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sexta-feira, 4 de maio de 2012

126 - Campanhã. A Oriente do Porto. 2ª Etapa

Resolvi fazer um passeio tentando ligar por uma dura (soube-o depois)  mas bela caminhada, alguns lugares do último roteiro ( Post 125) sobre Campanhã saindo agora desde o Alto do Soutelo, no entrocamento de Rio Tinto e Fanzeres. No sentido do Lugar das Areias. Se o anterior começou de Sul para Norte, este é o contrário.  
Uma grande parte do percurso, talvez uns 2 km e pouco, foram feitos por zonas habituacionais. No entanto, para o lado esquerdo que deve pertencer a Fânzeres, por entre algumas residencias, vêm-se belas matas e no seu interior umas hortas bem aproveitadas. 
O progresso trouxe as auto-estradas que no Lugar das Areias alteraram toda a zona. Aqui é mais uma divisória entre o Porto e Gondomar. Agora há a Rua, Travessa, Rua Nova, Largo das Areias. Mas não descobri o porquê deste topónimo.

Passando a Ponte que atravessa as auto-estradas, encontramos à esquerda, um pouco à frente, o Horto Municipal do Porto. Dizem - ou escrevem - que é o maior e mais belo do País. Não sei se é visitável, mas hei-de saber.
Diz-se também que está localizado na antiga Quinta das Areias, no Lugar de Azevedo, em Campanhã. Foi uma antiga quinta com capela que remonta ao séc. XVIII, com uma áre de aproximadamente 67000 m2, tendo sido adquirida pela Câmara Municipal do Porto em 1937 para instalar o Horto.

Do outro lado da rua, olhamos uma bela panorâmica por toda a parte Norte de Campanhã e Bonfim, com a Bela Vista e Antas ao alto. Corujeira e S. Roque da Lameira em baixo. Mas há muito mais para deliciar a vista para além do que a pequena imagem mostra.

Um desvio pela esquerda para entrar num caminho que pomposamente se chama Rua de Furamontes.
Parece que a actual Quinta das Areias, ou pelo menos uma parte, seria a primitiva Quinta de Furamontes.
Este topónimo provàvelmente teve origem na alcunha de um morador ou proprietário local.

É de 1608 a primeira referência ao local, o que não quer dizer segundo a Câmara Municipal do Porto, que não seja anterior. Em 1601, um assento de óbito de Campanhã menciona a aldeia de Fial, que em 1632 se diz Fial Maior, Faial em 1653 e Feal em 1664. Este lugar identifica-se com o de Furamontes; lemos em registos paroquiais de 1724, Fial de Furamontes e em 1735 Fial ou Furamontes...( Toponímia Portuense de Andrea da Cunha e Freitas ) no site da Câmara.
Há Furamontes por Ferramontes (paralelismo com minas de ferro) nos Registos Paroquiais de Campanhã.

Sem ver viv'alma lá fui prosseguindo o caminho por entre muros e mata, sem fazer ideia onde me encontrava. E a orientação pelo mapa da Cidade oferecido aos "turistas" não ajuda nada, porque os lugares do extremo oriental nem referenciados estão.
Caminhando por caminhos de pé posto, vão aparecendo encruzilhadas, com muros altos ou mata. Com palpite, meter numa encruzilhada à direita e encontra-se o Calvário. Lugar que foi muito antigo e ainda assim se chama, isso sei, mas agora com Rua, Travessa e creio que Largo.
Em tempos de afirmação religiosa, era fundamental a cristianisação de lugares de passagem, de caminhos mais concorridos, de encruzilhadas, de pontos altos. Em 1758 eram 5 as vias sacras que percorriam a Freguesia de Campanhã. 70 ou 80 cruzes que denotavam o fervor católico. De entre elas, ...uma que vinha da Capela de Nossa Senhora do Pilar (referi a existência de uma antiga capela na Quinta das Areias, que terá sido de Furamontes) do Cazal de Furamontes ao Monte de Azevedo. ...Todos os lugares com cruzes de pedra bem lavradas... Presumo então que para chegar ao Monte de Azevedo, seria pelo Calvário a sua passagem, de quem vem das Areias, como eu vim.
Passa-se ainda pelo Lugar da Aldeia, sempre por ruas estreitas, mas sem nada de especial a referir segundo uns moradores. E encontramos o alto de Azevedo anteriomente percorrido em parte.
Para a direita é o Parque Oriental, onde várias ruas lá vão dar, mas passando pelo Bairro do Lagarteiro. É complicada a passagem pelo Bairro apenas por causa dos arruamentos e escadas que é preciso descer.
Descansei um pouco, vendo uma peladinha, num recinto bem tratado.

Por indicação precisa de umas moradoras, caminha-se entre um Bloco residencial e a mata, atravessa-se uma vala e entramos no novo arruamento, que até são dois, que passa pelo Parque e vem desde o Lagarteiro acabando na nova IC29. Ou N12, não sei. Tudo isto porque queria ir para Norte e talvez uns 6 km tivessem sido percorridos, uma boa parte por caminhos que sabe-se lá porquê se chamam de ruas. Mas queria conhecer como é o Pêgo Negro actual.
Mas valeu a pena subir mais um "pouco" e apreciar o Parque cá do alto.

O Ribeiro chamado de Rio Tinto, nasce salvo erro em Ermesinde, atravessa a Cidade que deriva do seu nome (em tempos remotos uma grande parte dela pertenceu a Campanhã) e passa ao lado do Parque a caminho de sua foz no Esteio de Campanhã, juntando-se por essa altura ao Rio Torto.

Chega-se a Pêgo Negro por baixo da auto-estrada, a tal IC29 ou N12. É uma longa artéria, chamada de Rua, que vem desde a Circunvalação, atravessa o Rio Tinto, num sobe e desce constante. Continua a Norte do Parque Oriental e lá vai a caminho das Areias, junto ao Horto.
Conseguimos uma vista deslumbrante sobre o vale com o Parque, floresta, mata e hortas atravessadas pelo Rio, sobre o qual há algumas pontes. Uma em ruínas junto ao que presumo serem também ruínas de um moinho. Outras "inventadas" pelos hortelãos.
Caminhe-se então pelo Pêgo Negro. Um amigo que em tempos me escreveu sobre ele (ou ela, Rua) , talvez se lembre ainda desta zona.
Imagens antes e depois de atravessar o Rio. Uma ou outra ruina de velhos moínhos ainda se vêm. Na toponímia da Câmara Municipal, lê-se que a mais antiga referência que se conhece ao Pêgo Negro é de 1591, num registo de óbito da Freguesia de Campanhã. Outra referência é de 1785 como Ribeiro do Pêgo Negro.
Não me lembro se era em Pêgo Negro, ou mais abaixo no Lagarteiro, que existia uma tasquinha, presumo reconstruída numa velha casa com moínho, dada a conhecer por meu Pai. Tinha uma bela ramada no verão, junto ao Rio Tinto, onde se comia um saboroso bacalhau assado na brasa acompanhado de uma não menos excelente "broa". O vinho era o tradiccional "americano" de sabor e cheiro gostosíssimo, cuja venda ainda hoje é proíbida. O segredo do bacalhau estava no Rio, pois era onde o demolhavam na levada que ali fazia,  dentro de sacos de sarapilheira.

Chegamos à Circunvalação, uma extensa cinta que envolve toda a Cidade desde o Freixo, junto ao Esteio de Campanha, até ao Castelo do Queijo, num perímetro aproximado de 30 km. Estabeleceram-se barreiras ao longo dela para a cobrança de impostos sobre as mercadorias entradas na Cidade, autorizados por Carta de Lei de 25 de Fevereiro de 1861. Numa extensão de cerca de 16,5 km construíram-se fossos, cavados em volta da Cidade para dificultar o contrabando. Ficou totalmente pronta em 1897. Aquele imposto foi abolido em 1943, desaparecendo as barreiras.
Lembro-me ainda de se chamarem Barreiras a alguns pontos da Circunvalação, fronteiros com as localidades vizinhas, como por exemplo o do Freixo, de Rio Tinto junto à ponte, da Areosa. Aí se encontravam enormes balanças para pesagem de camiões. Junto à Ponte Luíz I, mas do lado de Gaia, ainda lá se encontra uma. Nesses pontos, encontravam-se postos da Guarda Republicana.

Por estes lados existe outro lugar, conhecido como Tirares. Cujo origem pode ter sido a cidade fenícia de Tiro, na Líbia, junto ao Mar Mediterrâneo a cerca de 30 Km de Sidon. Hoje chama-se Sur.
É Rua e Travessa e vem do Lagarteiro até ao lugar dos Moinhos, na Circunvalação. O nome pode ser corrompido de Tiraz, de uma Azenha com esse nome, que em 1422 pertencia a uma dama portuense sendo o Cabido o senhorio.
Santa Rosa de Viterbo (Viterbo, Itália, 1233-1252) ensina que Tiraz era uma espécie de pano de linho com ramos e feitios, que se usava como talagarça. (Pano grosso e ralo onde se borda).
Mas também pode ser lugar ou fábrica onde se manufacturavam famosos tecidos, bordados e tapetes que o luxo dos sarracenos exigia. Muito usual no Centro-Sul de Portugal, principalmente em Arraiolos e daí talvez venha a fama dos seus tapetes.
E prontos, acabei e logo com umas derivações que parecem nada a ter com o meu passeio. Não será bem assim, porque tudo tem uma origem. E Campanhã tem origens bem antigas, pelo menos desde o período megalítico. E como por cá andaram Suevos, Fenícios, Gregos, Cartagineses, Romanos, Muçulmanos, Judeus, Arménios, - a ordem é arbitrária - não falando já dos famosos Lusitanos que depois "deram" com Celtas e Iberos os Celtiberos, com origem no séc. VI antes de Cristo e reconhecida por Plínio, o Velho, -que morreu em Pompeia durante a erupção do Vesúvio  - umas centurias mais tarde.