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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

165 - A Linha Férrea do Douro

Há que tempos andava a magicar em fazer uma viagem completa do Porto ao Pocinho utilizando a Linha Férrea antes que acabem de vez com o que resta dela. Já seguiu até Barca d'Alva e daí para Espanha, numa bitola ibérica. Coisa que já não existe, segundo se me constou, pois em Espanha há anos que adoptaram a bitola europeia. 
Maravilhoso, somos únicos e exclusivos em bitolas férreas. Como no tempo de Salazar, estamos Orgulhosamente Sós... 
Chamava-se Linha do Douro, começava em Ermezinde a 8,430 metros do Porto, distância que presumo ser desde Campanhã e tinha a extensão de 200,1 quilómetros. Começou a ser construída em 1875 e terminou em Barca d'Alva em 9 de Dezembro de 1887. Nesse mesmo dia foi inaugurada a ligação à rede espanhola até à estação de La Fuente de San Esteban.  
   
Uma viagem destas tem de ter o apoio de amigos, o que facilmente consegui. E lá fomos 11 de charola por aí acima. Correctamente deveria dizer por aí ao lado, pois vamos atravessar Portugal no sentido Oeste-Leste. Claro, depois teremos o regresso no sentido inverso. 
A linha já não se chama do Douro, mas sim Porto-Régua. E daqui seguirão algumas carruagens - ou outra composição que se forma na Régua dependendo não sei de quê - até ao Pocinho. O revisor dos bilhetes é quem nos avisa. Hora de partida.
O mapa demonstra a viagem mais ou menos a partir de
Porto-S. Bento até à Régua.

Passados os túneis de D. Carlos, do Seminário e da Quinta da China entramos pelo Freixo em Campanhã. Um olhar ao Rio Douro despedindo-nos com um até já. 
Recuando uns anitos, recordo uma viagem do Barão de Forrester, por esse rio acima, tratada em jeito de diário-reportagem, desde 11 de Setembro de 1854 até provàvelmente finais desse mês, pois acabava a época de vindimas, relatada em 12 cartas e publicadas no blogue amigo http://aportanobre.blogspot.pt/2013/06/viagem-ao-douro-cartas-de-j-j-forrester.html. A não perder.

Devo avisar que a grande maioria das fotos publicadas a seguir, foram feitas dentro do comboio em movimento e através dos vidros sujos das janelas e portas fechadas. Muitas se perderam. Mesmo assim os meus leitores e leitoras poderão fazer uma ideia de quanto é bela esta viagem.
Aproveitei esta imagem da Refer - a empresa que presumo ser a dona dos comboios em Portugal - só para dar início simbólico à viagem e de como ela seria antigamente.
Eis-nos na Estação de Ermesinde a 8 km aproximadamente do Porto. A caminho do Vale do Sousa, região de boas culturas agrícolas-vinhateiras e também muito industrial.

Entre Paredes e Penafiel, encontra-se a Quinta da Aveleda, marca por demais conhecida mundialmente pelos seus vinhos verdes Casal Garcia e Aveleda. Estes são uma pequena parte dos seus vinhedos. Há cerca de ano e meio, em finais de Inverno, visitei a Quinta, Parque e Jardins pela mão dos Compadres de Penafiel Cancela e Peixoto, mas ainda não tive oportunidade de escrever sobre ela. É uma Quinta que remonta ao séc. XVI embora o primeiro registo de venda de vinhos engarrafados seja do ano de 1870. Sempre nas mãos da mesma família.
Uma visita a não perder. 

O Vale do Sousa é uma região com uma área enorme, abrangendo vários concelhos que exceptuando o de Castelo de Paiva, pertencem ao Distrito do Porto.

É banhado por vários Rios mas o principal é o Sousa que vai desaguar no Rio Douro, em Gondomar. Percorremos cerca de 50 km da nossa Linha do Douro.

Passamos por Livração a correr, de onde partia a Linha do Vale do Tâmega com quási 52 Km e terminava no Arco de Baúlhe. Inaugurada em 15 de Janeiro de 1949, foi encerrada em 2008. 
Entramos na Região do Rio Tâmega. Pertencente ao Concelho de Marco de Canaveses a localidade de Sobre-Tâmega famosa pelas suas termas provàvelmente já existentes no período de ocupação romana e pela Igreja Românica. O Rio desagua no Douro em Entre-os-Rios, 20 km a sul.

Ao Km 64,910 entramos no enorme Túnel do Juncal, passamos por Pala e Mosteirô na freguesia de Ribadouro, que entrou em exploração em 15 de Julho de 1879. Estamos no Km 72,362.

E o Rio Douro já está ao nosso lado e nunca mais o abandonaremos.
Já cheira a Douro Vinhateiro.

Aos 78,374 Km cá temos Arêgos. Famosa esta Estação por duas razões. Servia e serve as Caldas de Arêgos, antiquíssima, na outra margem do Douro.O transporte de pessoas e bens entre a Estação e as Caldas era feito por barcos comandados por experientes barqueiros. Hoje é feito por lancha.

As Caldas em princípios do séc. XX. Hoje possui belíssimas instalações, um bom aproveitamento turístico e é rico o património cultural e histórico da localidade.
Voltando à Estação e à sua fama. Também conhecida por Tormes, foi nela que Eça de Queirós se inspirou para a chegada de Jacinto ao Douro no livro A Cidade e as Serras. Na civilizada e longínqua Paris, até o despachante conhecia Tormes: ...Perfeitamente ! Linha Norte-Espanha-Medina-Salamanca...Perfeitamente! Tormes...Muito pitoresco! E antigo, histórico! Perfeitamente, perfeitamente.  
Os amigos interessados poderão encontrar o livro disponível para ler e guardar em  http://purl.pt/234 . Depois de aberto o link e clicar para obter a obra em pdf tenham um pouco de paciência e deixar abrir.

Os Douros, Rio e Terra, correm em sentido contrário ao nosso mas começamos a sentir a sua grandeza. Acabaram os Granitos e começam os Xistos.

Ermida, Km 84,090. Porto de Rei. Barqueiros, primeira terra de arrais e marinheiros, abundante em vinhos e frutas, mas a povoação é miserável e os habitantes pobríssimos, assim a descreveu o Barão de Forrester. A usura e a vida miserável do povo da região foi tema do livro Porto Manso, de Alves Redol, escrito entre 1939 e 1943. 
  
Depois da Rede, as Caldas de Moledo, cujos primitivos balneários sofreram sucessivos desastres até ao afundamento final pelas Águas do Douro após a conclusão da Barragem do Carrapatelo em 1971. No verão de 1984 as águas baixaram e pude fotografar parte do antigo balneário, cuja foto ofereci à Junta de Turismo. 
As Caldas pertenceram a José da Silva Torres, segundo marido de D. Antónia Ferreira, a Ferreirinha. Tinha-as arrendado e após a sua morte passaram para a viúva. Uma linda alameda sombreada por grandiosos plátanos resiste desde esse tempo.
  
Eis-nos chegados à Régua, ao Km 103,297. Daqui partia a Linha do Corgo inaugurada em 1 de Abril de 1910 e aos poucos sendo desactivada até que encerrou em Julho de 2010. Ligava Régua a Chaves, passando por Vila Real. Servia além de outras localidades as termas de Vidago e Pedras Salgadas. Um crime o seu encerramento. Mas a nossa viagem tem de continuar. 

O movimento de passageiros é grande e as vezes que utilizei o comboio Porto-Régua e vice-versa viajei quási sempre com grande companhia. Numa das vezes nem lugares sentados para todos os passageiros existiam. É certo que nas carruagens estão visíveis a numeração de lugares sentados e em pé, mas esta não é propriamente uma viagem de pequeno curso, são quási duas horas. E muita trabalhosa e cansativa para quem tem crianças. Um desleixo da CP ou da Refer ou de quem quer que seja que manda nisto. Nem o aproveitamento turístico sabem fazer.
Mudamos então para as carruagens da frente e ala para o Pocinho. 
  
A nossa rota vista pelo satélite, incluindo o percurso que já não existe até Barca D'Alva.

Logo após a Régua, a Foz do Rio Corgo, vindo dos Altos de Vila Pouca de Aguiar, passa por Vila Real e Santa Marta de Penaguião. Quási em frente desagua o Barosa (ou Varosa), famoso pela sua Ponte Medieval de Ucanha com uma monumental Torre Defensiva que ninguém consegue saber porque foi construída.
São os limites do chamado Baixo Corgo do Douro Vinhateiro.  
O Rio Douro está agora mais próximo da Linha férrea e a paisagem vai-nos sufocando, mesmo vistos os montes de baixo para cima. Passamos a Barragem de Bagaúste.

Junto à Estação de Covelinhas estão os armazéns e a Quinta dos Murças, cujo nome aparece referenciado pela primeira vez em 1770, embora já existisse com outro nome em 1714. Em 1756 é propriedade do Távora, capitão-Mor da Vila de Murça. Permaneceu na posse da família até 2008 quando foi adquirida pelo grupo Esporão aos bisnetos de Manuel Pinto de Azevedo. Esta informação colhi-a na página da Quinta, mas na biografia do grande industrial não encontrei qualquer referencia a Vinhos nem aos Távoras.
Para o caso não interessa nada e vamos seguir.

Que doçura, que paz...
Assim falou Jacinto, pela pena do Eça. 

O apeadeiro do Ferrão pertence ao Concelho de Sabrosa e foi inaugurado como terminal provisório da Linha em 4 de Abril de 1880. Em 1900 estava por construir a estrada municipal (?) que lhe dava acesso. 

O Rio Douro também é uma estrada turística.

Quási chegados ao Pinhão, cuja estação abriu à exploração em 1 de Junho de 1880. É o km 126,830. A ponte que liga as duas margens do Douro foi adjudicada em 1900 à Companhia Alliança do Porto por 103.000$000. Francamente, não sei ler o valor deste número. Será 103 mil Reis ?
  
Passamos a velha ponte por cima do Rio Pinhão, junto à sua Foz, no Rio Douro. Ao fundo, a Ponte Românica.

São famosos os Painéis de Azulejo que ornamentam a Estação, mostrando a vida duriense. 
(num àparte, não consigo perceber porque não se escreve e diz douriense).
Estava concluído o principal propósito da Linha do Douro, mas já se planeava a continuação da Linha até à fronteira Espanhola, o que foi decretado em 23 de Julho de 1883. Acabaram de completar-se 130 anos. 

Há cerca de um ano, o monte em destaque estava a ser preparado para novas plantações. Que já se adivinham. Pinhão é um local de excelência visitado por bastantes turistas. Foi um importante entreposto comercial, sobretudo para o transporte de Vinho, primeiro pelos Barcos Rabelos, depois pelo Caminho de Ferro.

É o coração do Douro Vinhateiro.

Chegamos ao Tua e à discussão sobre a Barragem que está a ser construída. O rio desagua aqui. Foto matutina.
Fotos colocadas na página da empresa que está a construir a Barragem.
Um dos grandes pomos da discórdia é o paredão.Foi pedido o reforço do arquitecto Souto Moura para amenizar o impacte visual. Não sei em que ponto está a situação.
Foto vespertina. O ângulo de visão é ligeiramente diferente do da matutina. Além de um pequeno zoom. Entretanto a Unesco salva a barragem, ou melhor, o Douro de Património da Humanidade há cerca de um mês, aprovando o projecto.

O troço do Pinhão ate Foz-Tua concluiu-se em 1 de Setembro de 1883. É o Km. 139,727. 
Também o Tua tinha a sua Linha que ía até Bragança na distância de 133,768 Km.O troço Foz-Tua / Mirandela foi aberto em 29 de Setembro de 1887, tendo assistido à inauguração o Rei D. Luís I. O primeiro comboio chegou a Bragança em 26 de Outubro de 1906.
Entre variadíssimos problemas políticos e financeiros, foram encerrando vários percursos até que em 2008 foi definitivamente a linha fechada.

Permitam-me, caros leitores e leitoras um àparte. Esta pequena terra quási esteve para mudar a minha vida. Nos meus tempos de África, em finais dos anos 60 do século passado, conheci nos confins do Sul da Guiné, hoje País chamado de Guiné-Bissau, um comerciante a quem chamávamos o Barrinhos e que lá vivia desde os 13 anos se a memória não ma falha. As suas origens estavam em Foz-Tua. Criou o seu próprio negócio, pequeno, tal como a sua figura. Com família formada, tudo gente simples. (Olá Gracinha, menina de 3 ou 4 anos na altura, linda, que tantas vezes fotografei, se estiveres por aí dá-me um sinal. Ainda tenho fotos tuas desse tempo)
A mania das fotografias levou-me a carregar um ampliador, algum material fotográfico e pequenos acessórios. E claro, uma velha Halina Flex que comprei na casa de penhores da Praça de Carlos Alberto. Tudo num caixote enorme (menos a máquina, claro) que chegou direitinho a Catió. Lá nos confins da Guiné. 
Por coisas que agora não vêm ao caso, ofertei passado uns meses todo esse material ao Barrinhos para fazer um estúdio fotográfico, que ajudei a montar. O chefão seria um antigo militar, bom rapaz também, entretanto casado com uma sobrinha. Fizemos umas coisas engraçadas.
Concluindo, em troca pelo meu trabalho e equipamento, o Barrinhos ofertava-me a casa dele no Tua, e dinheiro para montagem de um negócio. Tudo que eu precisasse. Pensamos um pouco sobre isso, essencialmente virado para o Turismo. Dizia-me ele, vai para lá e verás que gostas daquela terra. Encontrámo-nos depois do meu regresso várias vezes no Porto e ele sempre com a mesma ideia. Concluindo mesmo, nunca aceitei. 
Conheci agora Foz-Tua mas apenas de passagem. E claro, teria de me lembrar da família Barrinhos. Ele acabou assassinado na Guiné em 1974 ou 75. Um abraço para ti António Barros, estejas onde estiveres. 
             
Pela margem esquerda do Rio encontram-se também restos de armazéns de casas de companhias que foram nossas. Leiam meus amigos a fabulosa história desta Companhia ligada ao Vinho do Douro e do Porto que vem desde 1678. A não perder http://www.realcompanhiavelha.pt/

Mas acabaram-se os Xistos e voltou o Granito às margens do Douro. O Rio é apertado por altas e duras escarpas.

Pequenos apeadeiros onde o comboio pára mas logo arranca. Estamos próximos do famigerado Cachão da Valeira.

Os meus olhos e dos amigos que me acompanhavam procuram a rocha onde está registado o naufrágio de D. Antónia, a Ferreirinha e do Barão de Forrester que perdeu a vida juntamente com alguns marinheiros. História contada a grosso modo na minha postagem 161 - O Cachão da Valeira. Acontece que não descobrimos a rocha.
Mas nessa história faltava contar um pormenor por mim desconhecido. Camilo Castelo Branco também seguia no mesmo barco bem como a cozinheira do Grande Hotel de Paris, a Gertrudes, emprestada para confeccionar um magnífico piquenique de luxo que Camilo queria ofertar aos seus companheiros de viagem. Foi a perda mais lamentável do trágico acidente, segundo o próprio
Este excerto bem como a história do Hotel, poderemos lê-lo com grande prazer no blogue amigo   http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2013/07/grande-hotel-de-paris.html

Estamos na Barragem da Valeira prontos a entrar no Túnel que nos deixa junto ao que foi o Cachão.

Passado o túnel, um olhar para trás. O mítico Cachão da Valeira. Daqui, o rio é navegável desde 1791, ano em que foi concluída a demolição das pedras que formavam o Cachão e a abertura do Canal se concretizou.

 A saída do Túnel.

Escreveu o Barão de Forrester que o Cachão da Baleira (era assim que se escrevia antigamente), era o sítio mais romântico e importante do Rio Douro. Digo eu, que é impressionante visto cá de baixo. Também já o vi lá de cima e a sensação é a mesma. Mas isso não é para aqui chamado agora.

Suspirando como que com um certo aliviar da alma, preparámo-nos mas agora para atravessar o Rio para a outra margem. Estamos em Ferradosa, regressam os Xistos.
A primitiva Ponte foi inaugurada em 10 de Janeiro de 1887. A actual foi concluída em 1980 e optaram pela sua construção devido à subida do nível das águas da Barragem da Valeira.
Por qualquer motivo, nem eu nem os amigos registamos a travessia do Rio pela nova ponte com 375 metros. E esta hemmm!!!

Chegamos sãos e salvos ao outro lado. É Vargelas e estamos no Km. 153,133. Esta parte do troço abriu em 10 de Janeiro de 1887.

Aproximamo-nos da Estação do Vesúvio, mas é a Quinta lendária que tentamos encontrar. Só a descobrimos no regresso que não tem mal nenhum para o caso. Vai na sequência.

Aqui está a Quinta do Vesúvio. Um pormenor da casa, claro. A propriedade nas nossas costas estende-se por 325 hectares de uma intrincada topografia de 7 colinas e 30 vales que vão de 130 a 530 metros de altitude em apenas um quilómetro. Presumo que está alterada desde os tempos de Forrester, mas devemos deixar a escrita dele romancear:.. Mas a Quinta das Quintas, uma das maravilhas do Mundo, outrora parte de uma cordilheira de montanhas incultas, agora servindo de monumento do quanto podem vencer a inteligência, preserverança, e o génio empreendedor do Homem, é o Vesúvio ou Quinta das Figueirinhas. É quási inacessível por terra, excepto a cavalo, pela falta de estradas. Mas quem a visitar pelos caminhos actuais depois de terem andado umas poucas de horas em um deserto, entra no que bem se pode chamar paraíso. Escrito tal qual na sua Carta 9.

Adquirida em 1823 por António Bernardo Ferreira que mandou construir centenas de terraços e plantar milhares de vinhas. Demorou 13 anos a concluir a obra. Quer Porto, quer Douro, ninguém tinha melhores vinhos, escreveu em 1827. Após a sua morte herdou-a o filho António Bernardo II, que havia casado com  D. António Ferreira. Falecido este 10 anos após, ficou a Quinta nas mãos da Viúva. Foi daqui que partiram no dia do naufrágio em 12 de Maio de 1861.
Descobri nas minhas pesquisas que a Palmeira em frente da casa existe desde sempre...
Desde 1989 que a Quinta pertence à família Symington. E tanto quanto me apercebo só produzem Vintages.
  
Longe da freguesia, talvez uns 15 km., Freixo de Numão é um sítio antiquíssimo, provàvelmente até anterior à idade do cobre. Presume-se que lá viveram os Lusitanos.O Castelo de Numão é imponente. Deve merecer uma visita mas a nossa já conhecida Câmara Municipal de Foz Coa não nos dá uma ligação (?) após a saída do comboio.
  
Aproximámo-nos do Pocinho, o fim da viagem. A paisagem torna-se diferente.

O lago que é o Rio reflecte uma espécie de nudez dos Montes, aqui com outro aspecto paisagístico.  
A Quinta do Vale Meão, andará por aqui. D. Antónia Ferreira, adquiriu em hasta pública, um terreno de 300 hectares, virgem, e levou a cabo um projecto de exploração modelo entre 1887 e 1895. Pouco gozou dele pois morreu um ano depois. Presumo que a Quinta continua em poder de familiares.

Finalmente o Pocinho, no km 171,522 da Linha do Douro. E quási 3,30 horas de viagem, nada mal passadas. Muitos visitantes apeados do comboio, provàvelmente uma excursão organizada pois tinham autocarros à espera. Porque oficialmente não há meio de transporte que ligue a Foz Coa, sede do concelho, pelo menos a horas de chegadas e partidas. É a informação que obtivemos.

Bem comidos e pouco bebidos, para a posteridade fica a imagem dos companheiros de viagem à porta do Miradouro da D. Albertina, a 100 metros da estação mais ou menos, no sentido da Barragem.  

Um pequeno passeio para ver o Lugar.

Parte da rapaziada juntou-se no marcador do Km.172. Por aqui passava o comboio até Barca d'Alva para completar os 200 km até à ligação a Espanha. Esta ligação foi financiada por uma sociedade bancária da Praça do Porto. O célebre Sindicato Portuense.

Hoje restam silvados ao longo dos carris e algumas amoras ainda mal amadurecidas.

A primitiva ponte rodo-ferroviária construída no princípio do séc. XX para transportar a Linha do Sabor até Duas Igrejas-Miranda do Douro. Embora começada a planear em 1877, o primeiro troço entre Pocinho e Carviçais só ficou concluído em 1911 e a chegada a Duas Igrejas deu-se em 1938.
Estás encerrada tanto ao transito pedonal como rodoviário. A linha fechou em 1988 e a Ponte a cair.

A ponte que liga a Beira a Trás-os-Montes é a da barragem do Pocinho.

 O Lago da Barragem. Esta é a primeira no Douro Nacional e foi inaugurada em 1982.

E por aqui segue o que resta dos trilhos da linha sem destino.
Até Barca d'Alva, ao Km 200,01 da antiga Linha Internacional do Douro.

Informação sem informação

Resta-nos regressar e guardar a recordação das belezas naturais. Como diria o Eça, pela voz do Jacinto dirigindo-se ao Zé Fernandes: O Douro, hem ? É interessante, tem grandeza. Mas agora é que estou com uma fome... Não era o nosso caso, mas a grandeza continua.

Do outro lado a Foz do Rio Sabor. Também ele com uma barragem projectada. E lá se vai ou irá, o último rio selvagem de Portugal. Não sei se para o bem ou para o mal. 
Será aqui parte da Quinta do Monte Meão ?

Os Montes fundem-se no Rio

A Quinta do Vesúvio passa-nos a correr.

Outra hora, outras cores, outras imagens

Sala dos comandos 

De novo na Régua e a Senhora dos famosos Rebuçados à nossa espera.
Faltam pouco menos de 2 horas para a chegada ao Porto.

Aproveitando o tempo de paragem na Régua, um último cliché.

Já estamos no Douro Litoral 

A viagem vale bem a pena. E ser da Terceira Idade tem as suas vantagens.

Poderia reproduzir imagens do ferro velho espalhado em algumas estações. Carruagens de passageiros e de mercadorias, máquinas, material das vias.etc. Não o faço porque só quero deixar uma recordação linda aos meus amigos do que vi e senti. Mas faço um apelo à CP ou à Refer, não sei quem manda nessas coisas, para tentar aproveitar o material como imagens de outrora, inseridas na paisagem.

Para além das páginas (sites) citadas, consultei outras Fontes: A Gazeta dos Comboios, A História da Linha Férrea do Douro, as das Quintas, as dos Concelhos e Juntas de Freguesia, as Histórias de D. Antónia, a Ferreirinha, e do Barão de Forrester. E uns tantos livros sobre o Douro que ao longo dos anos me foram ofertados.

Será muita presunção minha querer dedicar esta reportagem a uma pessoa muito especial. Mas lá vai. Ao Senhor Professor Altino Moreira Cardoso, Reguense de Loureiro. Para além de me meter mais bichinhos sobre o Douro, teve a amabilidade de me oferecer três das suas obras, que são um prazer folhear.

Ao correr da pena, mando um abraço aos amigos que me acompanham nestas aventuras. Com eles é tudo mais fácil.

Deixo uma última imagem já reproduzida anteriormente mas que nunca canso de ler:

Um apelo: Refer, CP, Governos, não acabem com os comboios. Sem eles não há progresso, conhecimento, economia, prazer. E mandem limpar as carruagens de vez em quando.