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sexta-feira, 2 de março de 2012

116 - A Vilarinha

Comecei a ouvir falar da Vilarinha muito novo, por causa das corridas de automóvel que se realizavam nos anos 50 do século passado no Circuito da Boavista. Fixei nomes como Vasco Sameiro, Casimiro de Oliveira (irmão do Manoel a quem me referirei mais à frente), Nogueira Pinto.
Vilarinha é um nome originário do românico Villae e era - é - um lugar na localidade de Aldoar, este de origem árabe. A história da Freguesia fica para outra altura. Era uma povoação entre o Porto e Bouças, actual Matosinhos.
Fui descobrir a Rua da Vilarinha que nunca percorrera, começando o passeio desde a Estrada da Circunvalação. Na esquina, o antigo e recentemente remodelado Teatro da Vilarinha, Casa da Cultura de Aldoar, pintado com uma cor horrível - na minha opinião, claro - , cujo edifício já serviu de Posto Alfandegário na altura em que as mercadorias entradas na Cidade do Porto pagavam imposto. Posteriormente foi a sede da Junta de Freguesia.
O Teatro alberga a Companhia Pé de Vento, formada em 1978, cuja actividade cultural divide com outras áreas.
A rua encobre uma parte do caminho antigo que os Romeiros e Peregrinos percorriam até ao Bom Jesus de Bouças, que como atrás referi, agora se chama de Matosinhos. Ao longo da Rua vêem-se alguns edifícios do séc. XIX.
Uma antiga escola primária, bem recuperada pelo menos exteriormente, está abandonada e coberta de silvas. Presumo que seria a Escola nº 26 e o seu abandono deve ser relativamente recente, pois vi uma foto dos anos 80/90 em que a encosta do pequeno monte estava lindamente ajardinado. Incluindo um emblema florido que presumo ser da heráldica de Aldoar. Lema Português: Em vez de se utilizarem os edifícios para qualquer coisa, é melhor deixá-los ao abandono. Assim não tem custos.
Um pouco mais abaixo encontra-se a Igreja da Vilarinha, inaugurada em 1738, embora no Portão esteja gravado o ano 1892. Talvez esta seja a data da cêrca. Mas antes vamos até ao Núcleo Rural de Aldoar, integrado no Parque Ocidental da Cidade, que dista da Rua da Vilarinha uma vintena de metros.
Aldoar era um lugar essencialmente rural. Este núcleo é formado por 4 quintas que foram sendo abandonadas.
As Casas, umas, residências, outras, cortes de animais e guarda de utensílios de trabalho, foram recuperadas e mantiveram o seu aspecto antigo. Agora albergam serviços camarários e de apoio ao Parque, bem como uma cafetaria e um picadeiro. Espigueiros também foram recuperados. Aos sábados julgo que ainda se realiza uma feira de produtos artesanais.
Regressados ao nosso itinerário principal, encontramos o novo edifício da Junta inaugurado em 1989 e a Velha Fonte de Aldoar de 1902.
Em frente fica a antiga Igreja da Vilarinha, dedicada a S. Martinho, padroeiro da Freguesia. Este S. Martinho foi o soldado romano, pagão, que dividiu a capa com um mendigo. Homenageado em Marte, o Deus da Guerra. Nascido na actual Hungria em 315, enfrentou o exército Bárbaro sem armas. Tudo pela visão que teve de Deus, após o repartir da capa com o Mendigo. Reconvertido ao Cristianismo, daí a Santo foi um pulinho.
Em redor da Igreja há um grande parque lindíssimo e bem conservado. Pelo menos à vista de longe, pois está fechado ao público. No exterior, vê-se um cruzeiro sem qualquer referência.
Em frente, as tradicionais alminhas que encontramos por muitos locais na Cidade. 

A Casa de Manoel de Oliveira. Que se pronuncia  mɐnuˈɛɫ doliˈvɐjɾɐ segundo a Wikipédia na página da sua biografia. Com a devida vénia transcrevi tal qual lá está pelo processo copiar/colar. Só ampliei um pouco para melhor leitura dos meus visitantes. Para mim parece escrita aeroglifica, mas para o caso não interessa nada.
Manoel de Oliveira, (respeito o nome inscrito no que presumo ser a sua certidão de nascimento, - num dos cartazes, pois há vários, publicitando o filme Aniki-Bóbó está escrito Manuel o que deve ter sido considerado um desaforo -), é como todo o mundo sabe, o realizador de cinema mais antigo no mundo vivo. Nasceu em 11 de Dezembro de 1908. E ainda quer fazer muitos filmes. Além de realizador, foi corredor de automóveis e actor, praticou salto à vara no Sport, esteve ligado ao Teatro Experimental do Porto (creio que foi um dos fundadores). Da sua casa propriamente dito,para além do muro junto à rua, apenas se consegue ver a parte superior de uma chaminé. Autentica fortaleza.

Do outro lado da rua, um pouco à frente no sentido do meu percurso, duas tradições do Porto Cidade. Uma residência operária, (era assim que se chamavam oficialmente por viverem nestes aglomerados as pessoas de menores recursos económicos mas a que o portuense lhes chama ilhas) e um velho fontenário, provàvelmente como muitos outros, construído na Fundição de Massarelos.
Dei um desvio para a Rua do Jornal de Notícias - parabéns JN pelos 123 anos - para ir conhecer a nova Igreja matriz de Aldoar, inaugurada em 1988.

A Rua Jornal de Notícias

Uma das novas escolas de Aldoar. Esta me parece ser um infantário.

Edifícios simples mas de bonita construção civil vêm-se ao longo da Rua da Vilarinha.
Deva-se dizer que foi uma das ruas do Porto, no limite da Cidade, habitada pelos ricos.
E chegamos ao fim, na junção das Avenidas da Boavista e Dr. Antunes Guimarães.
Aldoar continua para além, mas isso ficará para novas histórias de outras caminhadas .