Pesquisar

sábado, 1 de setembro de 2012

139 - Vila do Conde

Em Vila do Conde comi no dia 1 de Maio de 1975 as melhores fêveras de que me lembro. Foi numa tasquinha de "portas à texas" mesmo em frente aos antigos estaleiros. A dona, simpática senhora já de alguma idade e vestida de preto, foi de uma gentileza enorme.
Hoje as tascas desse tempo são restaurantes onde os preços são 5 estrelas. A comida não faço ideia de como é, mas na tasquinha com esplanada no Mercado, come-se bem por uma média de 9 euros, incluindo vinho, cafés e bagaços. Encerra às segundas-feiras.
Quero com isto dizer que gosto de Vila do Conde.

É uma cidade linda, aberta, com vários Monumentos Nacionais, Igrejas e Capelas, Museus e Feiras e muitas tradições antigas. As ruas atapetadas de flores no Corpo de Deus são um exemplo. As freguesias do concelho, exteriores à Cidade, possuem também belos monumentos como é o caso de Azurara, do outro lado do Rio Ave. A pré-história deixou muitas lembranças, por aqui espalhadas. Foi uma área de passagem e depois de fixação de povos.

Vila do Conde é uma localidade antiquíssima. Onde está localizado o Mosteiro de Santa Clara terá existido um Crasto da Idade do Ferro. O Crasto de S. João

O Rio e o Mar foram juntamente com a Agricultura, as riquezas dos naturais. Desenvolveu-se a Construção Naval e os seus estaleiros foram famosos.

O Mosteiro de Santa Clara foi fundado em 1318 por D. Afonso Sanches e sua esposa D. Teresa Martins que entrou em ruínas séculos depois. O edifício que hoje conhecemos é uma construção do séc. XVIII, mas só entre 1929 e 1932 a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais levou a cabo obras de intervenção e conclusão das fachadas. Resta a Igreja, o Chafariz e parte do Aqueduto.

Tudo isto não se vê interiormente, pois está fechado. Pelo menos, das várias vezes que aqui vim, nunca vi nada aberto.

Junto ao açude, do outro lado Rio, existe uma velha Azenha quinhentista, que os Marqueses de Vila Real mandaram construir no séc. XVI

Ruas estreitinhas descem do monte. Lá no alto outros monumentos e edifícios para além do Mosteiro bem como da sua Igreja.

Vários edifícios em bom estado de conservação, mostram a beleza da cantaria e do ferro.

Nunca tinha encontrado a Casa-Museu José Régio aberta. Foi desta vez e por 1,04 euros podemos apreciar as belas colecções que o escritor legou a Vila do Conde. Mas fotografar não se pode, o que é um desperdício por não se poder mostrar o conteúdo.
Só para recordação fiz esta foto - não sei se fui autorizado - na recepção, situada na casa onde nasceu o escritor em 17-09-1901. Na foto anterior, é o edifício da esquerda. O da direita foi onde viveu depois do seu regresso de Portalegre onde leccionou desde 1928 a 1967, até à sua morte em 22.12.1969.
O acerbo é essencialmente de cariz popular na sua maioria Arte-Sacra. Digno de ser visitado.
  
No pequeno jardim chamou-me a atenção uma romãzeira de pequeno porte. Ainda em floração mas com bastantes frutos. Menos de metade do tamanha das romãs que conhecemos. Não me souberam dizer há quantos anos foi plantada.

Hora de passeio ao longo do Rio, com Azurara do outro lado. O Rio vem criando presumo que são algas ou jacintos, não sei, tornado-o extremamente poluído. Parece não haver cura para este mal.

Terminou há dias a Feira de Artesanato.Vi todo o Portugal Continental representado com inúmeros stands, incluindo o já bem conhecido de venda de Queijo da Serra e Presunto. Uma delícia aquelas sandes em pão de que não soube a origem. Não me lembro de ver se as Ilhas estavam representadas.
Na próxima semana começa a Feira de Agricultura.
A não perder uma visita, que são três incluídas no mesmo pacote: Alfândega Régia, Nau Quinhentista e Casa do Barco. Lembrei-me de apresentar a idade e tive desconto. Acho que foi 1,06 euros o seu custo.   
A Alfândega Régia de Vila do Conde foi criada por D. João II em 27 de Fevereiro de 1487 no coração da zona ribeirinha onde existiam os estaleiros navais.
A exposição apresenta três vertentes: A Navegação Portuguesa, especialmente aquela que teve origem e destino em Vila do Conde; A História da Alfândega, o funcionamento, seus oficiais, produtos desalfandegados; A História da Construção Naval, tipos de Barcos aqui construídos e as respectivas técnicas e processos utilizados na construção naval de madeira.
Uma grande variedade de produtos e especiarias e as suas origens estão em exposição.

O edifício é de final do séc. XV e durante o séc. XVIII sofreu várias ampliações para colmatar as necessidades que o imenso tráfego comercial obrigava.

Passamos à Nau Quinhentista, uma réplica perfeita das que aqui se constuiram no séc. XVI.

Por entre os cabos, avistamos ali próxima a Capela de Nª Sª do Socorro, mandada construir em 1599 pelo piloto-mor das Carreiras da Índia, China e Japão, Gaspar Manuel e sua esposa que aqui estão enterrados. Curiosa a abóbada da cobertura, talvez lembrando um pagode oriental.  Possui um magnífico painel de azulejos do séc. XVIII.
Vista de longe, a mim parecia-me um edifício com raízes árabes.

Dentro da Nau, temos a ideia de como era a vida a bordo, as cargas que transportava, os instrumentos de navegação, armamento, etc. Não faltam também as lembranças das pedras que transportavam e que serviam de lastro, bem como elementos de construção para casas e dos padrões simbolizando a descoberta de cada terra.
Uma visita interessantíssima. Faltam apenas as velas. A cesta da gávea, mais conhecida segundo a Academia Portuguesa de Letras por "Caralho" era o ponto mais instável do barco e para onde normalmente se enviavam os castigados, algumas vezes, por dias. A palavra apenas é usada nas línguas ibéricas - excluindo o Basco -, e já era conhecida no séc. X. Representava algo de muito mau. Como expressão foi-se adaptando às Linguas, mas hoje tanto pode significar o mau como o bom.

O pacote de visitas termina na Casa do Barco. Lembro-me que o meu amigo Carmelita quando me levava em passeio de reconhecimento por esta bela terra, referia-se a ela como um mamarracho. Realmente, localizada num amplo largo com jardim e casas antigas onde ficavam os antigos estaleiros, não me parece feliz a arquitectura.
O interior recorda-nos a importância das pescas e outras actividades de vocação marítimas O motivo central é uma réplica do gasoleiro, uma embarcação tradicional de pesca. De um lado está totalmente construído, do outro vêm-se o casco e pormenores da construção.

Tanto na Alfândega como nesta Casa existem imensas miniaturas de barcos, bem como apetrechos do cotidiano ligados à actividade marítima e às das tradições populares.
Uma exposição fotográfica documenta o que foi a actividade económica ligada ao mar.
Não faltam as embarcações actuais incluindo as de actividades desportivas, fabricadas pela Empresa  Vilacondense Nelo, mundialmente conhecida.

Os Bilros são uma tradição Vilacondense pelo menos desde o séc. XVI e segundo me disseram, vale a pena uma visita ao Museu o que não foi possível desta vez. Parece que chegaram aqui vindos da Flandres, trazidos por marinheiros e comerciantes.

Quem sai - ou entra - na estação do metro de Vila do Conde-Santa Clara, encontra um terreno que deve ter tido uma fábrica. Resta-lhe a enorme chaminé. Aliás há vários por aqui no mesmo pobre estado.
Ao fundo, parte da arcaria do aqueduto que transportava a água desde Terroso, já pertencente à Póvoa de Varzim, até ao Mosteiro. Inicialmente com 999 arcos e cerca de 4 km, é o segundo maior de Portugal.
Foi construído entre 1705 e 1714.
Vila do Conde é muito mais. Tem uma costa marítima grande, linda e bem tratada. Freguesias bem tradiccionais, como Azurara onde ainda existe um estaleiro, e Caxinas de tradição piscatória.
Conheço relativamente bem, muito por culpa do Carmelita, a quem envio o meu abraço. Extensivo ao Carlos Vinhal.