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sexta-feira, 20 de março de 2015

214 - Comércios e Histórias

Continuando as deambulações pelos estabelecimentos comerciais da minha-nossa Cidade do Porto, vamos visitar mais dois e saber-ouvir algumas histórias. Ambos são no Bonjardim, bem próximo da Trindade.
Comecemos pelo Santos & Irmãos, Douradores, fundada em 1858.
O edifício principal onde se encontra a oficina é o mesmo desde a fundação, na Travessa de Liceiras, gaveto com a Rua do Estêvão. É um quarteirão em obras.
Fui gentilmente atendido por uma senhora, creio que bisneta e sobrinha dos fundadores, por parte da mãe.
José Santos, um dos irmãos fundadores foi estudante na Escola de Belas Artes do Porto. No retrato, ao fundo à direita. O irmão está no retrato superior à esquerda. Por baixo, o retrato do pai da senhora que me abriu as portas, já falecido.
Reparem nos objectos que vamos descobrindo.
Conversei recordando os meus tempos de jovenzito e as vezes que aqui entrei para encomendar molduras, por ordem dos meus primeiros patrões. Nessa altura, as entregas faziam-se pela loja com balcão em Liceiras e onde se viam as pessoas a trabalhar. Sentia-se o cheiro acre a tintas, diluentes, essas coisas...
Trabalhos que demoravam uma infinidade de tempo, mas a obra era perfeita.
Expostos, estão os certificados e as menções honrosas das participações em várias exposições internacionais e nacionais. Incluindo a de Paris de 1902.
Amostras de molduras estão expostas com velhas e novas obras.
Apreciem-se algumas relíquias que encantam.

Arquivados estão desenhos em grossos livros que demonstram a sua antiguidade.
Um antiquíssimo balcão que é anterior a 1912, embora sem data definida.Reparem na foto abaixo.
Foto recolhida na página facebook.com/santosdouradores

Do lado do Bonjardim, quase em frente, encontra-se outra casa da empresa. A foto é antiga, utilizada quando "apresentei" a Rua do Bonjardim.

Ainda no Bonjardim, existe o Alfarrabista José Soares. Velho fornecedor especialmente da Colecção Vampiro e onde troco algumas conversas.
Pois a última conversa teve o seu tom de curioso e interessante. Além das filhas que bem conheço, presente uma senhora que presumo ser familiar. As palavras são como as cerejas e daí chegamos à conclusão que a casa foi fundada 4 anos antes do que a que está referida nas páginas da net.
Muitos dos meus amigos conhecem esta Casa. Mas de certeza que não nos lembrávamos de anteriormente ser o Farrapeiro do Bonjardim. Ora puxem lá pela carola a ver se dá click.

Tinha lido e decorado uma publicação na net que o Alfarrabista José Soares fundou a casa em 1968. E antes o que era ? O tal Farrapeiro onde o senhor Soares trabalhou após tido sido marçano muito jovem acabando por ficar com a loja.
As senhoras começaram a contar uma história que alterou o ramo do comércio. Se bem me lembro foi mais ao menos assim: Em dada altura, para uma festa que teve a presença de umas 100 pessoas, arrumou-se a casa. Seria a comunhão da senhora que se encontrava presente. Tapou-se o interior da loja e para as montras não ficarem desguarnecidas, a esposa do senhor Soares colocou umas revistas, tipo foto-novelas. Começaram a aparecer pessoas a perguntar se eram para vender. Tornaram-se clientes e a partir daí foi o começo do novo comércio.
As senhoras começaram a pensar em que data foi a arrumação, a comunhão, a festa e sai então a data de 1964. Sem dúvidas. Foi a minha vez de interferir: então é preciso alterar o ano da fundação.
Prontos, já está. Não há dúvidas que vale a pena juntar conversas com comércios e a Cidade fica mais descoberta.
Ver a página www.facebook.com/alfarrabistajose.soares e www.alfarrabista.eu

Até breve, caros leitores.

quarta-feira, 18 de março de 2015

213 - Regresso aos Estabelecimentos Comerciais do Porto

A memória da Cidade também se faz pelos comércios que ainda existem, guardando ou mostrando preciosidades quer a nível arquitectónico quer de equipamentos, bem como recordações dos seus fundadores, que nos escapam no dia a dia. E também hoje, de algumas memórias minhas.

O grande armazém de Solas e Cabedaes de Adriano Pereira da Silva Lima, na Travessa de Passos Manuel - não sei de ainda tem este topónimo -  é uma destas realidades que desconhecia. Casa fundada em Março ou Abril de 1917 pelo senhor Adriano, natural de Archete, Santarém, nascido em 17 de Agosto de 1869. Administrador do Concelho de Gondomar por 17 vezes e Presidente da Câmara entre 1919 e 1922. Ficou ligado a Rio Tinto pelo casamento (Casa do Cristóvão) e adquiriu mais tarde os terrenos onde está o Externato Camões. Republicano convicto, viveu no Bonfim, entre a Rua e a Praça das Flores. Faleceu em 14 de Março de 1946.
Dizia-se ao tempo que era o maior armazém e mais completo não só de Portugal como da Península Ibérica.
Conheci o armazém, realmente enorme e ainda bem apetrechado, quando fui comprar tinta para lustrar os meus sapatos.

Bem antiga é a Ervanária do Bonjardim. Tanto quanto me lembro, entrei várias vezes com a minha avó e era uma casa escura. Hoje é elegante e com várias lojas espalhadas pelo País. O nome correcto é Ervanário Portuense e foi fundada em 1910 mantendo a fachada primitiva.

Que dizer sobre a Casa Christina em Sá da Bandeira que já não tenha referido. Das minhas memórias, lembro que ia comprar uma mistura Timor para a minha patroa (a senhora D. Olinda Monteiro, uma das sócias dos Artistas Reunidos) no princípio dos anos 60. Também a mistura S. Tomé que ela enviava depois de devidamente embrulhada em algodão para uma amiga espanhola. Poderia ser considerado contrabando, eu não percebia aquele trabalho que ela me explicava para não se notar o cheiro. Mas como era difícil esconder aquele cheiro...que sempre cheirava. Meio quilo de café para uma amiga distante sem saber se chegaria ao destino.
A Chistina é anterior às Invasões Francesas. Imaginem uma casa fundada em 1804, com chocolates e café e diz uma blogueira (paga de certeza absoluta) que até o café vinha da Amazónia. Pode ser que sim, mas...
A casa inicial foi fundada na Rua do Bispo. Já soube onde era, quis bisbilhotar de novo, mas com as novas alterações do site da Câmara do Porto (se antes era uma merda com vossa licença agora está em duplicado) não consegui encontrar qualquer referência. Mas presumo que era para os lados do Bonjardim próximo a Liceiras.
Mudaram-se as instalações para Sá da Bandeira nos anos 20 do século passado. Conclusão, na nova sala de café encontra-se uma bela escada em ferro. Todo o interior foi alterado aquando da compra da empresa por uma multinacional, a Nestlé, por volta de 2008. Mas à vista mantêm-se os moinhos e o móvel com as "latas" das misturas.

Ao passar em Sá da Bandeira baixa, próximo da Praça D. João I, chamou-me a atenção uma loja que existe há bem pouco tempo. Anteriormente era a Camisaria Smart. Grande luxo.
Olhei de fora e entrei. É uma das muitas lojas gourmets que se encontram pela Cidade, esta com provas e ofertas de um produto a partir de uma valor de compras. Mais simbólico do que caro, vale a pena.
A decoração-exposição dos produtos está muito bem arranjada. Conservas, vinhos, azeites, bolachas, sabões e outros produtos tradicionais portugueses bem expostos e com vontade de comprar.
Chamou-me a atenção um móvel.Soube a sua origem centenária e adquirido numa fábrica de sirgaria em Gaia, que faliu.
Entre a passagem da loja para o armazém, um quadro, disseram-me que inacabado. Não o poderei reconhecê-lo como a Ribeira do Porto antiga. Mas prontos, é porque é.
No aproveitamento das paredes que tornaram rústicas, sem dúvida de bom gosto, pequenas prateleiras expõem os produtos
Gostei desta Central Conserveira da Invicta, de preços baixos e linda decoração.

Para acabar por agora, uma referência a um Restaurante-Casa de Fados. O Mal Cozinhado.
 Tomou o nome de um restaurante (não sei onde) frequentada por Luís de Camões. O edifício é do século XIV, mantendo as madeiras e pedras originais. Está a 2 metros acima das águas do Douro o que em tempos de cheias obriga a casa a fechar pois fica inundada.
Era uma casa pertença da Hall & Companhia, não sei se ligada à luz eléctrica ou aos eléctricos. Mas também não sei se estou a lavrar em erros. Em 1976 passou a Restaurante pela mão de Fernando Valente Maia. Não sei se o mesmo que foi um fuzileiro condecorado.
Nesta casa encontrei e fiz amigos, grandes figuras do Fado e não só. Só a conheci em meados dos anos 80 do século passado, ao tempo dirigida por Lopes de Almeida, empresário portuense. Foi um local obrigatório para levar amigos e visitantes estrangeiros. Já é raro vir aqui jantar e ouvir fado, mas de vez em quando ainda acontece na companhia de amigos novos que nos visitam. E é sempre um prazer regressar, pois para além do Fado a Cozinha é excelente.