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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

181 - Porto e o Museu do Vinho do Porto

Embora me pareça muito pobrezinho, é o Museu que temos na Cidade sobre a História do Vinho do Porto. Há o da Régua sobre o mesmo tema, que não conheço mas um dia hei-de visitá-lo.
O nosso está instalado na cave de um edifício com uma história enorme, muito interessante a meu ver, toda ela ligada ao Vinho do Porto.
Se tiverem paciência, caríssimos e caríssimas visitantes, acompanhem-me num pequeno resumo.
Está localizado próximo do Rio Douro em Monchique, Massarelos, junto ao antigo Convento das Clarissas que serviu em parte para o enredo do livro de Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição.
O edifício começou a ser construído em 1750 para habitação de José Pinto da Cunha Pimentel, senhor abastado de Provesende, antigo Concelho, hoje freguesia de Sabrosa, Vila Real.
Talvez porque Provesende tenha perdido a sua força com a extinção do concelho em 1753, este fidalgo estabeleceu-se no Porto, habitando a casa desde 1756 (?). Casou com uma fidalga galega, D. Clara Saavedra, e o filho primogénito José Pinto Godinho da Cunha Saavedra já nasceu em S. Nicolau, freguesia do Porto, em 1756. 
Nesse mesmo ano de 1756 foi fundada por ordem do Marquês de Pombal a Real Companhia Velha, nome popular da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, sendo José Pimentel membro da primeira mesa administrativa.
Com a morte de José Pimentel, foi ao seu irmão Pantaleão que coube ser tutor dos filhos menores. Este ampliou a Casa e iniciou a construção dos armazéns em 1781. Mas foi já o filho primogénito que em 1798 terminou a construção dos amplos armazéns para depósito dos vinhos provenientes das suas herdades no Douro. Por essa altura, o primogénito José Pinto Saavedra era membro da 7ª Mesa da Companhia Velha. 
A construção do Cais Novo no Rio Douro (ainda hoje é assim conhecido) foi obra da família, e era aí onde os seus barcos atracavam para descarregar as pipas. A casa passou a ser conhecida como do Cais Novo, assim como os armazéns.
Uma ordem da Companhia Velha, não sei em que ano e quem a "decretou", obrigou que em 48 horas parte dos armazéns servissem igualmente a Companhia. A família cedia ou ficava sem eles. Presumo que aconteceu em finais do século XVIII. O Marquês de Pombal já tinha morrido há muito.
Em 1822 os armazéns tornaram-se o principal depósito alfandegário dos géneros provenientes das colónias e do Brasil. A velha alfândega do Porto (actual Casa do Infante) já não tinha capacidade. Passou a ser conhecida como a Alfândega de Massarelos. Mesmo assim as instalações já não correspondiam às necessidades do comércio marítimo.
A cidade começou a pensar numa Nova Alfândega que foi sendo construída e em 1872, após a sua abertura, foram os armazéns da Companhia, do Cais Novo ou do Saavedra,- nome porque também eram conhecidos por causa do casamento do primeiro proprietário com a senhora galega - devolvidos à família.  
Ocorreram obras de requalificação do edifício entre 1999-2001 e realizaram-se intervenções arqueológicas no interior dos armazéns. Descobertas interessantes, muita específicas desta actividade foram encontradas.
No que se refere a espólio, foram encontrados vidros, metais e fragmentos cerâmicos com uma cronologia vinda desde o séc. XVI.
No espaço para adaptação ao Museu do Vinho do Porto, foram realizadas obras entre 2001 e 2004, tendo sido inaugurado nesse ano. 
Agora, vamos ao Museu em si. Uma visita que recomendo.  
Os vários tipos de Barcos utilizados no Rio Douro
 para transporte de pessoas, pipas de vinho e outros bens.  
Cerâmicas utilizadas na época.
Arqueologia achada na Casa do Cais Novo
Espólios de épocas, de uso corrente 
Reconstituição de pormenores da vida duriense. 
Evolução da Garrafa do Vinho do Porto e elementos de publicidade. 
Garrafas de cristal para onde se decantava o Vinho.

Registos de propriedades, de exportação de vinho, de colheitas e papeis bancários.
Arte
A espessura da parede da frente que dá para o Cais. 

Algumas opiniões, se me permitem:
Finalmente, li primeira vez palavra Douriense em vez de Duriense, num documento oficial.
Não sei se a casa ainda pertence à família. Não li nada sobre a compra dos armazéns pela Câmara Municipal. Visto da rua, no primeiro andar nota-se alguma actividade .
O painel da entrada, refere 250 anos depois. Mas sabemos que em 1678 há a primeira referência escrita ligada ao Vinho do Porto exportado pela Alfândega da Cidade e referente ao vinho Douriense.
A descoberta do Vinho do Porto foi uma coincidência, quando após várias experiências para conservar o Vinho durante as longas travessias marítimas, se adicionou aguardente.
Voltando ao Museu, transmite a história de Três Portos: Porto Cidade, Porto Vinho, Porto do Rio Douro.
A minha opinião sobre outros aspectos: A entrada é (era) cara. Não sei agora o preço pois o portal da Câmara não o define. Falhas permanentes de uma Câmara que deveria saber usar os meios de que dispõem.
Os Vinhos que têm para venda são caríssimos.
Em alguns sites o Armazém é chamado da Companhia Velha, quando nunca foi pertença da empresa.
Mas isso são pormenores insignificantes nos dias de hoje. Que não da História.