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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

138 - A Ponte D. Luíz e as Avenidas

Vou guardando nos meus arquivos coisas (coisas, englobam fotos antigas, textos encontrados muitas vezes por casualidade, livros históricos que leio, recordações pessoais) para um dia me debruçar sobre elas mas não sei se serei capaz de e como divulgá-las.
O que me trazia aqui hoje - projecto antigo -  era a nossa (do Porto) Avenida da Ponte. E não sabia como começar. Acabou por saltar a tampa e achei melhor incluir a Avenida de Gaia e a Ponte D. Luíz.
Afinal acabam por ser complementos umas das outras, mas com princípios, meios e fins diferentes.

Comecemos o passeio e a estória destas três vias, mostrando a imagem do Google para orientar os meus queridos e pacientes leitores. É um hábito falar-se sempre no masculino, mas lògicamente que também se destina às minhas queridas e pacientes leitoras.
A norte o Porto, ao centro a Ponte D. Luíz e o Rio Douro, ao sul Vila Nova de Gaia, ou simplesmente Gaia. Aliás, ireis encontrar durante este escrito os nomes a que nos habituamos a falar delas e a nos entender e mesmo passados tantos anos não mudamos. Os Portuenses e os Gaienses. 
A nossa História lembra que do lado do Porto existiam 2 morros (além de outros, que para este caso não interessam nada). O da Cividade e o da Sé coexistindo desde tempos remotos, o que quer dizer pelo menos, desde a Idade do Ferro. Mas eis chegado o comboio no séc. XIX que vindo por Portugal acima, termina em Gaia, nas Devezas. Construiu-se posteriormente uma Ponte, a de D. Maria Pia, Monumento Nacional, inaugurada em 1887 unindo as duas Cidades e o términus ferroviário passou a ser em Campanhã. 
Gente esclarecida lembrou-se que deveria haver um ramal ao centro da Cidade do Porto, que entretanto aumentara e alargara as suas ruas. Benéfico para todos: comércio, indústria, mercadorias em circulação passageiros também. Construiu-se a Estação de S. Bento, hoje reconhecida internacionalmente como das mais belas do mundo, mas que obrigou à destruição de um monumental Convento, o de Avé-Maria de São Bento e a sua não menos grandiosa Igreja. É o que dizem os historiadores.
Porque a Ponte Pênsil já não chegava para as encomendas (hei-de voltar a falar dela, pelo menos é essa a minha intenção), construi-se pegadinho a ela outro monumento, a Ponte de D. Luíz. Já lá irei.     

A foto da esquerda provavelmente dos anos 20/30 do séc. passado, dá-nos uma ideia da separação à cota baixa dos dois Morros: O da Cividade e o da Sé. Era a Rua do Corpo da Guarda que obrigatoriamente nos levava à Sé. A foto da direita, dos dias de hoje, é sensivelmente do mesmo local: a Praça de Almeida Garrett, mais conhecida na gíria popular por S. Bento.   
Durante séculos, os dois morros foram-se unindo embora separados pela Muralha Primitiva, Cerca Velha ou Muralha Românica, da qual existe apenas um Cubelo onde os dois morros se encontravam. A posterior Muralha Fernandina do séc. XIV juntou-os ainda mais. E assim, o casario foi-se expandido morros abaixo.
Começaram projectos a aparecer para fazer a ligação da Baixa da Cidade à Ponte pelo seu Tabuleiro superior. Desde o séc. XIX até aos nossos dias foram muitos.  
À esquerda, ainda antes da demolição. Em cima à direita já alguma parte demolida-
Em baixo, tal qual é hoje
Resolveu-se pura e simplesmente destruir parte do Núcleo Medieval da Cidade para abrir um caminho. A Rua do Corpo da Guarda que dava acesso aos comércios, mercados e industrias caseiras que ainda haviam no Morro da Sé foi destruída e aos poucos esquecido o seu percurso, bem como ao interior do Bairro. Gente ilustre viveu por aqui e a cidade muito lhe deve pelo enorme contributo para o seu desenvolvimento. Começou a gerar-se um gueto.
Do lado da Cividade, as gentes e comércios foram-se adaptando, gerou uma nova clientela que desembarcada do comboio em S. Bento vinha fazer as suas compras não só nas Ruas de Mouzinho da Silveira e Flores, mas do outro lado, na Rua do Loureiro, ou subindo um pouco mais, nas Ruas Chã, do Cimo de Vila e do Cativo. Passou a ser uma tradição, já os ricos encomendavam às boas mercearias que existiam os ímpares queijos da serra (da Estrela) que recebiam em exclusivo. E distribuíam por várias pastelarias da cidade. Tradição também era ir fazer sala aos Cafés Derby e Royal
Mais tarde, nos anos 60, recordo bem a Rua do Loureiro que foi meu caminho obrigatório para a Escola Oliveira Martins, onde tascas e restaurantes simples mas de muito boa comida abriram portas e dessas mercearias finas duas ainda sobrevivem. A Confeitaria Serrano, uma delas é digna de visita pois o seu interior é ricamente decorado. Seguiram-se os comércios de electrodomésticos e afins. Um movimento constante durante o dia e muito pela noite também. Hoje é uma rua meio triste, polvilhada de lojas de Paquistaneses ou Indianos, onde até as vendedeiras ambulantes se abastecem. Tascas nem sentir-lhes o cheiro.

Então rasgou-se a Avenida nos anos 50 que ficou a chamar-se da Ponte e ainda assim a conhecemos. Não sei se era esta a toponímia oficial, pois a Câmara do Porto não lhe dedica uma linha. Num meio de muita confusão, presumo que lhe chamam agora Avenida de D. Afonso Henriques, mas terá sido de Saraiva de Carvalho e também Vímara Peres.
Dizem os historiadores, desventrou o Morro da Cividade, destrui o antigo Largo do Corpo da Guarda, demoliu-se praticamente todo o lado sul da Praça Almeida Garrett de incalculável valor histórico e patrimonial.
No meio desta destruição, ficou sempre em pé uma parede de um edifício que ainda hoje perdura. Há uns anos, escondia-se uma parte com reclames. Hoje vêm-se vigas a segurar as paredes e é um local que serve para tudo, que um pequeno muro esconde. Esconde, é uma maneira de falar. É bem vísivel para quem passa por ali a qualquer hora.
As demolições no interior dos morros e o seu aspecto actual.
Para o portuense foi e é uma vergonha o aspecto da pedreira do lado do antigo Morro da Cividade. Os variadíssimos projectos nunca foram levados a cabo. Parece-me que o de Siza Vieira foi o último e terá uns 10 anos.
Ficou toda a gente feliz porque o Metro do Porto, aquando das obras da Estação do Metro de S. Bento prometeu requalificar o local. Claro que foram só obras de superfície. E assim vai a Pedreira... 
A foto à esquerda, vista desde a Estação de S. Bento, mostra do lado direito o início da Rua das Flores; ao centro, o início da Rua de Mouzinho da Silveira tendo do lado esquerdo a actual Rua do Corpo da Guarda. Na foto da direita, edifícios na Rua do Corpo da Guarda recentemente reabilitados, mas...vazios. Estão para venda a preços incomportáveis. E admiram-se de ser o Porto a capital de distrito que mais desertificação sentiu nos últimos anos (Censos 2011). Claro que o nosso Presidente diz que a Cidade está como nunca. No fundo é verdade. Está como nunca... uma grande vergonha.

Um dos muitos edifícios destruídos.

A construção da Avenida da Ponte foi projectada como uma via ampla para fazer a ligação ao tabuleiro superior da Ponte D. Luíz, para sul, dedicada aos automóveis. A foto de cima mostra o seu início junto à Estação Ferroviária de S. Bento. Na de baixo mostra o actual términus pois já não há automóveis na Ponte.
Era aqui onde os dois morros se uniam, digamos assim. Do lado direito na foto inferior pode-se ver o que resta da Muralha Primitiva. Para o lado esquerdo é agora o caminho dos automóveis, no sentido da nova Ponte do Infante. 
Não sei se aqui ainda se chama Avenida (qualquer coisa). O metro acabou com os automóveis em 2005.
Fica o Porto para trás, entramos na Ponte, com Gaia à vista. O Tabuleiro superior foi inaugurado em 31 de Outubro de 1886 e o inferior um ano depois sensivelmente. Aqui deixo ressalvas sobre as datas porque já vi várias.
A Ponte foi portajada até 1943. Logo após a sua abertura o transporte público era o americano puxado a mulas. A foto foi obtida do Porto para Gaia, provàvelmente do alto das Verdades/Barredo.
As obras na Ponte, chegando a Gaia. O nome do autor ou editor da fotografia está irreconhecível.

Os americanos puxados a mulas deram o lugar aos eléctricos em 1905 e estes aos autocarros e trólei-carros em 1959/1960. Em 2005 entrou o metro na Ponte.
As obras na Avenida de Gaia.
A foto à esquerda em cima é onde existe o Jardim do Morro.
A da direita é no sentido do Porto.
As de baixo, a Avenida actualmente,
entre o Jardim do Morro e a subida para o Mosteiro da Serra do Pilar 

Do lado de Gaia existia o Morro da Serra do Pilar que impossibilitava a abertura de uma avenida. Era contornado até à actual Rua Luís de Camões. Só em 1905 com a entrada do eléctrico o morro foi em parte rasgado.
Vista do Jardim do Morro para a Escarpa da Serra.
O Jardim do Morro, visto desde o adro da Igreja do Mosteiro. Só em 1927 foi construído após o arrasamento total do Morro da Serra do Pilar.
A Avenida foi-se abrindo ao longo dos anos e será talvez a artéria mais importante da Cidade de Gaia.
Chamou-se primitivamente Avenida de Campos Henriques, em 1934 Marechal Carmona e após o 25 de Abril firmou-se o actual nome Avenida da República. Mas será sempre a Avenida de Gaia.
A Avenida vista no sentido de Santo Ovídio. Foi durante dezenas de anos a saída para o Sul do País
Como é bela a vista do Morro de Gaia. Um exemplo.

Para além das minhas memórias, deixo referidos alguns locais onde bisbilhotei textos:
A Cidade Deprimente http://outra-face.blogspot.pt/
E de um Tripeiro Beirão, Memórias suculentas em
Um à parte: Ao longo do texto fui referindo os vários nomes das duas Avenidas, independentemente de como lhes chamamos. Sobre a Ponte D. Luíz, na realidade chama-se apenas LUÍZ l. Há uma lenda sobre porque não foi baptizada com o D. mas já anteriormente a contei.




segunda-feira, 13 de agosto de 2012

137 - As Belas Terras do Norte de Trás-os Montes e Alto Douro.

Longe vão as minhas memórias de viagens que fiz por estas terras, embora os caminhos, com algumas excepções, não fossem estes que acabei de atravessar.
Trás-os Montes e Alto Douro são terras de excelência, que começaram por ser criadas regionalmente (como em todo o Portugal) no séc. XV,  adaptaram-se e desenvolveram-se durante séculos, confirmaram a sua regionalização na Constituição de 1933, até que os inteligentes inventores da Constituição de 1976 destruíram tudo, criando organismos e serviços administrativos que se multiplicam e repetem funções, sem funções nenhumas, apenas para dar tachos aos amigos e complicar a vida aos portugueses.
Falar de Trás-os-Montes e Alto Douro - eu continuo a chamar-lhe assim e "prontos" - é fácil e difícil. Percorri durante alguns anos as (péssimas) estradas que ligavam as Cidades principais da Província, com duas raras excepções em passeio, as restantes sempre a trabalho. Uma vez ou outra tinha tempo para visitar algumas aldeias - será que hoje se chamarão assim ? - e fazer algumas fotos que devem estar no arquivo do Instituto Português de Fotografia do Porto. 
Tantas e belas recordações me marcaram para sempre, mas isso são outras histórias.   

Em pleno coração do Douro Vinhateiro, algumas terras foram e continuam a ser preparadas para novas formas de plantio das vinhas. Terão também influência depois para a forma como as vindimas serão processadas.
E a paisagem muda a cada curva do caminho.

Embora o Douro seja um Miradouro constante, uma das visitas obrigatórias é ao Monte de São Leonardo (de Galafura). Situado a 566 m. de altitude, conforme refere a Câmara Municipal da Régua no seu site, ou a 630 a 640 conforme se lê na placa que está no caminho que leva ao Monte - para o caso não nos aquenta nem arrefenta -, é formado de sílex e quartzo. Aqui existiu um castro romano do qual foi governador Galafre, que etimologicamente deu o nome a Galafura, localidade criada pelos Mouros a Oeste do Monte, mas que derivado a um ataque de formigas foi deslocada 5 km. do local primitivo.
Gosto de saber datas quanto mais não seja para situar as coisas no tempo, mas isso a Câmara não nos informa. Assim como gostaria de saber o porquê de S. Leonardo. A capela no cimo do Monte deve ser a ele dedicado, mas em Portugal apenas há um templo dedicado a este Santo, para os lados de Peniche, em Atouguia da Baleia. E por dedução presumo que seja S. Leonardo de Noblac - ou Noblat - nascido no séc. V, patrono dos presos e das parturientes.

Ficam-nos as belezas que do seu alto podemos desfrutar. É "O Doiro sublimado"...

...como escreveu Miguel Torga: "O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à forma de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso da natureza..."

Bem próximo temos o acesso à IP4 que nos leva a Vila Real, enquadrada nas "Escarpas do Corgo".

Uma relíquia recordando a chegada do primeiro comboio a Vila Real vindo da Régua em 1906. É uma locomotiva de via estreita mod. 409, construída em 1908. Para quem gosta de comboios (olá Júlio, olá Mary,) uma visita a este blogue é obrigatória: http://luis363.blogspot.pt/

Vila Real tem as serras do Marão e Alvão ali à mão. A sua idade é velhíssima, vem do paleolítico e  terá nascido e crescido a partir de Panoias de quem recebeu o nome primitivo (Vila Real de Panoias). Neste lugar existe um santuário romano construído entre os séc. II e III.
Saibam os hoquistas de todo o mundo, que o hoje denominado vulgarmente stick e profissionalmente aléu, nasceu aqui com a choca, jogo que se praticava jogando-se uma pedra com um pau ao qual os naturais chamavam aleo. Conta a lenda que passando D. João I (1357/1433) por estes sítios, mostrou-se zangado com os rapazes que praticavam o jogo por "estarem distraídos das lutas guerreiras". Responderam os rapazes "o pau que bate na pedra também bate nos inimigos".

Seguimos para o Parque do Alvão e o olhar vai descobrindo relíquias. Uma pequena ermida num alto e na encosta, aglomeradas velhas casas.

Um batatal e à conversa com as pessoas, ficamos a saber o porquê de uma em cima e outras em baixo. Estão a regá-lo. A água vai passando e os regos vão sendo abertos e fechados para que percorra o batatal de cima abaixo. A missão de cada um é orientar o caminho da água com a sachola.

Velha Aldeia, casas de xisto e granito. Os telhados de colmo foram sendo substituídos.

Novas casas foram-se espalhando pelos lugares, alterando o aspecto habitacional que não o paisagístico.

Placas de informação bem rústicas, mas muito úteis.

O Parque Natural do Alvão é toda a Serra com o mesmo nome, paredes meias com a do Marão. Foi classificado em 1983 derivado à sua abundante avifauna, riqueza e variedade da flora e interesse da arquitectura local.

É uma área de formações xistosas de silúrico de grande interesse paisagístico e geológico, cujo fulcro é a queda de água do rio Olo. Este forma as Fisgas do Ermelo, passando muitas vezes incógnito por baixo das formações rochosas, mas que no seu todo é uma das maiores cascatas da Europa com 200 metros de extensão. Deve ser um sonho percorrer desde a nascente do Rio Olo até ao lago final. Mas acho que é só para alpinistas e águias, salvo alguns locais dos quais já vi maravilhas fotográficas.

Pelos meandros da Serra do Alvão vamos avistando o Monte Farinha em terras de Basto.

Vários caminhos, tanto pedestres como automobilísticos vão dar ao Monte.

Numa encruzilhada de vários caminhos que se juntam para chegar ao alto, assinala-se um ramal antigo do Caminho de Santiago. No alto de um enorme pedregulho granítico, encontra-se esculpida uma imagem do Santo. Em Julho realiza-se uma Romaria em honra do Santinho, como lhe chamam e  dizem ser das mais populares da região de Basto.

O Monte situa-se a cerca de 1000 metros de altitude  e nele encontra-se o Santuário de Nossa Senhora da Graça. É a terceira ou quarta ermida no mesmo local e esta foi construída entre 1748 e 1758 em granito da região. Já era ocultada em 1566.
O Monte antes de ser conhecido por Farinha ou Senhora da Graça, chamava-se de São Veríssimo e de Santo Apolinário.
Mas existe uma lenda sobre o porquê do Monte chamar-se Farinha e se venerar a Senhora da Graça. A grosso modo a coisa passou-se assim: Um moleiro andava de terra em terra com um pequeno moinho montado na sua carroça puxada por um velho jumento, moendo os cereais da população. Um dia deu "boleia" a uma jovem mas foram atacados pelos mouros. Na precipitação da fuga, o jumento ficou entalado nas penedias, a jovem emparedou-se numa das pedras que se abriu e fechou. O moleiro foi morto mas o moinho trabalhou como um danado fazendo farinha em quantidades tais que os mouros acabaram por fugir assustados. O Monte ficou com o seu nome e a Senhora embora nunca mais tenha sido vista e dizem que ainda hoje lá está na Pedra Branca, por causa do milagre e as Graças recebidas pela Farinha, erigiram-lhe um ermida em sua memória.
Claro que as datas históricas não batem certo, mas quem sou eu para não gostar de uma boa lenda?

Mas certos são os panoramas deslumbrantes em 360º que do alto se avistam. Na região existiram vários Castros anteriores à ocupação romana.
Outros indícios arqueológicos levam a presumir que seria um local de culto.

Três capelas seguem por um caminho que irá dar a Mondim. Foram construídas em 1886, 1889 e 1933. Mas todo o Monte mais parece uma enorme pedreira de onde se extraí granito amarelo, dizem que muito apreciado na Europa.

O meu querido amigo Fernando Súcio, a quem devo este passeio, bem enquadrado na paisagem.
E está na hora de seguir para novas paragens.
A partir da sua terra, a freguesia da Campeã, um belíssimo vale em plena serra do Marão, bem próximo da do Alvão.


O mais antigo documento conhecido que lhe faz referência data de 1091 («in terrotoris Pannoniarum… subtus mons Campelana»). Em 1134 foi-lhe concedida por D. Afonso Henriques carta de couto à chamada à Albergaria do Marão, aí situada. 
Em 1530 a freguesia é denominada de Santo André, mas em 1721 já surge com o seu nome actual. 

A Igreja matriz é um tempo do séc. XVIII, dedicada a Santo André. Tem quatro confrarias, a do Santíssimo Sacramento, a de Nossa Senhora do Rosário, a de Santo Nome de Jesus e a de S. Sebastião, todas sustentadas com esmolas e devotos dos fregueses.
Realizam-se anualmente festas importantes em honra do padroeiro Santo André, de S. Sebastião e de Santa Ana.
Para um leigo como eu, gostaria de saber mais coisas sobre o Templo. Ficam os registos de pormenores do tecto lindamente pintado e do Altar-Mor, uma relíquia em talha dourada. Realmente é uma Igreja belíssima, com muitos pormenores que a estudiosos deveriam interessar.
Estava em obras na altura da visita, preparando-se para as suas festas.
A Campeã foi uma zona mineira, principalmente de ferro. Desde há uma meia dúzia de anos que a sua exploração foi abandonada. Ficaram as recordações da Capela e das habitações dos mineiros. Hoje transformadas em Bairro Social.
Nos caminhos e suportes murais foram aproveitados os resíduos da exploração.

Um outro Bairro e uma exploração turística estão bem enquadrados na paisagem da região.
Subindo ao Marão, "deste lado", notam-se rasgadas "no outro lado" a velhinha Estrada Nacional nº 15 que faz a sua curva impressionante junto à Estalagem do Marão e o novo IP4/A4, que dará um dia, quem sabe, ligação à futura auto-estrada Transmontana.
As encostas dos montes precipitam-se por desníveis impressionantes. E para os amigos que fazem perguntas "esquisitas" sobre Túneis, desníveis, viadutos, etc. deixo-lhe uma amostra do que é viajar nesta montanha. Já Camilo Castelo Branco no séc. XIX se referia às velhas estradas, saindo do Porto. Escreveu ao seu amigo Alberto Pimental quando esteve encarcerado na Relação (na Cordoaria), uma lembrança que transcrevo de cor mas que será mais ou menos esta: Da minha cela vejo a Igreja do Bonfim e as saudades aparecem ao recordar quando ali apanhava a estrada real que me levava a Vila Real.
Lembro-me bem das dificuldades da N15, principalmente a partir de Amarante. Mas nunca imaginei verdadeiramente como era o Marão visto de outros montes.
Fez questão o meu amigo Fernando de me levar até ao ponto mais alto da Serra. Antenas de Rádio, não sei se de TV, o Vértice Geodésico e Observatório Astronómico estão a 1416 m de altitude.
O Miradouro chama-se da Senhora da Serra e pertence ao Concelho de Santa Marta de Penaguião mas na divisória com o de Baião. Dizem que em dias claros, daqui até o Atlântico se avista.
As "ventoínhas" da energia eólica são um presença constante na serra e esta assiste à nossa partida. Portugal o ano passado, era o 10º. produtor Mundial.  Mesmo assim andamos a morrer aos poucos... E há quem diga que interferem com o voo das aves, a paisagem é poluída sonora e visualmente e muitas precauções devem ser tomadas. Para o caso presente isso não nos interessa, porque vamos passar aos finalmentes.

Os finalmentes, claro, são as comidas e os vinhos. Tudo simples, como a feijoada à transmontana, os enchidos/fumeiro, mas até umas lulas grelhadas estavam no ponto, servidas no Chaxoila em Vila Real debaixo de uma ramada onde o calor não penetrava. Uma surpresa para aperitivar, Tripas(sim, das nossas, tripeiros)recheadas com presunto.Uma receita do tempo da velha tasca que já vem desde 1947. É só espreitar em  http://chaxoila.com/
Para terminar a refeição, um doce/gelado onde os fios de ovos são reis. Não há etiquetas nem papariquices e o vinho é da região. Mas há muita simpatia.

A minha querida Amiga Alda Paulino, Gaúcha-Portuguesa de todos os costados, tal como Torga ao seu/nosso Douro, sublimou o nosso Vinho com este belo poema de alma.

PORTO E VINHO
Cidade – vinho – rio,
caudal de águas
revoltas ou silenciosas,
rio Douro amante,
reflexos do casario
na água errante.
Vêm de longe
ao serpentear serrano,
lágrimas e suores
de brava gente.
Descem sinuantes,
mesclando serranias.
Labor constante
ao sonhar das noites,
e realizar aos dias.
E a parra agreste,
donzela enamorada,
espera a boda ansiosa.
Ao revolver
adubos e gestos,
vai brotando
o cacho macho.
De amor constante,
vindima e suor
promissor de castas.
E brota o sangue parido
entre esperança e gemido:
néctar rubro reverberado ao sol.

E até Outubro se faz discreto
recluso em tonéis e sombras
até o mistério se fazer completo.
Então, irrompe ao mundo
em brinde e farra,
filho dileto do Douro e terra.
Espanto único de prazer secreto
que cada gota, uma a uma encerra.
E por ser o melhor entre uso e fim
diga comigo degustando a essência:

TIM! TIM!
Um último adeus ao Sol que aquece e também separa as
Terras Quentes e Frias de Trás-os-Montes e Alto Douro
Um mundo infelizmente muito esquecido