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sexta-feira, 24 de maio de 2013

158 - O Infante

Como muitas vezes acontece, circulamos pela cidade e nem nos apercebemos do que nos rodeia.
Quero apresentar-vos, caros leitores e amigos, a Praça e a Rua do Infante D. Henrique, ou simplesmente o Infante, local de uma grandeza ímpar, tanto arquitectónica como histórica do Porto.
Homenageia a figura talvez a mais emblemática da Cidade, que segundo a lenda nasceu aqui, na Casa do Infante, antiga Alfândega Régia, onde hoje está guardado o Arquivo Histórico Municipal e é também um Museu de Arqueologia, do Comércio e não só.
Que só por si tem assunto para outras Vidas em Fotos.
Uma panorâmica do Google e vamos começar pela Praça
Mas antes uma reprodução de uma planta do mesmo local de 1839
Elaborada por Joaquim da Costa Lima Júnior (1806-1864)
O nº 24 era o Convento de S. Francisco e a Rua dos Ingleses é actual Rua do Infante D. Henrique.

O terreno que constitui a Praça é de grande declive e foi construído em parte das cercas dos antigos Conventos de S. Domingos, a Norte e S. Francisco a Oeste. Mas não foi pacífica a vida entre os Frades das duas Ordens, o Clero e os Reis. Adiante e vamos ver o que a rodeia.

Do Convento da Ordem de S. Domingos apenas existe pouco mais do que a fachada, voltada para o Largo que tomou o mesmo nome da Ordem.
O estabelecimento dos Frades Dominicanos no Porto, seguidores de S. Domingos de Gusmão (Burgos, 1170 - Bolonha, 1221) e que estavam em Portugal desde 1217, deve-se a uma luta entre o Bispo e os Frades Franciscanos.
Para tentar sanar os problemas entre as duas ordens, o Rei S. Sancho II (1209-1248) declarou-se fundador e padroeiro do Convento em 1239.
É, ou foi, melhor dizendo, o Mosteiro mais antigo do Porto e o terceiro de Portugal, fundado em 1238 (que podia ter sido em 1239 ou 1240, depende dos historiadores ou da forma como nos é apresentado) mas em 1245 já estava concluído embora seguissem obras. Recebeu o nome de Convento de Nossa Senhora dos Fieis de Deus do Porto. Mas tudo se deve, inicialmente ao Bispo do Porto D. Pedro Salvadores, que lhes deu igreja, casas e terras. Foi um local privilegiado por causa das Ruas novas que à sua volta se foram construindo mas especialmente pelas que já existiam desde o séc. XV, como a Rua das Flores, nome actual e que começou por se chamar Santa Catarina das Flores. Teve o largo uma intensa actividade económica e nos claustros do Convento chegaram a reunir a Câmara Municipal bem como o Tribunal. Centro, portanto, de grandes decisões para a Cidade.
A Igreja de 3 naves foi destruída por um incêndio em 1777. Em 1832 um novo incêndio danificou o conjunto conventual, já incorporado na Fazenda Nacional derivado à lei da expulsão das Ordens Religiosas.
Há muita mais história sobre a Congregação, mas o que nos interessa é o que resta do Convento. Foi filial do que viria a chamar-se anos mais tarde Banco de Portugal, sede da Companhia de Seguros Douro, hoje agregada a outras e agora, depois de recuperado de uma enorme ruína, é uma espécie de local onde expositores de variadíssimas formas de arte aos sábados comparecem a encher as salas. No interior, para além das recuperações, podemos ver uma enorme porta blindada de um cofre. Outras histórias. Chama-se Casa das Artes.

Uma das Ruas novas é a de Ferreira Borges (1786/1838) uma homenagem ao liberal convicto que exerceu variadíssimas actividades políticas e jurídicas, mas é provavelmente o Código Comercial Português, aprovado por Decreto de 18 de Setembro de 1833, a sua obra maior. Parcialmente ainda em vigor, foi a causa de uma zanga, no meu tempo de estudante, com o famoso Professor Restivo.
Concretamente não sei em que ano a rua foi aberta, mas já existia em projectos de 1835. Vem do Largo de S. Domingos até à Praça do Infante. Ou vice-versa.
O Hotel da Bolsa é uma magnífico edifício, no cimo da Rua, inicialmente pertença da Companhia de Seguros Garantia. Inaugurado em 1907, tem influencias beaux-arts e um bar simpático com preços bem acessíveis. Pelo menos eram, há uns anos.
Mas é talvez o edifício onde está instalado o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto que mais nos chama atenção. Foi construído em estilo neoclássico em 1843 para a instalação do Banco Comercial do Porto e adquirido em 1933 pelo então chamado Instituto do Vinho do Porto. É um espaço de promoção dos vinhos, com loja de vendas, sala de provas e um circuito de visita destinado a dar a conhecer o processo de certificação dos Vinhos do Porto e Douro.

No topo da Praça está o Mercado Ferreira Borges, construído entre 1885-88 é uma jóia da arquitectura do ferro. Destinado a substituir o Mercado da Ribeira, nunca o foi por recusa dos comerciantes em abandonar o local.
Entre 1939 e 1978 foi mercado abastecedor de frutas e entrou em ruína. Teve várias propostas para a sua destruição. Recuperado há pouco mais de 2 ou 3 anos, é um centro de lazer.

Continuando pelo lado esquerdo de costas para o Rio, encontramos o chamado Palácio da Bolsa, pertença da Associação Comercial do Porto.A sua construção foi iniciada em 1842 em estilo neoclássico. Ao longo de três gerações, muitos mestres mestres e artífices trabalharam para a edificação desta jóia arquitectónica do séc.XIX, classificada como Monumento Nacional.

O Palácio da Bolsa, visto do miradouro dos Grilos.
E também parte da Igreja de S. Francisco, à esquerda.
Grandes nomes da arquitectura, da escultura, da pintura, do mobiliário, das artes decorativas contribuíram para este espólio e património únicos. É um dos ex-libris da Cidade.

Autentica sala de visitas, aqui se realizam a maioria das recepções oficiais do Estado no Norte de Portugal. A sua memória remonta ao Cerco do Porto e especialmente à noite de 24 de Julho de 1832 (ou será de 1834 mas também pode ter sido em 1833, datas que podem ser lidas no folheto editado pela Câmara do Porto e referente ao Património de S. Nicolau...) quando um enorme incêndio destrói o Convento de S. Francisco, tragédia a que apenas sobrevive a Igreja. É nas ruínas que se vai erguer este edifício, beneficiando também da expulsão da Ordem pelo tal decreto antes referido.  

O famoso Salão Árabe e o imponente Pátio das Nações.
Custo das visitas: 7€
Estudante e Seniores: 4€
Crianças até aos 12 anos, grátis. 

Pegado, fica a Igreja do Convento de S. Francisco, cujo edifício primitivo começou a ser construído em  1233 sofrendo muitas alterações ao longo dos séculos. O conjunto conventual seria terminado em 1410. A pedido de alguns devotos, chegaram ao Porto São Zacarias e outros Frades Menores da Ordem de São Francisco em 1233 no meio de uma guerra entre o Rei e o Bispo pela posse da Cidade. Que só terminaria lá para o séc. XIV. Os Franciscanos chegaram a levar no "pêlo" por ordem do Bispo D. Martinho Rodrigues. O seu sucessor D. Pedro Salvadores, o tal que chamou os Dominicanos, seguiu-lhe o caminho. Mas continuaram a vida com o apoio dos vários Reis. E do Papa.
É o único templo gótico da Cidade, embora incorpore outros estilos que lhe foram sendo adicionados.
Daqui saiu a notícia do casamento do Rei D. João I com D. Filipa de Lencastre em 1385.
Aquando das invasões francesas, em 1809, o mosteiro foi vandalizado e roubados uma parte dos seus bens. A igreja serviu de cavalariça e nas colunas foram deixadas as marcas e argolas das amarras dos cavalos. Para memória futura.
Não me admira que no Louvre e em outros museus franceses ou até mesmo em casas particulares estejam expostas obras roubadas em Portugal.
Uma foto da Igreja, chamada Museu, do arquivo da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco. Monumento Nacional desde 1910, é de uma riqueza ímpar sobressaindo o revestimento a talha  trabalhada desde o séc. XVII até meados do séc. XVIII.
Junto à Igreja do Convento, existe a Igreja da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco, construída entre 1794 e 1805, que substituiu um Templo de 1676, dos Terceiros Franciscanos instituídos em 1633.  
Faz parte do Museu, a Casa do Despacho da Ordem de S. Francisco. Da autoria de Nicolau Nazoni, começou a ser construída em 1726. O seu interior é composto por Sala de Sessões, Sala do Tesouro, Sala Exposição e Cemitério Catacumbal.
Não sei o preço actual do custo das visitas: Há cerca de 6 anos eram de 3€. Para visita geral ao Museu.

Vamos atravessar a Rua do Infante D. Henrique, que aqui termina, mais ou menos centímetros e ver o que ela nos proporciona.

A história desta Rua começa nos finais do séc. XIV, mandada abrir por ordem de D. João I. o Pai do Infante D. Henrique, (11.Abril.1357 - 14.Agosto.1433). Demorou cerca de 100 anos a sua abertura.
De uma largueza invulgar mesmo no contexto europeu, foi Centro Cívico durante séculos, palco de vaidades e até terreiro de touradas, actividade que veio a ser repudiada pelo costume portuense.
Outra curiosidade verdadeiramente invulgar para a época era que todas as casas deveriam obedecer a uma ordem de arquitectura previamente definida. Claro que ao longo dos séculos muitas alterações aconteceram.

Começou a ser chamada de Rua Nova, roubando a toponímia à actual Rua Escura; em 1406 é Fermosa (ou Formosa) nome dado pelo Rei D. João I; Nova de S. Nicolau em 1418; Nova dos Inglezes em 1794, ou simplesmente dos Inglezes em 1891. Não sei desde quando tomou o nome actual mas deve ter sido ou em finais do séc. XIX ou em princípios do séc. XX.

Imagens obtidas em alguns sites e também no Porto Turismo - Património da Humanidade. 
Presumo que a foto superior direita estará invertida.
Esta Rua terá sido construída como uma provocação do Rei D. João I aos senhores feudais do Clero, cujas divergências entre Reis e Bispos já vinham desde o séc. XIII. Terão acabado com uma negociação, pela "posse da Cidade" a troco de dinheiro, em 1405 (em Montemor-Novo, próximo de Évora) entre o Rei e o Bispo do Porto de então, D. Gil Alma.
Junto à Rua estavam e estão com outras serventias, a Alfandega (Velha) Régia, a Casa da Moeda, e a primitiva Bolsa. O Rei teve um empenho pessoal nesta rua dotando o burgo, que florescia, com um eixo regulador. Muitos estrangeiros aqui pernoitavam e a burguesia mercantil ganhava crescente prestígio.
Mas quem a pagou foram as gentes do Porto e do seu termo (circunscrição alargada) que talvez nunca soube sequer onde ficava a rua.
Foi criado um imposto, chamado ou apelidado de Fintas, criado pelo Rei ou/e pela vereação Camarária. Li uma frase que se lhe deveria aplicar perfeitamente: Impostos ad-hoc. Conclusão, o património do Rei aumentou sem lhe custar nada e ajudou a retirar das mãos do Bispo o senhorio da Cidade. Que para os grandes mercadores foi um benefício, pois as "burocracias" terminaram e os custos baixaram.  


Mesmo em frente à Praça do Infante, quási no princípio da Rua, situa-se a Igreja de S. Nicolau. No séc. XIII a freguesia da Sé, a única do burgo, foi dividida em quatro e de entre elas criou-se a de S. Nicolau.
Os serviços religiosos eram feitos numa ermida que foi demolida em 1671 para dar lugar a uma nova Igreja, que sofreu um incêndio em 1758. A sua reconstrução foi concluída em 1762 num estilo misto neoclássico-barroco. Em 1832 foi acrescentado um adro gradeado para protecção das sepulturas. A frontaria foi guarnecida de azulejos em 1861
Um pormenor do casario do lado direito da Rua, em frente à Praça.
Sabemos que o célebre Tratado de Aliança Luso-Britânico (mais conhecido como Aliança Inglesa) em vigor desde 1373 e confirmado em Windsor em 1386, embora a "coisa" já viesse desde 1294, foi reforçado com o casamento do Rei D. João I e a D. Filipa de Vilhena em 1387. Muita história pelo meio, guerras, sucessões, dinheiros, enfim, coisas que não interessam por agora.
Para o caso interessa que os Ingleses paulatinamente foram "tomando" conta do Porto. Os vinhos, o comércio, a arquitectura, os clubes. Muitas coisas que hoje ainda perduram.
Uma curiosidade que quero partilhar. Por causa deste Rua, comprei o livro Uma Família Inglesa, da autoria de Júlio Dinis (Joaquim Guilherme Gomes Coelho, Porto, 14 de Novembro de 1839 / 12 de Setembro de 1871, médico e escritor). Já o tinha lido há muitos anos e fiquei com a recordação de histórias passadas nesta Rua àquele tempo. Um pormenor da introdução: Entre os subditos da rainha Victoria, residentes no Porto, ao principiar a segunda metade do seculo dezenove, nenhum havia mais bemquisto e mais obsequiado, e poucos se apontavam como mais fleugmaticos e genuinamente inglezes, do que Mr. Richard Whitestone. O quotidiano apparecimento do negociante estrangeiro na Praça—nome que entre nós se dá ainda á rua dos Inglezes, principal centro de transacções do alto commercio portuense—festejavam-o benevolentes sorrisos, rasgadas e pressurosas reverencias, phrases de insinuante amabilidade e affectuosos shake-hands, segundo o mais ou menos adiantado grau de familiaridade, que cada qual mantinha com elle.
Os amigos interessados em ler o original na net podem fazê-lo:


Vamos atravessar a Rua da Alfandega e deixar a Casa do Infante para outra altura, e deter- mo-nos sobre a Casa da Moeda e a antiga Bolsa de Valores. É o edifício central na foto.
O primeiro documento de que há conhecimento sobre a cada da Moeda é uma carta régia de D. Fernando datada de 1370, em que concede privilégios aos Oficiais. Em 1391 é confirmada por D. João I. Estava directamente ligada à Alfândega para que os metais preciosos não levassem desvios. 
Os funcionários eram considerados pessoas de grande valor, zelosos e tinham um estatuto próprio. O popularmente chamado de Pedro Vaz de Caminha, que afinal era Pero, ou em Galaico- Português Pero Uaaz de Camjnha, (Porto, 1450 - Calecute, Índia, 15(ou 16 ou 17) de Dezembro 1500), sucedeu ao pai em 1476 de quem herdou o cargo de mestre da balança. Uma espécie de escrivão e tesoureiro.
Este escritor notabilizou-se nas funções de escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral e foi ele que redigiu a Carta do Achamento do Brasil ao Rei D. Manuel I. Segundo as crónicas, morreu em combate em Calecute. 

Podemos visitar o local das antigas instalações da Casa da Moeda onde se processava a cunhagem e existiam os vários departamentos, com a entrada pela Casa do Infante. Claro que não se pode perder a parte museológica e não só desse período.
Uma informação adicional: Inicialmente, o edifício era apenas da Bolsa de Valores onde ainda se podem ver as armas medievais da Casa de Aviz. Foi reconstruído no reinado de D. Afonso V (1432-1481), passando também a servir de entrada para a Casa da Moeda, da qual se conserva a porta seiscentista. Ora bem, coisa de leigo, se a casa foi reconstruída no séc. XV e conserva a porta, escrever seiscentista é correto ?
Com o andar dos anos a capital do reino, Lisboa, tomava mais força. Afinal a culpa primeira terá sido de D. Afonso Henriques, que em vez de ir tomá-la aos mouros e incorporá-la no reino, melhor seria ter-se interessado pelo Norte, aqui tão perto. D. João I também fez o mesmo erro, (desinteressar-se do Norte da Península Ibérica), mas enfim seguiu a linha da dinastia anterior.
Pagamos, o Porto e o Norte, ainda hoje as favas dessas conquistas mouriscas primitivas. A Casa da Moeda passou para Lisboa em 1721, no reinado de D. João V (1689-1754), Cavaleiro da Ordem de Cristo, o Magnânimo ou Rei-Sol português, ou ainda o Freirático (o safadinho gostava de freiras de quem teve filhos, os célebres Meninos da Palhavã) que à custa das riquezas das colónias principalmente do Brasil - lembram-se, amigos, dos célebres Quintos ? -  e da escravidão do povo, esbanjava tudo o que tinha em luxos.
É certo que tentou matar a sede a Lisboa, iniciando a construção dos Aquedutos das Águas Livres e deu em doido com o Convento de Mafra.
Por causa dele as revoltas no Brasil foram-se sucedendo iniciadas pela famosa Inconfidência Mineira. Dizem historiadores que foi o pior Rei de Portugal. Dele escreveu Saramago: Megalómano, infantil, devasso, libertino e ignorante. Escreve Veríssimo Serrão que era senhor de uma vasta cultura bebida com os Padres da Companhia de Jesus. Sabia línguas, conhecia os autores clássicos, tinha boa cultura científica e amava música. Coisa de Historiadores. Para mim, leigo ignorante me confesso, apenas um exemplo das nossas desgraças e maldições. Mas também teve coisas boas. Tudo para Lisboa, pois claro. Vão ler a Biografia do Homem em http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_V_de_Portugal
Seguindo.

Em outras alturas já me referi ao imóvel de interesse público, edifício do séc. XVIII, que foi do Restaurante Commercial, inaugurado em 1894 - informação camarária - (no Igespar lê-se que foi em 1833) pelo espanhol Manuel Recarey Antello, famoso pela sua cozinha e pelo Bife à Inglesa. Nome dado por causa da numerosa colónia britânica e à rua do mesmo nome, que na altura ainda era a dos Ingleses. Foi transformado em Casa de Chá e Pastelaria em finais da década de 60 do século passado, comprado posteriormente para agência bancária. Hoje está a arruinar-se fechado. Parece que é (ou era) uma jóia art-nouveau, sofreu modificações em 1982. Mas isso não interessa nada, porque datas e nomes e alterações e arquitectos surgem em tantas páginas e tão desencontradas que o melhor é ficar apenas com a ideia de uma restaurante e de um edifício que foi marcante na época. Na minha memória de infância ainda retenho algo dele, mas não sei o quê. Uma certeza, a de me ter sido apontado pelo meu pai.  
Quási em frente da Casa da Moeda-Bolsa de Valores e do ex- Restaurante Comercial, situa-se a Feitoria Inglesa. Não sei a quem pertence actualmente o edifício construído entre 1785 e 1790, sob risco do cônsul inglês John Withehead (Lencashire-Inglaterra, 1726 - Porto, 16.Dezembro.1802), senhor de muitos ofícios e de vários projectos, ou acompanhamento deles. 
Construiu o Cemitério Protestante, mais conhecido pelo Cemitério dos Ingleses próximo da Maternidade Júlio Dinis, onde está sepultado.
É a única das muitas Factory House que se espalharam pelo mundo que sobrevive. É formosa a sua escadaria interior e a clarabóia bem como os estuques e são fabulosas a Sala de Baile e a Cozinha monumental conservando todo o equipamento original e baixelas. Destaque para a vasta biblioteca e um espólio notável de mobiliário, faianças e porcelanas. Segundo li.
Presumo que só abre para festas e recepções particulares.

Chegamos ao fim da Rua, que agora não está emparedada como antigamente. Abre-se para o Túnel da Ribeira. Antes, à esquerda, com uma parte visível na foto antiga -e em outras fotos acima postadas-, um edifício do séc. XVI que ainda ostenta o brasão de armas dos Ferrazes e Madureiras.
Túnel da Ribeira que começou a ser escavado em 1947 (foto superior esquerda, vista da Ponte Luís I,) e inaugurado em 1950. Na minha memória e ainda há dias conversando com amigos sobre ele, estava convicto que a sua inauguração foi a 28 de Maio de 1952, o mesmo dia da inauguração do Estádio das Antas. Sei que nesse dia de manhã aqui passou o General Craveiro Lopes em cortejo e eu estava lá a ver  com a minha avó. Que depois me levou a comer um arroz de morcela a uma tasca de Gaia que nunca mais esqueci. Confusão de datas, talvez. Da inauguração do Estádio não, pois os meus pais foram ver a festa a partir do Monte Aventino. Por isso o passeio com a minha avó.
Sobre este Túnel não há uma história pequena que seja, publicada na net, -pelo menos não consegui encontrar- a não ser o pequeno apontamento acima e que a Câmara Municipal aceitou usar a toponímia de Túnel da Ribeira apenas em Outubro de 2011.
Os meus queridos amigos e amigas e visitantes do blogue já se devem ter apercebido que nós, Portuenses, chamamos às artérias e/ou locais da Cidade nomes simples de identificação, muitos deles vindos de séculos atrás. Não tem nada que enganar.
Propositadamente deixei para o fim desta enorme blogagem o regresso ao Infante, ao seu centro, a Praça e à Estátua. De cuja história não fazia a mais pequena ideia até há uns dias atrás. Porque é bastante interessante, deixo um resumo. 
Tudo começou com a ideia do cidadão alemão Eduard von Hafe radicado no Porto ( Presumo que terá sido Jacob Edward de Hafe, nascido em Hamburgo em 18.05.1829, falecido no Porto em 16.07.1908,   continuador do antigo Colégio Alemão na Rua da Torrinha e fundador da Casa Von Hafe que teve as instalações na Rua 31 de Janeiro ou Santo António, como se queira) em lembrar o quinto centenário do nascimento do Infante D. Henrique com uma homenagem. E não o da morte, como também li, pois o Infante nasceu aqui, no Porto, em 4 de Março de 1394. E morreu em 1460 em Sagres. 
E precisamente em 4 de Março de 1894 foi colocada a pedra fundamental, trazida das escarpas de Sagres e que desde a barra do Douro até ao Cais da Praça da Ribeira foi transportada por uma réplica simbólica de uma caravela construída nos estaleiros de Gaia. Ao acto estiveram presentes o Rei D. Carlos e a Rainha D. Amélia e a cidade viveu festejos e competições desportivas nos dias 3 e 4. 
Igualmente os esposos reais estiveram presentes na inauguração do monumento em 20 de Outubro de 1900, aproveitando a estadia para lançar a primeira pedra da futura Estação de S. Bento. Não pude confirmar. A página da Fundação Marques da Silva-Estação de S. Bento nada refere sobre este pormenor, mas também não é importante. 
Ora bem, voltemos atrás um pouco e sobre a ideia da homenagear o Infante. As comissões para estudar e desenvolver o projecto, escolhê-lo, enfim essas coisas burocráticas, foram seis desde o início, que presumo terá sido em 1892. Lisboa revoltou-se pois queria a homenagem lá, junto aos Jerónimos. O historiador portuense Joaquim Vasconcelos (1849-1936) em carta ao Diário de Notícias datada de 9 de Maio de 1892, explicou tim-por-tim porque Lisboa não tinha direito a tal coisa. Sempre Lisboa a meter-se na vida dos humanos nortenhos.  Na pior das hipóteses, explicou o historiador, seria Sagres a ter esse direito. Sabemos que muitos anos depois Lisboa ficou com aquele Monumento aos Descobrimentos e Sagres com uma singela homenagem ao Infante, tendo os escultores portuenses sido preteridos. Coisas da Vida.
Entretanto e retomando o tema da estátua, cujo concurso público foi editado em 24 de Agosto de 1893, não sei bem porque foi escolhido o projecto de Tomás Costa. Parece que era o pior de todos, segundo me apercebi durante as minhas investigações. E excluídos os projectos de Miguel Ventura Terra, José Marques da Silva, António Teixeira Lopes (que apresentou 3) José Joaquim Teixeira Lopes, Adães Bermudas e um anónimo Utile Dulce. 
O projecto inicial propunha que a estátua ficasse voltada para a Bolsa. O que provocou alterações, pois resolveu-se que teria de ficar voltada para Sul. E daí, o braço direito indica as rotas africanas e o Globo Terrestre em vez do céu. O baixo relevo deveria ser alusivo à Escola de Sagres mas foi substituído pela alusão da conquista de Ceuta. Manteve-se o que aludia à passagem do Cabo Bojador, mas quási desapareceram as proas dos barcos que lateralmente ornamentavam o torreão.
Entretanto os Ingleses fizeram-nos o Ultimato em 1890 sobre as colónias de África, especialmente relacionado com o célebre Mapa cor de Rosa, em que Portugal fez a ligação de costa-a-costa, ligando o Atlântico ao Indico. No Porto teve grande repercussão, os Republicanos saltaram em cima do rei D. Carlos por se ter humilhado perante os Ingleses, caiu o Governo, e vai daí nasce  a origem do nosso Hino Nacional, a Portuguesa (Heróis do Mar. Nobre Povo...Contra os Canhões marchar, marchar...) com letra de Henrique Lopes de Mendonça e música de Alfredo Keil como símbolo patriótico. 

  Não será muito fora do contexto colocar aqui a versão da musica e a letra. Sou Português do Hino

Mas o que isso tem a ver com a Estátua ? Pois, foi rejeitada a oferta do cidadão britânico Tait do mármore das suas ilhas...para a sua construção.
Não sei se repararam, caros leitores, amigos e amigas, que estas deambulações pela "minha" história, há Ingleses e Alemães.
E prontos, assim acabo o que já não era sem tempo. Só um parênteses. Acontecimentos e muitas datas que encontrei eram desencontradas com os factos. Adaptei o melhor que pude mas não quer dizer que estejam correctas, mas foi o que presumi de melhor. 
Alguns link's que me ajudaram a saber a história desta zona da Cidade: O Infante:
http://doportoenaoso.blospot.pt
http://www.portoantigo.org/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ultimato
http://www.portoturismo.pt

No meio de tanta leitura, esqueci de registar algumas fontes. Mas se é que vozes de burro chegam aos céus, queria fazer chegar aos editores da Câmara Municipal do Porto dos folhetos sobre o Património das Freguesias do Centro Histórico do Porto, Património Mundial da Humanidade, o pedido de os corrigirem. Ler tantas inexactidões até dói. Pelo menos a este Tripeiro.