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terça-feira, 15 de março de 2016

240 - Entre-Meses

Já tinha saudades de meter umas letras neste espaço. Foi um mês perdido entre a terra de ninguém, as trincheiras e o arame farpado.
O regresso teve de ser cauteloso e foi preciso testar as novas potencialidades. Em todos os níveis.

O começo foi por um lombo de porco assado na forno, que esteve a um nível medíocre. Talvez o excesso de antibióticos penicilínicos aliados a ervas naturais frescas especialmente os coentros tenham deixado um travo amargo de difícil degustação.

Esqueçamos a desgraça, o tempo seguiu o seu curso e foi só esperar que ele acabasse por curar as maleitas de que o corpo se queixava. Fome, muita Fome veio entretanto. Perdidos seis quilos, há buracos que precisam de ser preenchidos.

Já quase esquecidos do Dia da Aldeia da Quintadona e do André que parece não ter deixado boas recordações, em Fevereiro passado, partilho com os meus queridos amigos um mês depois os caminhos do Sável e da Lampreia.
Para isso, nada melhor que visitarem comigo dois restaurantes de amigos no concelho de Gondomar.
 
Junto ao Douro, o Rio que se gaba de ser o mais lindinho de Portugal. E com razão. Depois de um insosso nascimento em terras espanholas, num deixa rolar cheio de marasmo, em chegando às Terras de Miranda fica (ficava) com ganas e vem por aí abaixo de Norte para Sul, faz um desvio para Oeste, e aos tropeços chega ao mar. Ajudou a moldar as suas margens que são o mais belo Património da Humanidade.
Agora já não é tão impetuoso, os homens cortaram-lhe a fúria travando-a nas barragens, a última aqui bem perto e que esses mesmos homens por causa do seu nome se iam matando.
Crestuma-Lever, não interessa, porque há anos em que a raiva do Rio não quer saber de nomes e encharca a Régua no meio do caminho quando lhe apetece e mesmo a Ribeira e a Miragaia do Porto já quase na foz.

Estamos na época do Sável e da Lampreia. Hoje a sua pesca é muito ingrata. As barragens são um entrave ao acesso pelo rio acima para o nascimento e seu desenvolvimento. Tanto uma espécie como outra também nos chegam agora de outras partes do mundo. Mas em "casas de confiança" sempre se arranjam os bichos do nosso rio.

Velhos tempos, em que da Ribeira do Porto à Ribeira de Abade e mais acima, Gramido, Aboínha e até Entre-os-Rios, a pesca destas espécies eram um sustento dos pescadores e principalmente o sável era um alimento dos pobres. Por 20 escudos comprava-se um peixe de 2 ou 3 Kg para em casa se preparar em escabeche onde as espinhas se desfaziam. Era comida para uma semana.

Nunca fui amante destas espécies, mas isso não invalida que não acompanhe os meus amigos para provar. O Sável, que à Lampreia nem pensar.

Os meus grupos de amigos, ex-camaradas de velhas "guerras", são muito certinhos a organizar encontros joviais que incluem uma belas petiscadas a par de alguma promoção turística-cultural.

Bem próximos um do outro realizaram-se dois eventos que, pelas razões que me assistem ou eu não fosse o dono disto, achei por bem fazer figurar as partes correspondentes à gastronomia nesta página.

Dia 9 de Março, chuvoso e triste, foi a data do encontro marcado para a Adega Vigário, na Aboinha. Mais próximo ao Rio Douro não pode ser, a não ser que metamos os pés na Água.
Salpicão, pataniscas e azeitonas para entreter o estômago.
Há sempre uns petiscos para abrir é certo, mas era (foi) o sável que nos fez marcar o encontro. E o Vigário e Família não deixam estas coisas por mãos alheias.
O acompanhamento foi de um proletário arroz malandrinho de hortos. Há quem lhe chame também arroz de Espigos. Depende do tipo da couve. Pessoalmente prefiro os Espigos dos Grelos.
Provei uma posta do sável só para não dizer que não. Comi umas colheradas de arroz que estava no ponto: Grão durinho a partir-se com uma ligeira trincadela.
Neste mundo das comidas já me conhecem. Fui presenteado com um bom naco de vitela grelhada, ao qual nenhum dos camaradas aderiu. Sobrou do almoço, mas foi acabada ao jantar. Nunca devemos recusar comida quando sobra.
As refeições encomendadas por este grupo de ex-camaradas acabam sempre com um bolo em homenagem ao mentor do projecto, o Fernando Jorge Teixeira. Claro que a acompanhar o bolo há um excelente vinho espumoso Terras do Demo, oferta de um grande impulsionador de projectos a favor da comunidade - melhor dizendo, de várias comunidades - e da sua terra adoptiva: Crestuma. Para o Zé Ferreira e para o Teixeira os meus abraços de amizade.

Homenageando a Chefa D. Leonor Vigário. Esposa do camarada Vigário e mãe do Vigário Filho Fernando. Uns Vigários porreiros, diga-se de passagem.

Quis a coincidência de calendário, que três dias depois novo encontro me levasse a provas idênticas. Neste caso foi surpresa total.
Vamos a isso
A Quinta dos Choupos que alberga o Restaurante O Choupal dos Melros, está entre duas estações. Isto é, entre o Inverno e a Primavera. Ainda há Camélias e as Magnólias estão exuberantes. Um passeio pela Quinta deixa-nos felizes a par da natureza.
Um dia hei-de regressar a esta Quinta (aqui no espaço - ou noutro - ) só para mostrar o que ao longo do ano aprecio.
Mas hoje são as comidas que interessam.
É um local de encontro mensal desde há 4 ou 5 anos de um outro grupo de meus amigos. Que afinal se entre-cruzam e é isso que nos importa. O convívio.
O nosso camarada Gil Neves superintende ao espaço reserva-nos ementas que só sabemos quais são na hora de avançar.

É habitual ser-me concedida uma visita à cozinha. Dá para fotografar uns pratos e cumprimentar a chefa e o pessoal.
E surpresa, Hoje há Sável.
Exposto na travessa, postas já cortadas e ovas para Açorda. Aquela coisa comprida à esquerda não sei o que é.

Num dos enormes fogões, Moelas de aves apuravam. São uma das entradas antes da refeição e de que tantos gostamos

Outra das entradas é a sempre apreciada e tenríssima orelha de porco em vinagreta básica.

Sável a fritar.

Caldo de Nabos

A D. Carmina e a ajudanta atarefadas
E é a hora de amesentarmos depois das entradas terem sido deglutidas.
Não sou dado a sopas e caldos. Mas tive o prazer de provar o caldo de nabos que estava delicioso.

A Açorda quase pronta. Falta o toque final junto às mesas.

Mestre Paulo diz-nos como é.

Serviço perfeito

Não poderia deixar de provar prato tão completo que é um dos ex-libris do Choupal dos Melros.
Mas o nosso camarada Gil excedeu-se.
Surpresa...

Não sei dizer nada sobre este prato. Só sei reconheço-lo em qualquer lado. Lampreia à Bordalesa.

Cozinhada com o seu sangue e acompanhada com pão torrado e arroz branco. É a tradição.

Para mim, destinou-se Lombo de Boi assado no forno. 

Frutas e doces fabricados na Casa. Famosas as Maçãs assadas e o Creme torrado.
O meu pratinho, acompanhado de café e excepcionalmente Licor Beirão.

Gondomar do Coração d'Ouro e do Douro só tem encantos.

Para desfazer tanta comida -e bebida - um passeio entre as hortas e pomares da Quinta dos Choupos por onde está espalhado o aroma dos citrinos. Daqui a seis meses será o cheiro das uvas maduras e do mosto.
Pode acontecer trazer-vos até aqui, caros e caríssimas visitantes e leitores. Até lá..