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sábado, 21 de janeiro de 2012

111. O Carvalhido e a Estrada da Póvoa

Nos meus tempos de menino ouvia falar na Estrada da Póvoa devido às excursões familiares de grupos de amigos que se cotizavam (não é erro esta palavra, embora seja mais corrente dizer-se quotizavam - cotas » quotas -) semanalmente durante um ano para esses passeios. Eram chamadas Caixa dos 20 amigos, sendo os movimentos de dinheiros escriturados em 2 livros, cujos modelos eram produzidos em algumas papelarias-tipografias da Cidade do Porto. Lembro de duas, a Académica e a Progresso. Na contabilidade chamar-se-iam o Caixa/Diário e o Razão. Um dia ainda será tema para umas escrevinhadas.
Como os meus tempos agora são muito livres, pesquisando, fiquei a saber que esta estrada teve início no antiquíssimo Largo dos Ferradores, actual Praça de Carlos Alberto, pelo lado esquerdo de quem está voltado para Norte. Mas agora só me interessa a zona do Carvalhido até ao Monte dos Burgos e estrada da Circunvalação actual. Por variadas razões. Mas vamos por partes que é história para durar.
Carvalhido cujo nome derivou de uma mata enorme, chamar-lhe-ía floresta,  na qual predominavam  Carvalheiras, espécie arbórea com mais de 600 variedades. E onde viviam também várias espécies de animais selvagens.
Aqui se fundem três freguesias da Cidade: Cedofeita, Ramalde e Paranhos.
Quem vem de Cedofeita, antes do cruzamento com a Rua da Constituição, um belo palacete cujas origens desconheço, mas que actualmente é propriedade da Liga dos Combatentes e no qual funciona uma creche para os filhos dos combatentes. ( http://www.ligacombatentes.org.pt/creche ) . Tenho quási a certeza que não é uma creche com essa finalidade. A não ser que se incluam os combatentes-mercenários actuais das nossas forças armadas.
É a bem conhecida Quinta Amarela. No site lê-se que está aberta ao público em geral, mas só vi portas fechadas e muros altos. Esta é uma foto de ângulo morto...
Carvalhido é o nome de um lugar que existe sem memória nos tempos. Foi  um dos Caminhos Portugueses de Santiago de Compostela. Recordando esse caminho, o Cruzeiro do Senhor do Padrão, construído em 1738, hoje na confluência de várias artérias que vão dar ao antigo Largo do Carvalhido, hoje (desde 1835) Praça do Exército Libertador. Sobre isso conversaremos a seguir, noutra postagem, sobre a Prelada.
Marca um período de religiosidade da época setecentista. Creio que ainda se comemora uma festa religiosa em Julho.
No centro do Carvalhido, a Igreja velha, considerada Capela e a primeira vez mencionada em registo paroquial de Santo Ildefonso de 1760, cuja Padroeira era Nª Sª da Anunciação e o Espírito Santo.
Foi a primeira vez que entrei nesta Igreja. Mas como é triste não se saber um pouco sobre a sua história. Por mais pesquisas que tenha feito, só encontrei os dados acima referidos, que não sei se tem alguma coisa a ver com a Igreja actual.
Escrevi Igreja Velha, pois sobre a nova Igreja que lhe fica mais ao menos por detrás, com entrada por uma rua que vem da Avenida de França, não lhe faltam referências. Projecto do Arq. Luís Cunha.

Ao fundo, é o Largo do Carvalhido - o portuense assim lhe chama ainda - ou Praça do Exército Libertador. À direita presumo que seja a chamada Casa Paroquial, encostada à Igreja. À esquerda é a Rua da Prelada, que conforme já referi é assunto para outras conversas.
Porque meu falecido irmão aqui morava e também por várias visitas que fiz a amigos internados no Hospital da Prelada, este local não me é muito estranho.
Do Largo parte a Rua do Carvalhido em direcção ao Monte dos Burgos e Circunvalação - a tal Estrada da Póvoa - onde encontramos vários Palacetes, um dos quais servindo como Esquadra da Polícia de Segurança Pública. E já há muitos anos. A célebre esquadra do Carvalhido, famosa pela pancadaria e prisões que os seus queridos agentes distribuíam e faziam entre o pessoal do contra. Com uma parte a precisar de obras, o que não é excepção nesta bela Cidade a cair aos poucos.
Num outro edifício, ao serviço da Câmara Municipal desde há longos anos e que nós, portuenses, chamávamos-lhe o da aferição (era aqui que balanças e medidas de peso e capacidade eram aferidos) agora ao serviço (?) dos munícipes e da habitação social, encontra-se um frontal com as armas da cidade, cuja origem desconheço. O lixo que se vê à direita, esse não me é desconhecido. Tenho uma foto de 2009 onde está bem representado. Se não é este, provàvelmente será um irmão...
A continuação da Rua do Carvalhido é a Rua do Monte dos Burgos. Toponímia sem qualquer origem primitiva conhecida, embora a Câmara Municipal refira como local de pedras - ou seixos - existentes no relativamente próximo Rio Leça. Tanto quanto li, a referência a esses seixos será na Prelada. Mas isso são outras histórias.
Ora como Prelada é conhecida a Quinta, que já teve Parque de Campismo, denominado como do Porto, desde meados dos anos sessenta até há 5 anos. Concessionado e arranjado o espaço com muito miminho pelo Clube de Campismo do Porto destinava-se exclusivamente aos "pés descalços de mochila às costas", que talvez por isso e outras razões, os seus dirigentes levavam uns desaforos no tempo da outra senhora (Leia-se PIDE e /ou DGS). As razões que levou a Santa Casa de Misericórdia do Porto a não revogar a concessão, não está esclarecido. Mas presumo eu, que terá sido a pensar em mais um negócio "chulo". Que envolveriam umas permutas de terrenos e outros negócios, nunca explicados, claro.
Mas este espaço não é o que foi a Quinta da Prelada original do séc. XVIII. Aqui, da original quinta, apenas existem parte dos terrenos, a Torre ou Castelo e a Fonte de Bruguel, trasladada do seu local original.
Com muito blablabla pelo meio, ía este espaço ser aberto ao público. Como se pode constatar nem o nariz podemos lá meter. Tanto quanto se apercebe cá de fora, está degradado, os jardins a monte, tudo desprezado. Coisas à moda do Porto, da Câmara e da Santa Casa, o que não é para estranhar. Mas um mapa ainda aqui continua.
Ponto final da Estrada da Póvoa dentro da Cidade do Porto. A 200 metros está a estrada da circunvalação e a sua continuação passa pelo Seixo, agora pertença de Matosinhos, antiga Julgado de Bouças.
Recuando ao Largo do Carvalhido para um pequeno passeio sentimental. Passando pelo lado direito da Igreja velha, entramos na Rua da Prelada que seria o início da Quinta, conhecido antigamente como o Lugar das Pirâmides. Explicarei com a ajuda do Prof. Joel Cleto o seu significado num futuro breve.
Aqui confluem a Avenida de França e a Rua Pedro Hispano, à esquerda. À direita temos a nóvel Avenida Estados Unidos da Europa - ou coisa que o valha toponìmicamente - e em frente a Rua de Francos. Mesmo no meio, uma espécie de Palacete, chamado Casa dos Castelos. Provàvelmente a relembrar os Castelos da Casa da Quinta da Prelada. E cujo nome tomou a rua que fica à direita da Rua de Francos.
Mas é por Francos que quero seguir, pois aqui nasceu minha avó e minha mãe que se mudaram para Visconde de Setúbal por questões profissionais, ficando por cá a família.
Não me lembro ao certo há quantos aqui não vinha. Talvez uns 45 a 50 anos. A referência era a Travessa de Francos, que esperava já não encontrar.
Afinal, vim encontrar a travessa tal como dela me lembrava.

O pátio interior do bairro central, com a única diferença do poço da água estar fechado.
A travessa desemboca do outro lado na Rua do Lugarinho. Tanto quanto me lembro, era uma rua estreita. A sua origem vem de 1887, resultante da abertura de um caminho de pé-posto e cujos terrenos foram negociados a Manuel Gonçalves Lugarinho. Registado no Arquivo Histórico de Matosinhos.(http://joelcleto.no.sapo.pt/)
Mesmo em frente da Travessa de Francos, encontra-se uma pequena retrosaria onde entrei e fiquei a conversar com uma senhora, sua dona. De uma simpatia extraordinária, lembra-se perfeitamente da minha segunda prima Guida e da irmã Celeste. Dos filhos desta não se lembra.
Recordou-me onde ficava a Estampara Império - à direita na foto e que agora é um empreendimento urbanístico - e a Fábrica das Bananas ao fundo da rua. Também ela uma urbanízação.
Mas como os factos da vida são curiosos. A Fábrica das Bananas era uma torrefacção. O nome veio-lhe porque importavam bananas das ilhas e colónias para venda directa à população. E a senhora da retrosaria não será a Senhora Fernandinha que Joel Cleto nos recorda no seu http://joelcleto.no.sapo.pt/textos/RuasdeRamalde.htm ?
Infelizmente, só depois do meu passeio, fui espreitar o que a net me poderia relembrar sobre este sítio. Que pena tenho de não ter confirmado se a Senhora Fernandinha era a mesma. Pelo seu aspecto, acho que é mesmo. Um dia hei-de lá voltar.