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quarta-feira, 18 de março de 2015

213 - Regresso aos Estabelecimentos Comerciais do Porto

A memória da Cidade também se faz pelos comércios que ainda existem, guardando ou mostrando preciosidades quer a nível arquitectónico quer de equipamentos, bem como recordações dos seus fundadores, que nos escapam no dia a dia. E também hoje, de algumas memórias minhas.

O grande armazém de Solas e Cabedaes de Adriano Pereira da Silva Lima, na Travessa de Passos Manuel - não sei de ainda tem este topónimo -  é uma destas realidades que desconhecia. Casa fundada em Março ou Abril de 1917 pelo senhor Adriano, natural de Archete, Santarém, nascido em 17 de Agosto de 1869. Administrador do Concelho de Gondomar por 17 vezes e Presidente da Câmara entre 1919 e 1922. Ficou ligado a Rio Tinto pelo casamento (Casa do Cristóvão) e adquiriu mais tarde os terrenos onde está o Externato Camões. Republicano convicto, viveu no Bonfim, entre a Rua e a Praça das Flores. Faleceu em 14 de Março de 1946.
Dizia-se ao tempo que era o maior armazém e mais completo não só de Portugal como da Península Ibérica.
Conheci o armazém, realmente enorme e ainda bem apetrechado, quando fui comprar tinta para lustrar os meus sapatos.

Bem antiga é a Ervanária do Bonjardim. Tanto quanto me lembro, entrei várias vezes com a minha avó e era uma casa escura. Hoje é elegante e com várias lojas espalhadas pelo País. O nome correcto é Ervanário Portuense e foi fundada em 1910 mantendo a fachada primitiva.

Que dizer sobre a Casa Christina em Sá da Bandeira que já não tenha referido. Das minhas memórias, lembro que ia comprar uma mistura Timor para a minha patroa (a senhora D. Olinda Monteiro, uma das sócias dos Artistas Reunidos) no princípio dos anos 60. Também a mistura S. Tomé que ela enviava depois de devidamente embrulhada em algodão para uma amiga espanhola. Poderia ser considerado contrabando, eu não percebia aquele trabalho que ela me explicava para não se notar o cheiro. Mas como era difícil esconder aquele cheiro...que sempre cheirava. Meio quilo de café para uma amiga distante sem saber se chegaria ao destino.
A Chistina é anterior às Invasões Francesas. Imaginem uma casa fundada em 1804, com chocolates e café e diz uma blogueira (paga de certeza absoluta) que até o café vinha da Amazónia. Pode ser que sim, mas...
A casa inicial foi fundada na Rua do Bispo. Já soube onde era, quis bisbilhotar de novo, mas com as novas alterações do site da Câmara do Porto (se antes era uma merda com vossa licença agora está em duplicado) não consegui encontrar qualquer referência. Mas presumo que era para os lados do Bonjardim próximo a Liceiras.
Mudaram-se as instalações para Sá da Bandeira nos anos 20 do século passado. Conclusão, na nova sala de café encontra-se uma bela escada em ferro. Todo o interior foi alterado aquando da compra da empresa por uma multinacional, a Nestlé, por volta de 2008. Mas à vista mantêm-se os moinhos e o móvel com as "latas" das misturas.

Ao passar em Sá da Bandeira baixa, próximo da Praça D. João I, chamou-me a atenção uma loja que existe há bem pouco tempo. Anteriormente era a Camisaria Smart. Grande luxo.
Olhei de fora e entrei. É uma das muitas lojas gourmets que se encontram pela Cidade, esta com provas e ofertas de um produto a partir de uma valor de compras. Mais simbólico do que caro, vale a pena.
A decoração-exposição dos produtos está muito bem arranjada. Conservas, vinhos, azeites, bolachas, sabões e outros produtos tradicionais portugueses bem expostos e com vontade de comprar.
Chamou-me a atenção um móvel.Soube a sua origem centenária e adquirido numa fábrica de sirgaria em Gaia, que faliu.
Entre a passagem da loja para o armazém, um quadro, disseram-me que inacabado. Não o poderei reconhecê-lo como a Ribeira do Porto antiga. Mas prontos, é porque é.
No aproveitamento das paredes que tornaram rústicas, sem dúvida de bom gosto, pequenas prateleiras expõem os produtos
Gostei desta Central Conserveira da Invicta, de preços baixos e linda decoração.

Para acabar por agora, uma referência a um Restaurante-Casa de Fados. O Mal Cozinhado.
 Tomou o nome de um restaurante (não sei onde) frequentada por Luís de Camões. O edifício é do século XIV, mantendo as madeiras e pedras originais. Está a 2 metros acima das águas do Douro o que em tempos de cheias obriga a casa a fechar pois fica inundada.
Era uma casa pertença da Hall & Companhia, não sei se ligada à luz eléctrica ou aos eléctricos. Mas também não sei se estou a lavrar em erros. Em 1976 passou a Restaurante pela mão de Fernando Valente Maia. Não sei se o mesmo que foi um fuzileiro condecorado.
Nesta casa encontrei e fiz amigos, grandes figuras do Fado e não só. Só a conheci em meados dos anos 80 do século passado, ao tempo dirigida por Lopes de Almeida, empresário portuense. Foi um local obrigatório para levar amigos e visitantes estrangeiros. Já é raro vir aqui jantar e ouvir fado, mas de vez em quando ainda acontece na companhia de amigos novos que nos visitam. E é sempre um prazer regressar, pois para além do Fado a Cozinha é excelente.