiros ou amantes do Futebol que me ponham a cabeça no sítio.
Um àparte, fora do contexto: Para mim, José Mourinho, o Number One, será um produto da Escola que Meirim criou. Com a diferença de Meirim nunca ter insultado árbitros ou adversários e muito menos agredi-los. Foi um senhor do Futebol. Conheço alguma gente que lhe passou pelas mãos e nunca ouvi uma palavra de reprovação.

Mas a Póvoa de Varzim tem muito mais que as belas praias, as esplanadas, os passeios. E refiro-me especialmente à Cidade, pois o concelho tem muito por onde passear e descobrir.
A Igreja Matriz actual, ou Igreja de Nossa Senhora da Conceição, foi inaugurada em 1757, obra barroca que marca a vocação marítima da Cidade e a protecção de Nossa Senhora em complementaridade com a Capela existente na Fortaleza.

Os Paços do Concelho, foram aprovados por D. Maria I por indicação de Francisco Almada e Mendonça (Lisboa, 30 (?) de Fevereiro de 1757- Porto, 18 de Agosto de 1804) o homem forte do Porto e do Norte, filho de João de Almada e Melo (Monção, 15 de Agosto de 1703 - Porto, 30 de Outubro de 1786), familiar do Marquês de Pombal e que em 1757 veio para o Porto por causa da revolta dos vinhateiros do Douro e não só, acabando por se fixar definitivamente empenhando-se no desenvolvimento da Cidade, que seu filho continuou.
O edifício em estilo neo-clássico foi inaugurado em 1807. Em 1910, ofertado pelos Amorins, foram-lhe aplicados azulejos que retratam a História da Póvoa desde o séc. X.
Na altura desta foto, em Setembro de 2007, estava a Praça do Almada, o centro cívico, em obras. Ladeada de belas casas tradicionais tem um coreto belíssimo  presumo que de finais do séc. XIX ou princípios do séc. XX.

Da mesma altura a foto possível do pelourinho da Póvoa de Varzim, Monumento Nacional, erigido em 1514 e representa a sua emancipação municipal.

Do outro lado da Praça o Monumento a Eça de Queiroz, administrador público, diplomata e romancista enorme, nascido num dos edifícios que a compõem a 25 de Novembro de 1845. Faleceu em Paris em 16 de Agosto de 1900 e os seus restos mortais encontram-se em Santa Cruz do Douro.

A Basílica do Sagrado Coração de Jesus foi dada como concluída em 31 de Outubro de 1948, embora prosseguissem obras em dois altares e na colocação dos 24 sinos das torres.
É um templo Jesuíta, cuja ideia da construção começa em 1888. Os Jesuítas  regressaram depois da sua expulsão em 1761, onde na Póvoa tinham uma irmandade de certa grandeza na Fortaleza. Voltaram a ser expulsos aquando da implantação da República em 1910 e novamente regressaram após a Revolução de 28 de Maio de 1926. A obra que tinha sido iniciada em 31 de Agosto de 1890 entrara em ruína, mas foi retomada a construção em 1927.
Alberga actualmente uma pequena comunidade.

A Fortaleza da Póvoa, cuja história contei no meu escrito anterior.

Como escrevi na altura, estava todo entretido a fotografar lá dentro quando um agente da GNR me veio proibir de o fazer. Esta é a foto da altura, em Setembro de 2007 e reproduz uma parte da parada interior.

As fotos eram bem simples, só queria apanhar umas vistas naquele dia de nevoeiro intenso, do alto das muralhas.
Esta é de uma parte do Porto a Norte e da Lota.
As origens do Porto remontam ao séc. XI que não deixou de crescer, mas é com o foral de D. Dinis de 1308, mandando incentivar a agricultura e a utilização do porto para transporte de produtos além da pesca, da qual o Rei tirava os maiores proveitos, que muito se desenvolveu.
No século XVI os pescadores passaram também a desempenhar actividades marítimas como pilotos e mareantes devido aos seus elevados conhecimentos náuticos. Em 1506 os pescadores de Entre-Douro e Minho já pescavam na Terra Nova. Lógicamente, a partir daí o Bacalhau chegou às nossas mesas.
Também se desenvolveram os estaleiros e aqui foi contruída a nau Nossa Senhora de Guadalupe comandada pelo capitão poveiro Diogo de São Pedro que se celebrizou na esquadra reunida em Lisboa para restaurar Pernambuco no dia 15 de Março de 1631, que os holandeses tinham ocupado. Um seu irmão, António Cardia foi piloto-mor da armada portuguesa e já se tinha destacado na defesa e libertação da cidade da Bahía, também dominada pelos holandeses.

A Póvoa guarda outros heróis mareantes, como o Patrão Lagoa (Manuel António Ferreira - Póvoa de Varzim, n. 14 de Junho de 1866/f. 7 de Junho de 1919) especialista em resgates de navios para além de passageiros e tripulantes.

Está na História o do S. Rafael, da Armada Portuguesa naufragado na Foz do Rio Ave em 20 de Novembro de 1911 e do Veronese, Barco a Vapor Inglês, com emigrantes principalmente Galegos, naufragado próximo a Leça da Palmeira. Um relato deste naufrágio e o salvamento de passageiros e tripulantes pode ser lido
http://artigosvozdeleca.blogspot.pt/2008/02/evocao-do-naufrgio-do-veronese.html

Mas há muito mais gente ilustre desta Póvoa de Varzim, que prometo desenvolver num outro trabalho.

Em frente à Baía, o monumento às Peixeiras, uma homenagem à Mulher Poveira que sempre teve grande preponderância na comunidade piscatória.

Para Sul, o bairro piscatório e a nova marina.

Para o fim desta pequena visita à Póvoa Cidade, a Junqueira. Uma espécie de Centro Comercial nascida no séc. XIX, não apenas da Rua com o seu nome mas de uma área que vem desde a Praça do Almada e vai até ao Mar.
Aqui foram encontrados vestígios da época romana. Mas a história da artéria-zona é tão linda e extensa, que proponho aos meus caríssimos leitores - e caríssimas leitoras, pois claro - visualizem http://pt.wikipedia.org/wiki/Rua_da_Junqueira

Uma visita à Capela de S. Roque fundada em 1582, mas que talvez os varzinenses conheçam mais como de S. Tiago. Isto porque uma imagem do santo possivelmente do séc. XV, apareceu na praia e fez crescer o seu culto. A Capela foi reformada e aumentada em 1887 e modificaram-lhe a invocação.

Esta é a Rua da Junqueira, desde 1955 tornada pedonal sendo provàvelmente se não a primeira uma das mais antigas ruas pedonais de Portugal.
Deve o seu nome aos muitos juncos que aqui haviam. Por ela e pela zona passam ainda algumas ribeiras, agora encanadas. Após a implantação da República, desde Julho de 1912 até Janeiro de 1966 chamou-se de 5 de Outubro, retomando o seu nome antigo após esta data.
Para além de outras gentes, aqui nasceu no numero 3, Leonardo Coimbra, filho, em 9 de Abril de 1914, falecido na Guiné (actual Guiné Bissau) em 25 de Julho de 1970 num desastre de helicóptero, quando como deputado se ía inteirar dos assuntos daquela Província Ultramarina Portuguesa. Foi uma pessoa dedicada à Família e à Criança. Não sei se seguiu a filosofia espírita de seu Pai, nascido na Lixa.
No próximo trabalho, prometo umas fotos antigas dos casinos e hotéis que aqui existiram e onde o Camilo fazia grandes paródias, principalmente no Chinês. É o que está escrito.

Agora vou falar de amigos.
Em primeiro lugar, do meu Presidente Bandalho, o Jorge Teixeira, que me alertou para o facto de ter andado por aqui a namoriscar umas primas, pois um seu tio morava na Rua da Junqueira. Só por isso, destinava-se a rua ser histórica.
Lògicamente que me falou de recordações "bacanas". E de boas férias.
Este capanga Teixeira, sempre que dou um passo, lá vem ele com histórias da sua numerosa família. Presumo, pelo menos a Norte do Porto, não haver uma localidade em que tenha nascido, vivido ou vivam parentes do grande amigo.


No dia 14 de Setembro de 1967 conheci pessoalmente dois amigos internautas. O João Carlos, natural da Póvoa, a trabalhar no Brasil. Através de uma amiga que infelizmente já nos deixou.
Há dias andamos de novo a navegar pela região. Já regressou ao Brasil e daqui lhe mando o meu abraço fraterno.
O Quim Verdegaio, residente há muitos anos na Póvoa, foi a Guiné que nos aproximou. Para ele também um grande abraço.

Uma pequena história. Nesse dia de Setembro, depois de uma volta pela Cidade e quando vinha apanhar o Metro, parei num quiosque na Praça do Almada e comprei em promoção A Mensagem do Fernando Pessoa. Passado algum tempo lembrei-me do livro e não o encontrei. Julguei tê-lo deixado no quiosque e telefonei ao Quim a contar o meu desassossego. Uns dias depois, não me lembro como, chega-me o livro às mãos. Hoje, salvo erro, é pertença da Família Teixeira de Matosinhos.

Até breve, boa gente. Espero que venham à Póvoa. Está, pelo menos até final do ano, a 2€65 do Porto, de Metro, o equivalente mais ou menos a 50 minutos.