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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

224 - Outros olhares sobre o meu Porto

Na passada quinta feira tive de me levantar de madrugada - aconteceu três vezes seguidas esta semana e não pelas razões que estão a pensar com os vossos botões - e como precisei de estar na baixa aproveitei sem calendário pré-definido olhar à minha volta e ver a minha-nossa Cidade com outros tons.

Dia enevoado, o sol violento entre as nuvens e ainda baixo no seu nascente, permitiu olhar a Câmara Municipal com uma luz diferente .
  
A triste "nova" Avenida dos Aliados ainda deserta de turistas. Mas louve-se a limpeza e a arrumação das cadeiras do Terço.
Para quem não sabe, o Terço era um cinema ao ar livre que só funcionava no verão nos terrenos do Asilo Profissional do Terço, no Marquês, isto é, na Praça Marquês de Pombal ou antigo Largo da Aguardente. Os meus caros leitores interessados poderão bisbilhotar neste espaço mais estórias e a história do Marquês.
Perdi-me nas palavras, mas voltando às cadeiras, eram do tipo das que se encontram na Avenida as que formavam a plateia mais cara do cinema e custavam 25 tostões o lugar. Transformados em euros, corresponde a 1,25 centavos do €.

O transito também era escasso.

Caminhando para o meu destino, um olhar para trás e ver a Câmara desde a Rua Ramalho Ortigão.

Uma paragem na Rua do Almada para espreitar numa montra o novo "staile" das nossas sardinhas.

O sol faz brilhar as varandas da Pensão dos Aliados, à direita. O céu estava a ficar feio.

Na Praça de D. Filipa de Lencastre, o majestoso edifício do Hotel Infante de Sagres. Irrita-me as suas duas cores de tinta. Porque será ?

Já na Rua de Aviz uma recordação dos bailes de garagem.

Ainda na Rua de Aviz, uma das novas tascas portuenses que tem como especialidade o Leitão, apresenta na montra uma das glórias dos anos 60. E à memória vêm os filmes da época incluindo Férias em Roma - salvo erro - com Audrey Hepburn e Gregory Peck.  

De regresso à nossa sala de visitas 1,30 h depois, a animação turística já ferve.

Caminhos sem destino e uma passagem pela Praça de D. João I. Olhando para os Corcéis de João Fragoso, só agora reparei que são inclinados. As duas estátuas gémeas cada uma tomba para o seu lado. Questão política de ficar bem com todos ?

Mas a praça em si é mais uma das vergonhas de urbanismo da minha-nossa Cidade. Será uma fonte de dinheiro para a autarquia em breves épocas do ano quando a aluga. Na totalidade será um mês, mais dia menos dia. Fica a saudade de como ela era quando o Antero da Confidente pagou o arranjo com o chafariz que agora está no Marquês e calçada com as "nossas" pedras às cores formando a Rosa dos Ventos.
Passei por Sá da Bandeira para comprar um saco de medicamentos e depois subi Passos Manuel para ir à Nos. Nem acreditem no escabeche que fiz por causa do "bom atendimento" que esta empresa telefónica e afins dedica aos utentes. Os empregados são a cara da empresa, por isso não quero nada com eles. E não sou o único queixoso principalmente pela falta de educação. Que o diga o meu querido amigo Manuel Cibrão.

Passar por Santa Catarina e não olhar os Camones no Majestic é como ir a Roma não ver o Papa.
Eram 11 horas da manhã.

E o Paladium está logo ali com toda a sua majestade. O relógio está fora de horas e um dos símbolos que o Corte Inglês - de Portugueses - criaram, os Carrilhões e os Quatro do Porto (S. João, Camilo Castelo Branco, Almeida Garrett e o Infante) já não saem à janela.

Mais umas saudades a matar nesta manhã sombria: O edifício Aquilles de Brito, o meu antigo escritório no segundo andar e o Restaurante Ribeiro, na Praça dos Poveiros que mesmo com uma fonte é mais um pobre arranjo urbanístico. O Buraquinho estava mesmo atrás de mim já aberto, mas ainda era cedo para petiscar.

À esquerda, o Guedes das sandes da Perna de Porco já funcionava no interior, que o exterior não convidava.

Fui espreitar o Jardim de São Lázaro que desde há uns dias está contemplado com tasquinhas de comidas temáticas. A semana que vai entrar é dedicada à Comida Tradicional Portuguesa.

Na semana finda foi o Festival de Marisco e num aquário encontrei umas desgraçadas de sapateiras e ostras. Que saudades destes moluscos comidos em quantidades industriais e de sabor único molhados em piri-piri e limão.
Criados nas bolanhas da Guiné onde a água entra bastante salinada fizeram-me esquecer muitas vezes uma vida difícil.

Saí pelo Portão sul que dá para a Avenida Rodrigues de Freitas e no antigo armazém das Baterias Tudor - por cima eram os estúdios do velho Portuense Rádio Clube - vi através das vidraças umas relíquias. Que pena estar o estabelecimento fechado. As fotos são as possíveis.

Não sou amante de automóveis mas gosto de os ver desde que o Sr. João de Lacerda, um gentleman, me apresentou o seu Museu do Caramulo, secção automóveis. Fiz nos anos 80 do século passado um trabalho simples de apresentação do Museu. Um espaço a visitar, bem como todo o Museu que possui obras de grande valor e variedade artística.

São muitos os hotéis que ùltimamente foram e estão a ser construídos pela cidade. Na esquina com Duque de Loulé cá está mais um em fase de acabamentos, junto à emparedada velha Pensão Aviz de portas fechadas.

Na Rua de Entreparedes de muitas recordações, especialmente o número 80, um novo olhar ao que nos rodeia.
No edifício meio arruinado do antigo Instituto Comercial do Porto, uma placa informa que se vende.

 Em frente, um antiquário - fechado - onde através da montra vi esta relíquia de cartaz. Por causa da realização do campeonato do Mundo de Hockey em Patins em 1952, o Presidente da Câmara da altura, um militar, mandou destruir o Palácio de Cristal para se construir o mamarracho do cogumelo que se encontra nos Jardins do dito Palácio e que se chamou Pavilhão dos Desportos, depois Rosa Mota e agora ninguém o quer. Era o tipo de homem que deveria ter ido junto com as destruições.

A parte lateral do palacete do séc.XVIII mandado construir por José Anastácio da Silva Fonseca, um miguelista que fugiu durante o cerco do Porto, aproveitado como hospital nesse período. Foi Estação Central dos Correios durante grande parte do séc. XX e agora vendido para uma unidade hoteleira.
No rés-do-chão ainda funciona uma estação dos Correios, que já não são portugueses.
E a chuva anunciada começou a cair.Eram quase 12 horas.

Na Praça da Batalha o S. João já está de cara lavada. Mas atenção ao piso marmoreado do chão que o liga ao centro da Praça. Com chuva torna-se um espaço escorregadio.

Encontrei o camarada José Rodrigues enquanto me abrigava à porta do novo hotel no palacete, voltada para a Praça da Batalha. Umas conversetas não invalidaram um olhar para a Praça e notar o contraste de cores.

E também apreciar as fúrias dos turistas nos autocarros panorâmicos. Vai tudo a monte e prontos. A culpa foi da chuva que passou de morrinha a forte.

Por baixo da pala do velho cinema Batalha, mais uma das peças urbanísticas que ninguém quer, vale sempre a pena olhar a Igreja de Santo Ildefonso e o Coliseu lá atrás.

Quase 12,30 horas e colocou-se-me o dilema "que fazer com chuva". Desde S. Lázaro que tinha metido um plano na cabeça, mas desisti. Atravessei a Praça da Batalha e enfiei-me no Gazela, não sem antes ter olhado os fotógrafos à chuva e o piso exterior do S. João a ver se alguém escorregava.

Haviam lugares sentados, coisa rara à primeira, no Gazela. Mas estamos em época de férias e o Gazela também está na onda e fechou cedo, só abrindo a 14 de Setembro.

Uma gentil senhorita espanhola, companheira de balcão, permitiu-me esta foto que não faço ideia como ficou gravada.

Não havia volta a dar por causa da chuva. Enfiei por Santa Catarina e espreitei de novo o Majestic agora com portas fechadas onde o chefe recepcionista controlava a entrada dos turistas aglomerados debaixo dos toldes. E a venda de rua dos guarda-chuvas "é a 5 euros p'ra chuva, 5 euros" seguia em grande.
Fiz uma outra foto com mais turistas que entretanto chegaram, mas sem a senhora que vendia os guarda-chuvas. Tinha ido ao armazém ali no portal ao lado.

O pessoal circulava sem parança, as esplanadas vazias mas os interiores cheios. Tanto no Mengo's como na Império.
E foi assim que passei e passeei desde "madrugada" . Fiz um mata bicho no Café Aviz onde não tive coragem para fotografar. Pois se o empregado quis ao fim da força que a uma torrada de molete cortada fininha como gosto, ter de lhe chamar Mirita, (ouvi-o três vezes Mirita, olhando ora para o lado ora para o alto com cara de muito sapiente e a minha de estúpido até lhe fazer a vontade ) não me deixou espaço nenhum na dita coragem abusadora em que sou fértil para puxar da máquina e já está e agora chama o polícia.
Tenham uma boa semana, caros leitores, amigos e amigas