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quinta-feira, 24 de maio de 2012

130 - Do Mirante à Praça de D. Filipa de Lencastre

Prometi voltar para acabar o circuito do antigo Mirante.
Mas antes devo publicar uma informação  prestada pelo meu amigo Fernando Ribeiro sobre o edifício onde se encontra a actual Ace-Escola de Artes.

Escreve-me o amigo que neste edifício funcionou uma parte da Faculdade de Engenharia, na altura sita na Rua dos Bragas, devido à exiguidade das suas instalações. Posteriormente foi o Colégio Almeida Garrett, onde estudou, bem como o nosso antigo primeiro ministro, Francisco Sá Carneiro, tràgicamente desaparecido em 4 de Dezembro de 1980. As instalações já estavam degradadas por essa altura.
Esta informação levou-me a programar a máquina do tempo e a recordar uma conversa que tive já há uns largos tempos com o meu amigo J.Teixeira/45, sobre Teatro e também sobre a Escola Académica. Disse-me na altura que se recordava de ter existido naquele edifício uma escola, mas não sabia o nome.
Portanto, daqui vão os meus agradecimentos ao amigo Fernando Ribeiro pela sua informação e por aumentar os meus conhecimentos sobre a Cidade do Porto.

Para o nosso circuito vamos sair pela esquerda alta do antigo Largo do Mirante, actual Coronel Pacheco, e entrar na Rua do General Silveira. Conta-se que foi um herói da Guerra Peninsular, mais conhecida entre nós como as Invasões Francesas (1807/1812). Combateu também em Espanha contra os Franceses, principalmente na famosa Batalha de Vitória em 1813. Retirou-se para a sua Terra em Vila Real, não aderente ao Liberalismo nem à Revolução do Porto de Agosto de 1820. Contràriamente a seu irmão, também lutador contra as tropas de Napoleão, mas um dos cabecilhas da Revolta.
Esta rua chamou-se anteriormente rua do Coronel Pacheco.

Anteriormente referi esta edifício como possuindo na loja uma padaria. Não tenho a certeza. Mas sem dúvida, a sua fachada é muito linda.

Do mesmo lado e no final da rua, que é pequena, a casa que é considerada de interesse público, pois na fachada está adoçada a Fonte das Oliveiras.
Tem a Rua, do lado direito, um correr de belos outros edifícios, cada um com o seu estilo. Não entendo nada de arquitectura, mas dá prazer sentar no Largo Alberto Pimentel e apreciar estas obras.
A Fonte das Oliveiras.
Do lado esquerdo, a Rua do General Silveira.
Do lado direito a Rua dos Mártires da Liberdade
Este é o Largo de Alberto Pimentel, homenageando o homem de letras nascido na freguesia de Cedofeita - de que o Largo faz parte - em 14 de Abril de 1849. Iniciou a sua vida profissional no Jornal do Porto como revisor e tradutor.
( Jornal do Porto, propriedade de José Barboza Leão (1818-1888) médico, militar, político. - 1º numero em 1 de Março de 1859, último número, o 250, em 27 de Outubro de 1892)
Informações sobre o Jornal, recolhidas na Biblioteca Nacional de Portugal. Sobre José Barboza Leão em  http://www.arqnet.pt/dicionario/barbosaleaoj1.html
Imensas são as suas obras, desde biografias ( de Júlio Dinis, de Camilo - Os Amores de Camilo, os Netos de Camilo, o Romance do Romancista ) traduções, viagens, etnografia, algum teatro e política, poesia e claro romances.
Escreveu várias obras sobre o Porto e o Norte. Faleceu em Queluz em 1925.

Seguindo em frente iríamos dar a Carlos Alberto, mas isso são caminhos já muito conhecidos. Portanto voltamos à esquerda, na Rua da Conceição, que vai dar ao Largo de Mompilher (ver post anterior). 
Destacam-se mais dois belos edifícios. O "amarelo" já anteriormente fiz referência a ele. Está na esquina com a Rua das Oliveiras. Bom, esta Rua à esquerda pertence a Cedofeita, mas à direita já faz parte da freguesia da Vitória, que tem direito a folheto impresso, especial sobre o Património, mas que não nos dá referência ao edifício. Será que faria parte do edifício que está em José Falcão que foi da Cerâmica das Devesas ?
Nem a este, já na esquina com a Rua José Falcão. Na loja, uma galeria de arte, digna de uma visita.
Mas já é tempo de informar os meus queridos leitores e visitantes sobre a toponímia da Rua da Conceição.
O plano urbanístico de João de Almada e Melo (Monção, 15 de Agosto de 1703- Porto, 30 de Outubro de 1786) , o grande obreiro da Cidade do Porto no séc. XVIII, depois continuado por seu filho Francisco de Almada e Mendonça, incluía o traçado de várias ruas novas. As artérias - Rua e Largo (o actual de Mompilher), foram abertas junto à Quinta do Pinheiro e à sua Capela setecentista dedicada a Conceição de Maria Santíssima e desta invocação passou para as artérias próximas. Lê-se na toponímia da Câmara Municipal, referindo o sempre presente Andrea de Cunha e Freitas.
Creio que também já se chamou Rua da Cancela Velha em 1933. Talvez porque faria parte da Cancela Velha (agora já não tem esse nome) que vinha do Bonjardim. O portuense "velhinho" ainda chama a esse "bocadinho" de rua, a Cancela Velha.

Voltando à direita para a Rua José Falcão (Miranda do Corvo, 1 de Junho de 1841 - Coimbra, 14 de Janeiro de 1893; foi um político e catedrático de Matemática) mas que já se chamou de Rua de D. Carlos, creio que até 1933, (teria sido em homenagem ao penúltimo Rei de Portugal, assassinado em Lisboa em 1908 ?)  encontramos o belo edifíco do Depósito de Materiais da Fábrica de Cerâmica das Devesas, de Vila Nova de Gaia.
Em estilo neo-árabe, notável pelo revestimento cerâmico, é de 1899 e da autoria de Teixeira Lopes, pai, escultor e ceramista (S. Mamede de Riba Tua, 1837-Vila Nova de Gaia, 1918). Foi co-fundador da Fábrica das Devesas, (infelizmente a ruir e parece que não há vontade política de resguardar o que foi a maior fábrica Cerâmica do País com uma história fabulosa - ver  http://www.queirozportela.com/devesas.htm ) onde criou uma escola de desenho e modelação. Tem várias obras na Cidade, destacando-se a Estátua de D. Pedro V, na Batalha, e os baixos relevos do batistério da Sé e as Alminhas, na Ribeira.
Já aqui esteve uma fábrica de chocolates; hoje estão escritórios e bares. Talvez por isso, seja uma prenda o acessório que se encontra fixado.
Pormenor dos azulejos da fachada.
Com um acessório que é de arrepiar
Como há gente tão estúpida que faz uma coisa destas

Alguns edifícios foram sendo recuperados ao longo da rua. Por isso é fascinante olhar para estas obras.

No final damos com a antiga Praça de Santa Teresa, mas isso é para outra viagem
A caminho da Praça D. Filipa de Lencastre, a nunca completada Rua de Ceuta. Assim chamada em homenagem à que foi uma das praças militares portuguesas em África, até meados do séc. XVII. Nessa altura vieram os espanhois governar-nos e levaram-na quando os corremos.
Esta rua foi projectada em 1942 pelo gabinete camarário chefiado por Arménio Losa (Braga, 28 de Outubro de 1908 - Porto, 1 de Julho de 1988). Entre vários planos, previa-se que fosse até ao Jardim do Carregal, ligando-o desde a Praça dos Poveiros. Mentes abertas, mas que ou o dinheiro (a sua falta) ou o medo de mexer em coisas "proíbídas" sempre adiaram.
No início do século XX finalmente esta ligação completa-se mas por baixo da terra, através do túnel aberto salvo erro em 2005 ou 2006.
Politicamente, Losa não era correcto. Por isso, o poder instalado retirou-lhe o gabinete bem como obras camarárias. Assim, acabou só por projectar edifícios particulares, mas de grande relevo, incluindo um em Sá da Bandeira, que faz parte do roteiro arquitectónico mundial.
Um dos edifícios com a sua marca é o do Soares & Irmão, mais conhecido como o Vouga - Fábrica de Moagem - , na esquina com a Picaria. Para os baixos do edifício, convidou Gomes de Oliveira (Matosinhos, 12 de Julho de 1910 - 20 de Outubro de 1976) formado em pintura pela Escola de Belas Artes do Porto e mais um não alinhado politicamente, para a criação de um mural em cimento colorido e pedra.
É uma rua essencialmente de escritórios médicos e de advogados. Nas suas lojas ainda existem algumas livrarias famosas e o bonito Café Ceuta. Nos velhos tempos também algumas grandes industrias tinham os seus salões de esposições.   
Joel Cleto ensinou-me a ver em paineis da cidade alguns simbolismos, que tiveram de ser "disfarçados" no tempo de censura. Este não fugiu à regra. A foice vê-se nitidamente. E o martelo onde está ? Reparem na base da bigorna do ferreiro.


Estamos na Praça de D. Filipa de Lencastre, toponímico homenageando a Rainha e esposa de D. João I com quem casou no Porto em 1387; Mãe dos mais famosos Infantes de Portugal. Nasceu em Inglaterra em 1359 e morreu em Odivelas em 1415.
Na esquina com a Rua de Ceuta-Picaria, o edifício Vouga, colado às antigas instalações da Companhia dos Telefones, como a designávamos. Comercialmente foi The Anglo-Portuguese Telephone Company Limited, vulgo APT, criada em 1887 e o contrato com o Estado durou até 1968.
Então cá temos a famosa Rua da Picaria, comercialmente importante pela quantidade de estabelecimentos de marcenaria e venda de mobílias. Quer dizer, tudo que fosse em madeira, era aqui que vinhamos antes de mais, espreitar, passar a mão, saber preços, até à decisão final. Ainda há alguns, mas nada que se compare com o que foi. Francisco Sá Carneiro, nosso primeiro-ministro, já referido, tinha aqui também o seu escritório. Era uma zona de gente republicana e / ou maçónica.
A rua vai dar ao Largo de Mompilher, e dela deixo aqui esta imagem. Mas porquê Rua da Picaria ?
Picaria é a arte de adestrar cavalos. Logo admite-se que aqui houvesse um picadeiro. O lugar pertencia ao Bairro dos Laranjais, também já referido anteriormente. A urbanização foi determinada por João de Almada e Melo e o projecto de 1761 vem já planeada. Havia em baixo, uma rua chamada de Santo António (da Picaria, distinguindo-se da Rua de Santónio, hoje 31 de Janeiro) mas desapareceu com a abertura da Praça D. Filipa de Lencastre.
Regressemos a esta Praça e vê-se um correr de casas que fariam parte da Rua de Santo António da Picaria, também designada por Travessa da Picaria. São imóveis de Interesse Público e estão todas recuperadas da degradação em que se encontravam. Numa delas, hoje um BAR, foi o Tribunal que julgou Camilo Castelo Branco e Ana Plácido no famoso caso de adultério, que apaixonou a Cidade. Existiu também o famoso Cabarét Primavera. Igualmente foi cenário escolhido de Manoel de Oliveira para o Porto da Minha Infância. Na esquina está o famoso Turco, o único restaurante de especialidades do Porto. E o Capas-Penada - Bicicletas e Acessórios, ainda existe 
Em primeiro plano o resguardo da entrada do Tunel. Ao fundo à direita, a Rua do Almada, onde terminava no séc. XVIII a Rua das Hortas. Hoje liga os Loios ao Campo de Santo Ovídio, melhor dizendo à Praça da República. Quantos kilómetros têm as minhas pernas por ter calcorreado esta artéria. Mas isso são outras histórias.

Ao fundo o edifício do Jornal e Garagem do Comércio do Porto, que vai até à Avenida dos Aliados. O jornal já não existe. Foi o segundo mais antigo do País. Prosseguindo, este é um notável edifício projectado por Rogério de Azevedo (1898-1983) construído entre 1928 e 1933.
Terminando a volta, o Hotel Infante de Sagres, luxo, albergue de Reis e gente que está de visita à Cidade.
Foi também projectado por Rogério Azevedo em finais de 1940. Vi há dias uma reportagem sobre ele e na realidade são um sonho as instalações.
Um último olhar sobre os Imóveis de Interesse Púbico para a
Torre da Câmara.

terça-feira, 22 de maio de 2012

129 - Do Largo de Mompilher até ao Mirante, pela Rua do Pinheiro

Uma amiga portuense desde há uns tempos que me perguntava para quando fotos e histórias sobre a Rua do Pinheiro.
Pois bem, chegou agora a vez de mostrar e escrever sobre esta artéria que tem muitas e belas histórias.  Que vou estender até ao Mirante, para sul, a uma centena de metros.
Antes de subirmos as Escadas do Pinheiro, encontramos o Largo de Mompilher, nome aportuguesado da Universidade francesa de Montpellier, muito ligada à cultura nacional na idade média e no renascimento. Lê-se isto mesmo (embora esteja escrito Montpelier) na toponímia da Câmara Municipal do Porto. Sem dúvida uma das mais antigas Universidades do Mundo, fundada em 1220.
O Quiosque no Largo está classificado como Imóvel de Interesse Municipal. Nas últimas décadas do séc. XIX e princípios do XX, estas estruturas arquitectónicas - hoje chamar-lhe-iam equipamentos urbanos - foram crescendo pela cidade e eram ponto de encontro de artistas, escritores, aristocratas. A função comercial era a venda de bebidas, flores, frutas. Não sei se ainda algum estará a ser explorado, mas lembro-me de nestes quiosques se venderem jornais, revistas, tabaco, artigos de papelaria. Há meia dúzia de anos este ainda funcionava,
Foi construído nos anos 30 tendo substituído um em ferro que existia desde 1910.

Mas o Largo teve outros nomes. Chamou-se da Conceição (ou Senhora da Conceição) sendo substituído posteriormente pelo da Picaria. Rua da Picaria que se vê na imagem, descendo até à Praça Filipa de Lencastre. Mas essa descoberta fica para a próxima viagem.

Então subimos os dois lanços das Escadas do Pinheiro, projectadas em 30 de Janeiro de 1775, para encontrar a Rua com mesmo nome. Na altura chamava-se Rua da Misericórdia. À esquerda ficam as instalações de um serviço de apoio aos Imigrantes e à direita a setecentista Capela do Pinheiro ou da Senhora da Conceição.

A Capela deveria ter feito parte de uma propriedade adoçada a uma casa. A casa actual deve ser relativamente recente. Segundo a minha amiga antes referida, o seu proprietário era um tal Lencastre.
No entanto a história do lugar é muito antiga.
Em 1508, João Rodrigues de Avelar e sua mulher Grácia Luís, venderam o seu campo no Casal do Pinheiro «junto aos Carvalhos do Monte, prez da cidade» e um par da estrada pública. Em 1533, nova venda do « Lugar ou Casal do Pinheiro, situado entre a estrada que vem de Guimarães (actual Rua Mártires da Liberdade) para a Porta do Olival (actual Cordoaria) e o caminho de Liceiras (ainda existe a Rua de Liceiras, junto à Trindade, cerca de duas centenas de metros a baixo). Tinha então esta propriedade um pombal e várias árvores de fruto, entre as quais se mencionam laranjeiras que mais tarde, com outras por ali existentes, dariam ao Casal do Pinheiro o nome de Quinta do Laranjal de Cima, que já tinha em 1661. A Quinta do Pinheiro foi alienada há poucos anos pelos últimos sucessores dos Monteiros, na posse desta bela propriedade desde princípios do século XVIII. (Copiado da toponímia da Cidade, Toponímia Portuense de Andrea da Cunha e Freitas).
O antigo Bairro do Laranjal era extenso. Incluía toda a zona desde a Trindade até às Cardosas. 

Para esta Quinta do Pinheiro foi transferido o Instituto Escolar de S. Domingos que presumo ter existido antes na Rua da Sovela, actual dos Mártires da Liberdade. Deve ter sido por volta de 1880. Tomou o nome de Escola Académica do Porto. Gente ilustre aqui estudou, destacando-se António da Rocha Peixoto (1866-1909), Naturalista, Etnógrafo, Arqueólogo, Bibliotecário. A sua biografia pode ser consultada em http://sigarra.up.pt/up/WEB_BASE.GERA_PAGINA?P_pagina=1004207
Por volta de 1975 no mesmo edifício foi criada uma Comissão de Moradores da ex-Escola Académica, com ATL, Jardim de Infância e Lar de 3ª Idade. Em 2008 receberam ordem de despejo e em 2009 despediram os 20 trabalhadores. Presumo que o dono da propriedade é o Montepio Geral.
Actualmente encontra-se tudo vedado e sujo. Gatos também não faltam. A foto possível foi feita atravez da rede.
Consta-se que estava projectado um estudo urbanístico para a zona.
A Câmara Municipal vista do adro da Capela e que terá sido um Miradouro em outros tempos.

Tomamos então a Rua do Pinheiro. Muitas casas da Rua foram recuperadas e existe numa delas um espécie de Hostel - parece que é assim que agora se chamam às Casas de apartamentos de aluguer temporário -.
No princípio da rua ainda há algumas em ruínas. Curiosamente foi numa delas que viveu a minha amiga parte da sua infância e juventude. Na outra viveu também Ruth Escobar.
Maria Ruth dos Santos, mais conhecida como Ruth Escobar, nasceu no Porto em 1936. Mudou-se para o Brasil em 1951, onde casou com o filósofo e dramaturgo Carlos Henrique Escobar. Em 1958 partiram para França onde Ruth estudou arte de interpretação. Regressada ao Brasil, criou a sua própria companhia. Tornou-se uma das mais importantes produtoras do Brasil e atriz de grande mérito. Nos anos 80 veio a Portugal e ao Porto onde se apresentou no Teatro Rivoli. Voltou-se para a política, foi eleita deputada estadual para duas legislaturas, (presumo que por S. Paulo) tendo-se dedicado a projectos comunitários. Fundou o seu próprio teatro, actualmente em ruínas. Sofreu a perseguição da censura brasileira.
(texto copiado de http://spescoladeteatro.org.br/noticias/ver.php?id=1977 
Muitas outras páginas se encontram na net dedicadas à Ruth
Ruth que se encontra muito doente desde há uma dezena de anos.

Pormenores da Rua do Pinheiro. Em baixo e à esquerda, a velhinha "Oliveira Encadernadores", tipografia e encadernação de livros. Fui lá algumas vezes a mando dos meus primeiros patrões, levar obras para encadernar. Segundo me pareceu, na altura, eram velhos "compinchas de tainas" desde a juventude, o Sr. Monteiro e o Sr. Oliveira. Quem esteve ligado às artes gráficas (hoje, indústria) ainda deixa muitas saúdades sentir o cheiro das tintas, mesmo que de leve...
Tanto quanto me apercebi, esta rua foi verdadeiramente democrática. Trabalhadores braçais, capitalistas, militar graduado, renegado político morto no Tarrafal, todos aqui conviveram. Era uma rua como tantas outras, pequenas, da cidade esquecida, onde todos se conheciam, cumprimentavam, partilhavam.
A Rua termina na dos Mártires da Liberdade e nesta começa a Travessa do Coronel Pacheco que por sua vez vai dar ao Largo do mesmo nome. Na esquina do lado esquerdo, um antiquário e alfarrabista com belas obras em exposição, num lindo edifício recuperado.

No outro lado, na esquina da Rua do Pinheiro com Mártires da Liberdade, outro belo edifício com as fachadas cobertas a azulejos.
Aliás, belos edifícios não faltam neste perímetro. Ocupando quási todo o lado direito da Travessa, outro lindíssimo edifício cuja fachada principal é digna de ser apreciada. Infelizmente não consegui encontrar quaiquer referencias sobre as suas origens.
Nos anos da descolonização de África, serviu para alojar alguns dos chamados retornados até conseguirem encontrar a sua nova vida. Foi pensão de aluguer de quartos baratos, degradou-se mas foi recuperado recentemente, sendo agora um Hotel-Residencial de boa qualidade.

Olhemos agora em volta da Praça do Coronel Pacheco. Da esquerda para a direita, de cima para baixo, seguindo as fotos. Isto é de Leste até ao Norte. Um correr dos tais belos edifícios que por aqui se encontram. Nos rés-do-chão, vários comércios, incluindo uma alfaitaria à moda antiga. Seguindo, dois palacetes, um de cada lado da Rua do Mirante. O da esquerda abriga a Escola Contemporânea do Espectáculo - A.C.E ; O da direita, um núcleo não sei de que Faculdade (a placa à entrada está partida) da Universidade do Porto. Do outro lado, isto é, para oeste, já lá iremos em pormenor. Rodando de novo, definitivamente, entre dois novos edifícios, um deles Hotel, encontramos a velha esquadra da Polícia.
Mas agora vamos à história deste Largo que evoca a memória do Coronel Pacheco. Comecemos pelo fim. O Liberal Coronel José Joaquim Pacheco foi comandante do Regimento de Infantaria 10 e morreu em 2 de Dezembro de 1833 na Areosa (local limite da Cidade do Porto para Norte, confontando com Rio Tinto. Aqui termina a Rua de Costa Cabral que vem da Praça Marquês de Pombal, ou antigo Largo da Aguardente. Isto é "canja" para os portuenses, mas devo estas explicações aos meus leitores) enfrentando as tropas absolutistas de D. Miguel durante o terrível Cerco do Porto. E assim o Largo passou a ter esta toponímica por decisão camarâria de 28 de Outubro de 1835.
Antes chamava-se Largo do Mirante. Bem como a Rua voltada a sul e que daqui sai até à de Cedofeita e ainda mantém o mesmo nome.

Pois neste Largo foi a Feira do Carvão e toponìmicamente falando, o Largo do Mirante. O seu nome deriva de uma Quinta que aqui existia propriedade de António Ribeiro Braga (que também deu o nome à Rua dos Bragas. Anteriormente já me referi à família quando escrevi sobre a Rua de Cedofeita). Um mirante existiria onde hoje está a rua que conserva este nome. Mas a toponímia Largo do Mirante já vem referenciada desde cerca 1760  figurando na planta do Bairro dos Laranjais.
No cimo do portão que dava acesso à quinta podem ver-se as iniciais ARB. Este pormenor foi-me revelado num escrito do Historiador e Jornalista Germano Silva. Será verdade que é o portão original ?

Passando o portão do edifício que será mais um polo (sou eu a imaginar) da Universidade do Porto, este das Ciencias da Comunicação, ao fundo estão as traseiras da primitiva Faculdade de Engenharia. O imóvel foi construído entre 1927 e 1937 com as frentes para a Rua dos Bragas. Ràpidamente se tornaram as instalações insuficientes. Mas só em 2000 o novo polo na Asprela entrou em funcionamento. O edifício foi recuperado para a Faculdade de Direito, inaugurado em 22 de Março de 2004.
Mas vale a pena copiar na íntrega este escrito:  Os terrenos onde se rasgou esta Rua dos Bragas pertenciam a um casal rústico , chamado dos Carvalhos do Monte (…) à beira da estrada de Braga. (ou de Guimarães, nota minha, e que é a actual Rua dos Mártires da Liberdade)  Este casal veio por herança, à posse da família Ribeiro Braga [e] incorporou-se na Quinta do Mirante (…). Foram estes proprietários que deram o seu apelido à Rua dos Bragas." [Freitas, Eugénio Andrea da Cunha e – Toponímia Portuense. Matosinhos: Contemporânea Editora. [1999]. ISBN 972-8305-67-2].
http://sigarra.up.pt/up/web_base.gera_pagina?p_pagina=1006597
Quando as tropas Miguelistas cercaram a cidade, a casa da Quinta do Mirante foi ocupada pelo exército Liberal que nela instalou o Regimento de Infantaria 10. O tal que era comandado pelo Coronel Pacheco.

No mesmo correr a oeste, situa-se a Igreja do Mirante, o templo protestante mais antigo da cidade que se reveste de uma grande importância para os Metodistas por ser a sede nacional da Igreja Evangélica Metodista.
Diz-se que os primeiros metodistas em Portugal foram os soldados ingleses que nos ajudaram na luta contra os franceses durante as Invasões (1807/1812)
O edifício começou a ser construído em 1860 e a Igreja inaugurada em 25 de Março de 1877.
Parece que foi construído apenas por estrangeiros, visto que os portugueses não podiam abrir nenhuma igreja que não fosse Católica. http://jpn.icicom.up.pt/2009/01/07/religioes_no_porto_igreja_do_mirante_e_o_templo_protestante_mais_antigo_da_cidade.html

Seguindo por esse passo entramos na Travessa de S. Carlos, cuja origem toponímica desconheço. Mais alguns belos edifícios, onde predomina a pedra na sua construção e o ferro das varandas.
Vai esta Travessa dar à Rua dos Mártires da Liberdade. Com pena e nostalgia olho a sede do que foi uma das grandes empresas ligadas às artes gráficas, o Polónio Basto.
Recordo alguns escritos de amigos, dando-me a conhecer a sua vivência de jovens trabalhadores na zona de Mártires da Liberdade.  Pois aqui vai a foto da Casa Bento, onde um deles iniciou a sua vida de trabalho.
Voltando atrás vemos todo o pormenor da zona leste do Largo do Coronel Pacheco.
Terminamos este roteiro junto à Rua do General Silveira. Por aqui começaremos um novo, em próxima publicação.
Mas fixemos mais um belo edifício, em cuja loja, se a memória não me atraiçoa, exixtiu uma padaria.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

128 - Gabinete de Numismática

É um dos Núcleos Muselógicos do Museu da Cidade do Porto. Este, em si, não existe. Foi uma ideia de Manuela Melo, vereadora da Câmara do Porto, que nunca foi avante. Por falta de verbas ou por outras coisitas. Ficamos assim com vários Núcleos Museológicos.
Instalado no Palacete dos Viscondes de Balsemão, em Carlos Alberto, desde 2009, vindo da Casa Tait onde esteve desde Dezembro de 1988.
É uma colecção iniciada em 1850, depois de  adquirida a colecção particular de João Allen (1781-1848).  Esteve no chamado Museu Municipal do Porto, (inaugurado em 1852) na Rua da Restauração, na casa de Allen, comprada pela Câmara bem como o espólio do coleccionador.
Transferido para o depósito da Biblioteca Municipal do Porto em 1905 permaneceu aí até 1937, seguindo depois para o Museu Nacional Soares dos Reis por decreto do governo desse ano, sendo o Museu inaugurado em 1942. Retornou à posse da Câmara em 1988.
Conta actualmente com uma das maiores colecções de numismática de Portugal, representando um papel fundamental no estudo da numária grega, romana, hispânica, árabe e portuguesa.
Estão representadas moedas das várias emissões efectuadas ao longo dos séculos não só para os territórios africanos, como também para o Brasil, Timor, Açores e Madeira.
Conhecemos também a história das várias Casas da Moeda do País.
As colecções integram moedas, medalhas, condecorações, apólices, cédulas, notas bancárias, cunhos de medalhas e chapas de impressão de notas bancárias.  
A figura de um cunhador de moedas está também representada.