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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

173 - A Vida como ela é

Coisas da nossa vida, mas que não interessam a ninguém

Andaram uns rapazitos e umas rapazitas da canoagem a ganhar umas medalhas olímpicas e de campeões do Mundo. Coisa a que estamos muito habituados e por isso não ligamos. As últimas foram há talvez uns 15 dias.

Um rapazito do pedal, depois de ganhar a volta à Suíça, ganhar duas etapas da volta à França, sendo prejudicado pelo "patrão da equipa", lá continua e sagra-se Campeão do Mundo. Foi hoje. mas coisa simples a que estamos habituados e por isso não ligamos muito.

Um dos clubes portugueses, que se chama Futebol Clube do Porto, um dos maiores do Mundo, com mais títulos conquistados nas várias modalidades, cujo Presidente é o único no Mundo com mais títulos conquistados. Que por acaso teve nas suas fileiras desde menino vindo de Leça - com um interregno de 2 anos passados no Futebol Clube Barcelona, outro monstro mundial do futebol - o atleta que mundialmente mais títulos tem na carreira. Aconteceu esse clubesito cheiinho de títulos nacionais e estrangeiros, ter comemorado ontem 120 anos de vida. Coisas sem importância, a que já estamos habituados. E aos títulos também. 

Todas estas coisas passaram incógnitas, até que ontem (ou hoje, não sei, pois os fusos horários é que determinam), ....
Um Tenista Português, conquistou na Malásia um torneio onde ganhou uns dolarzitos e logo o mundo português saltou em alvoroço, com notícia em abertura de telejornais, e merecendo louvores especiais e de sorriso mais que aberto de sua Excelência o nosso Presidente Cavaco Silva.

O Desporto Português está de parabéns pois um tenista ganhou uns dólares e isso sim, vem contribuir para a nossa felicidade. E especialmente para o Presidente da República pois finalmente conseguiu falar aos microfones da comunicação social. O que nos acontecimentos anteriores e outros talvez não tão importantes, lhe deveriam ter estado vedados comentar. Problemas da censura, ou das escutas. Presumo eu.

Bem haja Senhor Presidente Cavaco Silva por saber louvar quem o merece. Mas também acredito que só o fez porque obrigatoriamente teve de sair à Rua hoje. E esta vitória veio mesmo fresquinha para soltar um ai e dizer qualquer coisita. E foi bom também por nos recordar que ainda existe, Senhor Presidente
Só estamos à espera que se digne atribuir uma comenda a este jovem tenista.   

Quanto aos medalhados portugueses e ao clubesito de bairro, que só por acaso é a maior e mais conhecida marca de PORTUGAL junto com o vinho que só por acaso até tem o mesmo nome, nem vale a pena referir. Fica o gozo só para nós, cá dentro, tá Sor Prasidente Cavaco ?

Beijinhos e abraços, Senhor Presidente, extensivos à Senhora D. Maria, que deve ter ficado em casa a lavar a louça enquanto V.Exa foi botar faladura sobre o Tenista e colocar o voto nos seus meninos tão bem comportados. E que bem nos guiam na vida, para não dizer fodem com todas as letras, com a sua cobertura. Bem haja

sábado, 28 de setembro de 2013

172 - O Couto Mineiro de S. Pedro da Cova

Há tempos o meu amigo Fernando Súcio disse que gostava de conhecer as Minas de Carvão de S. Pedro da Cova. Proporcionou-se a visita e fomos de abalada até lá. Melhor será dizer, ex-minas porque já não se explora o Carvão há muitos anos.
As ruínas do Couto Mineiro. Pormenor.
Já escrevi sobre S. Pedro da Cova em http://portojofotos.blogspot.pt/2013/01/149-s-pedro-da-cova-e-o-couto-mineiro.html#links e a história das Minas.

Digamos que são um complemento estas fotos. A inscrição refere-se à data da construção do Cavalete, o ex-libris de S. Pedro da Cova.
Também tivemos a ousadia de arriscar esquecendo a nossa segurança e ir até ao patamar onde os mineiros subiam umas estreitas escadas até ao topo do Cavalete cuja caixa do elevador os levava até à profundeza das minas. E, claro, no sentido inverso também.
Num àparte, foi mesmo um risco especialmente para mim, quando tivemos de descer as escadas sem corrimão e atravessar a ponte. Entrei quási em pânico. 
A entrada do Poço de S. Vicente.

Aquando da minha visita anterior, só tinha andado pelos chãos. Daqui, do patamar, temos uma noção diferente do que nos rodeia.
Se as escadas tivessem corrimões, talvez nos arriscássemos um pouco mais. Segundo nos informaram, para além das ruínas e do lixo e do mato, tudo o que era possível roubar, o foi.
As ruínas de algumas instalações e lugares de São Pedro da Cova.


 Alguns montes formados pelos resíduos do carvão. 
Os meus amigos Fernando Súcio, Fernando Jorge Teixeira e Manuel Cibrão Guimarães.

Um grupo de amigos das Minas numa visita de reconhecimento.
Se algum fotógrafo desse grupo vir este escrito, que nos envie fotos se nos tiver apanhado.

Lugares de S. Pedro
No alto é Tardariz. Ali tive o meu último negócio


A imagem de Santa Bárbara que esteve no Poço, devidamente preservada.

Metêmo-nos à conversa com esta gentil senhora, a Dona Aurora, um encanto de 87 anos. Contou-nos algumas histórias da vida pessoal e das gentes. Falou-nos das greves mineiras, dos comícios, de pessoas que eram presas das quais algumas nunca mais foram vistas. Foi britadeira, teve um acidente que o seguro só cobria parcialmente, mas o patrão conseguiu a incapacidade de 100%.
Valeu a pena o tempo ganho a ouvir as suas histórias. Um abraço de amizade para a Dona Aurora.

Recomendo a visita ao Museu Mineiro para completar e melhor ajuizarmos o que foram vidas e a indústria e comércio do Carvão de S. Pedro da Cova
Recomendo também a visualização do filme de 1917 ou 19, a seguir referenciado, recuperado pela Cinemateca. http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=3078&type=Video .
Se não abrir directamente, copiem o link, colem no navegador, clicar em enter e já está

Porque foi num dia de festa com amigos e ex-camaradas, a foto recordação do grupo fica melhorada com o cartaz que pode  muito bem ser utilizado para promover a história e a requalificação das Minas de S. Pedro da Cova. Assim os políticos queiram.
Um agradecimento à minha amiga Carminho pela homenagem. A montagem está perfeita.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

171 - A Casa-Oficina de António Carneiro

Passava há dias com uns amigos pela Rua de António Carneiro, ao Bonfim, (antigamente era a continuação da Barros Lima) e junto da Casa-Oficina do Pintor que deu o nome à Rua, perguntei-lhes se algum a conhecia. A resposta foi negativa. O mesmo deve acontecer a muitos Portuenses e não só. O Porto é uma cidade escondida para os seus habitantes e os da área metropolitana, onde raramente se divulga o que tem entre portas. Há as excepções, claro, principalmente alguns, poucos, templos católicos. E o Majestic e a Lello e a Torre dos Clérigos e a Ribeira. Mas os carolas da net lá vão divulgando o que temos cá dentro. 

Recordo que visitei a Casa-Oficina em Setembro de 2009 logo na sua reabertura ao público. Já não me lembro se foi por casualidade ou por ter lido alguma informação. Esteve encerrada desde 1998 para obras de remodelação. É propriedade da Câmara Municipal desde 1973, embora tivesse vindo a adquirir parcelas desde 1958. 

António Carneiro, auto-retrato. Um dos muitos que produziu.
S. Gonçalo de Amarante, 16 de Setembro de 1872. Porto, 31 de Março de 1930.

Oriundo de uma família pobre, foi abandonado pelo pai aos 7 anos e pouco tempo depois ficou órfão de mãe. É em 1879 encaminhado para o Asilo do Barão de Nova Sintra (a 100 metros desta casa) onde fez a instrução primária. Começou a desenhar copiando desenhos de ilustrações de textos.
Reconhecida a sua vocação, ingressou na Academia Portuense de Belas Artes em 1884 com o apoio da Santa Casa da Misericórdia, tutelar do Asilo.


A casa foi construída entre 1925-1930 segundo projecto de Álvaro Miranda, um não arquitecto amigo do António (que projectou e restaurou o Hotel e várias vivendas na Granja, Vila Nova de Gaia) . Para além do atelier foi a casa de habitação da familia: esposa Rosa Carneiro com quem casou em 1893 e os filhos Cláudio, músico e grande compositor chegando a ser director do Conservatório de Música do Porto (1895-1963) 
Maria Josefina (1898-1925); Carlos, também pintor (1900-1971) 

Na Academia fez o curso de Desenho Histórico, frequentou Escultura que abandonou após a morte de Soares dos Reis em 1889 e transferiu-se para Pintura. Em 1896 terminou o Curso de Pintura da História com 18 valores.

As obras do conjunto foram concluídas em 1930, tendo o pintor António Carneiro falecido nesse ano em 31 de Março.

Em 1895 reencontrou-se com o pai, recém-chegado do Brasil e vai com ele a Amarante onde conhecesse o poeta Teixeira de Pascoaes.  Em 97 parte para Paris após receber uma bolsa patrocinada, onde frequenta a Academia Julien. 
Regressa ao Porto em 1911. É convidado a leccionar na Academia Portuense de Belas Artes e em 1918 é investido na qualidade de Professor de Nomeação Efectiva, responsável pela Cadeira de Desenho de Figura. Em 1929 foi nomeado Director mas nunca chegou a exercer.  
A par das actividades de Pintor, Professor, Poeta fez parte desde 1911 da Renascença Portuguesa desenhando o logo-tipo usado em todas as edições, nomeadamente na Revista Águia  da qual era coordenador literário e ilustrador. Aos interessados remeto-os para a minha postagem: http://portojofotos.blogspot.pt/2012/03/123-rua-dos-martires-da-liberdade.html 
Entre 1893 e 1929 expôs individual ou colectivamente em Portugal e em várias Cidades Brasileiras ( Rio de Janeiro, S. Paulo, Curitiba) e participou nas Exposições Universais de Paris (1900), Saint Louis (1904) e ainda na Internacional de Barcelona de 1907.
Pormenor da Sala principal. A casa sofreu alterações para expôr o espólio do Artista que a Câmara Municipal vinha adquirindo e creio que também dos filhos, oferecido pelo neto Nuno Carneiro. O primeiro andar onde foram os aposentos da Residência estão vedados ao público. Ou estavam na altura da minha visita.
A foto do Artista com o quadro que pintava. Presumo que os retratados eram a filha e o filho Carlos, mas já não me lembro da descrição.
Este é o original pronto. 
À esquerda o material usado por António Carneiro

 Lembro-me de ler que é um Estudo. Não sei qual mas se a memória não falha, o trabalho final está no Palácio da Bolsa.

 Sé Catedral, Sacristia

 Porto Azul visto da Vitória

 Presumo que se chama A Última Ceia

 Camões lendo os Lusíadas aos Frades de S. Domingos

 À esquerda o tríptico de A Vida

A exposição é constituída por outros acervos como livros, fotos, documentos, objectos pessoais.

Há uma sala reservada para alunos de Pintura. Algumas das suas obras não acabadas estavam bem visíveis.


Nos pequeno jardim da entrada, na altura ainda não tratado bem como os outros, estava um trabalho e mais uma vez fico na incerteza. Mas julgo que se chamava Homem amarrado. Também as árvores estavam amarradas com vários materiais.  

António Carneiro, foi um retratista por excelência (Guilhermina Sugia, Antero de Quental, Correia de Oliveira, Teixeira de Pascoaes, foram alguns dos amigos retratados) mas as suas paisagens são muito singulares. Tem obras espalhadas em Museus e colecções particulares. Destaque a decoração produzida para a Sala de Leitura da Associação Comercial do Porto, no Palácio da Bolsa.

António Carneiro, é consagrado como precursor do Simbolismo, uma corrente que não teve continuadores. Foi o artista "mais para o sentimento do que para a razão; mais emocionar do que explicar". 

Pesquisa em alguns link's  e especialmente:



sábado, 7 de setembro de 2013

170 - Campanhã - A Oriente da Cidade do Porto

Vou terminar o meu passeio pelas Quintas de Campanhã, apresentando a Quinta de Villar de Allen. 
Li algures que uma parcela da Quinta do Freixo, em frente, tenha sido incorporada nela. Francamente não tive confirmação.
A Quinta começou a ser construída a partir de 1839 no sítio chamado Campanhã de Baixo, quando o súbdito britânico John Francis Allen - ou João Allen como ficou a ser conhecido - adquiriu à Santa Casa da Misericórdia a Quinta da Arcaria com casa. 
Contemos um pouco da história do Sr. João Allen (1785-1848), embora não sabendo quando ele veio para o Porto. Foi um comerciante de Vinhos do Porto, co-fundador do Banco Comercial e da Associação Comercial. Grande coleccionador e muito ligado às artes, reuniu uma imensa colecção de pinturas, esculturas, porcelanas que expôs ao público na sua casa da Rua da Restauração, hoje um prédio recente onde estão instalados os Jogos da Santa Casa da Misericórdia.
Azares comerciais levaram-no a vender a colecção à Câmara Municipal. Depois de várias bolandas, as obras, não sei se todas, acabaram no Museu Nacional Soares dos Reis, onde pelo menos podemos apreciar algumas.
Pelas suas acções durante a Guerra Peninsular (1807-1814) também conhecida por Invasões Francesas na Península Ibérica, valeram-lhe a distinção de Cavaleiro da Ordem de Torre e Espada, concedida por D. João VI.
Outras quintas foram sendo integradas no património da família. A última em 1873. João Allen desenha o parterre gardenesque.  
Foram conservados os Jardins à francesa criados em 1780, de formas geométricas, com lago e repuxo.
O magnífico roseiral é um encanto para o olhar. 
Alfredo Allen, (1824-1899) 1º Visconde de Villar de Allen por graça de D. Luíz I, filho de João Allen, foi um notável paisagísta e botânico. A ele se deve a  vinda para Portugal de Emílio David, paisagista alemão e criador dos Jardins do Palácio de Cristal (algumas partes já não existem por causa da velhaca destruição do Palácio) e da Cordoaria, o primitivo. A ele se deveram também as famosas exposições botânicas da Torre de Marca no Palácio de Cristal. 
Alfredo Allen introduziu na Quinta e pela primeira vez em Portugal, alguns exemplares de árvores, plantas e arbustos. 
São célebres as Palmeiras do Chile que tão bem se deram com o clima da Cidade.
A Casa, exemplo de arquitectura romântica, resultou da recuperação e remodelação da Casa da Quinta da Arcaria.
Foram-lhe anexados dois corpos a Nascente e a Poente...
...foi soterrada uma fábrica de curtumes anexa à fachada Norte...
... rematada por dois torreões com merlões e seteiras.
Alfredo Allen desenhou novos Caminhos e Jardins, incluindo-lhes pormenores.



O tratamento paisagístico tem vindo a ser considerado como um dos primeiros em Portugal que procuram reproduzir a espontaneidade da natureza.
Um lago foi criado no meio da natureza.
São famosos dois vasos com frutas esculpidos em granito
Caminhando pela natureza.
Patamares, muros, imitações de ruínas


Funciona na Quinta um Horto - o Horto de Vilar d'Allen que de certo modo é o responsável por este valioso património natural.
Visitei esta Quinta por duas vezes já lá vão uns anos. De ambas, registei com gratidão a gentileza da Senhora Dona Isaura que me permitiu a visita, deu-me algumas explicações, mas o seu tempo era curto e não me pode acompanhar. Nem explicar mais. 
Numa das visitas falou-me que estava a preparar a Quinta de forma a puder ser visitada. Estava em estudo um protocolo com a Câmara Municipal, salvo erro.
Ao pegar no tema das Quintas de Campanhã, deixei esta para o fim por duas razões. Primeiro, porque soube que a Quinta para além de visitas programadas, acolhe eventos. Ver em:

Segundo, por causa das Camélias. Introduzidas pela primeira em Portugal, foram criadas várias espécies, sendo a Camélia Portuguesa já referida no Catálogo de Marques Loureiro, do Horto das Virtudes, de 1889. Não sei se foi criação sua ou dos Allen. 
A Perfeição de Villar d'Allen é a obra sublime criada na segunda metade do séc. XIX.
Mas já foram criadas cerca de 300 espécies.
As fotos foram roubadas da sua página do Facebook onde se podem apreciar mais espécies.

Em muitos Jardins e Parques Portugueses, principalmente no Centro-Norte, as Camélias estão presentes. Mas é no Porto, Cidade da Rainha Camélia onde ela se encontra em qualquer canto...
 ...Até no meu pequenino canteiro.
 
Cameleiras ou Japoneiras encontram-se por toda a Quinta. Só florescem no período frio.
Escreveu Alberto Pimentel no Guia do Viajante do Porto editado em finais do séc. XIX, se a Dama das Camélias de Dumas Filho não vivesse em Paris, viveria de certo no Porto, onde as camélias nascem numa abundância e formosura incomparáveis.
Com a construção de novas vias, não sei se a Quinta foi retalhada. Esta é a estrada que nos leva ao centro de Gondomar.
Um pormenor aéreo, relativamente antigo. Não sei os contornos actuais da Quinta. Destacam-se perfeitamente o Horto, os Jardins e a Mata.
Boas visitas, caros amigos e leitores. A Quinta localiza-se no Freixo, mesmo em frente à Quinta e Palácio do Freixo. No início de quem sai do Porto, da chamada estrada de Entre-os-Rios, junto ao Douro.