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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

108 - As Muralhas Fernandinas, a Porta Nobre e a Alfândega Nova

Fazendo parte da Zona Histórica e do Património Mundial da Humanidade, Miragaia está excluída do Mapa Verde da Câmara Municipal do Porto. Daí talvez venha o meu carinho por esta bela freguesia.
Nas minhas pesquisas fui encontrando novas histórias sobre o que ela possuiu. E também adquiriu. Fotos antigas e desenhos roubei aqui e acolá para comparar com o que é hoje a parte leste/sul da Freguesia. E claro, tinha de encontrar por casualidade um site com a história do Porto, desde a época dos Godos, para saber mais algumas coisas sobre Miragaia.
Mas apenas me interessa referir, por agora, a Porta Nova ou Nobre e a Alfandega Nova. Para melhor orientar os meus pacientes leitores, começo por apresentar o mapa retirado do Google:
1. Passeio das Virtudes. Por aqui existiu uma porta nas Muralhas que desciam das Taipas em direcção ao Rio Douro. Alguém escreveu que era no local onde está a Igreja de S. José das Taipas, 100 metros mais acima. Para o caso não interessa muito, pois é a partir daqui que quero contar a minha história:
2.e 3. Antiga Casa dos Padres Bernardos de 1619. Posteriormente foi adquirida, em 1923, pelo Clube Inglês. Entrou em ruína, foi recuperada e hoje alberga uma instituição de solidariedade social.
Ao longo do parque, podem ver-se panos das Muralhas em belíssimo estado de conservação. Do alto, uma paisagem magnífica.
A. Ao longo da Rua Francisco Rocha Soares, pode ver-se um cubelo que ainda existe, sabendo-se que as traseiras das casas de habitação, pelo menos uma grande parte, estão encostadas às muralhas. Esta Rua vem dar ao largo de S. João Novo (4.), onde um palácio que já foi museu está abandonado e a cair, e à Igreja e Convento que deu o nome ao Largo. Mesmo na esquina para quem desce para Belmonte, mora o Fado. Esta zona pertence à freguesia de S. Nicolau.
5. Bem como a Capela de Nossa Senhora da Esperança, do séc. XVIII, encostada à Igreja de S. João Novo e às Muralhas, ligada às gentes do Rio e do Mar. Todo este conjunto está à espera de qualificação (?) do IGESPAR desde 2003, que de despacho em despacho o prorrogou até 31.12.2012. Mas sigamos porque é outra a minha história.
Aqui existiu uma porta onde o Rei D. Manuel I por volta de 1522 mandou construir um Baluarte que durou até 1874.


6. Dobramos a Capela pela esquerda e encontramos de novo as muralhas, que descem para o Rio seguindo por íngremes escadas que se chamam do Caminho Novo. Servem as duas freguesias: S. Nicolau e Miragaia, segundo a toponímia da Câmara Municipal.
7. O final das Escadas, na Rua da Alfândega.
7. O (as Escadas do) Caminho Novo visto da Rua da Alfândega.
Estamos no que outrora foi a Praia onde havia um postigo, chamado da Praia, que o Rei D. Fernando mandou construir e colocou as suas armas e o Rei D. Manuel I mandou demolir, em 1522, construindo, em seu lugar, uma porta mais ampla que por isto se chamou, Porta Nova. Por aqui passavam solenemente então as figuras principais da Nobreza e Clero que entravam no Porto.

Dois aspectos interpretados por autores diferentes do que seriam as muralhas que iam até ao Rio Douro, com os postigos.
D. Manuel, na reconstrução desta porta, mandou colocar sobre o arco as armas de D. Fernando I, que estavam no postigo e tinham 13 castelos. Sobre esta porta foi construída uma casa para a Guarda, que posteriormente serviu para inspecção sanitária das "toleradas". Sobre a porta da entrada estavam as armas de Portugal. Em 1872 foi demolida esta porta e as pedras com as armas de D. Fernando e de D. Manuel (que estavam no Baluarte da Esperança) foram enviadas para o Museu Allen no actual Largo do Viriato e posteriormente para o Museu Nacional de Soares dos Reis.
As Muralhas e a Porta foram demolidas para a construção da Nova Alfândega e a Rua que lhe dá acesso e ficaram soterradas até hoje. Ninguém se atreve a mexer na arqueologia do sítio. Tentaram há alguns anos abrir um parque automóvel subterrâneo, mas ficou tudo em águas de bacalhau.
O aspecto actual da rua, terrenos e Alfândega. Da rapaziada do meu tempo e claro, os ainda mais temperados de idade, lembramo-nos do que era esta zona que incluía uma linha de caminho de ferro percorrendo toda a circunvalação exterior até Leixões. O túnel que existia está emparedado. Como era bom a CP - ou Refer, não sei - conseguir a reabertura desta linha, uma outra forma turística de percorrer o Porto e as Cidades vizinhas por caminhos rurais.
Duas fotos com mais de um século de permeio e a história de Miragaia/S. Nicolau: 1. Igreja do Convento de S. Francisco; 2. S. João Novo; 3. O que ainda restava da Porta Nobre na foto antiga e na actual o local onde existiu.
Uma outra comparação, cujas fotos foram obtidas quási do mesmo local: o Lugar do Castelo de Gaia.

Pormenor de Miragaia com parte das Muralhas bem destacadas.

As Cidades têm de viver com o progresso, que quási sempre provoca estragos irreparáveis na sua história, na sua monumentalidade, na sua cultura, nas suas gentes. Não sei se muito do que foi pura e simplesmente destruído na Cidade do Porto, com outras pessoas a dirigi-la, teria sido evitado. Por outro lado resta a esperança que um dia apareça algum iluminado Presidente que ajude a redescobrir e a retomar a História da nossa Cidade.

Para os curiosos quer gostem ou não da minha Cidade recomendo estes espaços 
Das fotos e desenhos desconheço os autores.

Pequenas Notas: Porta Nova ou Porta Nobre é a mesma. Dependia conforme o povo lhe chamava.
Ao longo da Muralha que circundava a Cidade Medieval e que demorou 40 anos a construir, existiam Portas ou Postigos de acesso. Alguns Postigos foram demolidos para darem lugar a Portas por darem melhor passagem de carros. Hoje apenas resta um Postigo, o do Carvão, junto ao Cais da Estiva no Muro dos Bacalhoeiros na zona chamada da Ribeira.