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sexta-feira, 20 de maio de 2016

246 - Amarante e o São Gonçalo que não é Santo

Os amigos empurram e só resta deixar-mo-nos ir na certeza de que virão novos conhecimentos. Desta vez descobri um pouco da Cidade de Amarante e com uma pontinha de emoção.
Amarante é o maior concelho do Distrito do Porto, uma espécie de divisória entre o Douro Litoral, Trás-os-Montes e o Minho.
Terá tido a sua origem nos povos primitivos (4.500 anos antes de Cristo) que habitaram a serra da Aboboreira localizada no extremo nordeste da região, entre o Rio Douro e a Serra do Marão. A riqueza agrícola e a fauna terão sido determinantes para a fixação das populações.

Comecemos então a apresentar Amarante, com as devidas reservas de credibilidade, pois as pesquisas pelos vários sites nem sempre são coincidentes. A minha interpretação por vezes também poderá não ser a melhor.

A cerca de 60 km do Porto, o equivalente a uma hora de autocarro, descemos no terminal rodoviário. A Estrada Nacional 15 que liga o Porto a Bragança passa aqui mesmo, bem como os sinais das antigas Estradas Real e a Romana, que provavelmente ligava Braga a Panoias, em Vila Real.
Aconselho aos curiosos da Civilização Romana em Portugal a consulta deste site:
http://www.viasromanas.pt/
Este lugar é mais conhecido como o Arquinho. Não consegui descobrir o que "representa" o velho edifício. Descobriram-se há relativamente pouco tempo vestígios de uma Ponte talvez do séc. XIII.
Conhecesse eu esta foto e teria tentado uma outra panorâmica. Parece que as casas são as mesmas de outrora.
O Largo chama-se já há muitos anos de António Cândido, homenageando o clérigo e político conservador que ganhou fama de extraordinário orador ficando conhecido como A Águia do Marão. (Candemil, Amarante: 29.Março.1850 - 9.Nov.1922.)

Vamos conhecer um pouco da Amarante histórica e medieval cujo concelho teve foral de D. Manuel I em Novembro de 1513;  percorremos a Rua 31 de Janeiro que já teve imensos nomes sendo o mais significativo o antigo do Covêlo que muitos habitantes ainda utilizam para designar o lugar.  Terá existido um hospital ou albergaria medieval de acolhimento aos peregrinos doentes que se deslocavam a Amarante em romagem ao túmulo de S. Gonçalo.

São imensos os estabelecimentos comerciais com destaque para os gastronómicos. 

A arquitectura também é de destacar. Varandas, janelas, alpendres e claro as fachadas. 
Muito ferro, madeira e granito.



Um dos restaurantes mais conhecidos do País, o Zé da Calçada, teve a sua origem por volta de 1880 como uma tasca, ao cimo da Rua. Mudou-se para este local meia dúzia de anos depois para melhor "receber" a clientela já com nome de restaurante. Nos anos 30 do séc. XX entra em obras ampliando o espaço e oferecendo também quartos nos pisos superiores. 
  
O Rio Tâmega corre a meia dúzia de metros do outro lado da rua. E com violência, pois as chuvas que nos têm fustigado nesta Primavera que nem parece sê-lo a isso obrigam.
Fui visitar o local onde me lembrava ter estado, mais ou menos metro, há cerca de 60 anos.
Fazia parte do grupo coral da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Porto e na minha zona de Paranhos. Fomos convidados para cantar na Igreja do Convento na Festa de Corpo de Deus e quanto ao ano terá sido 1955 ou 1956. 
Os meninos do Coro na foto feita pelo meu Pai, na companhia de dois cantores adultos. Eu sou o segundo menino a contar da esquerda, em baixo.

Regressando ao Covêlo ou Rua 31 de Janeiro, vêm-se em várias fachadas a informação da altura de cheias do Rio Tâmega em vários anos. Como diz um amarantino, quando o Tâmega enche, Amarante parece um qualquer canal veneziano.


Pormenor da Ponte e da Igreja de São Gonçalo.
Amarante só começou a adquirir importância e visibilidade após a chegada do eremita Gonçalo (1187-1259) que aqui se fixou depois de peregrinar por Roma e Jerusalém.

Olhamos para montante do Rio. A enorme Ilha do Frade está coberta pelas águas. 
Vamos passar para a margem direita através da actual Ponte.

Entrada da Ponte do lado da margem esquerda.
Acredita-se ter existido primitivamente neste local uma antiga ponte romana, dado ser o traçado da estrada romana que passaria em Amarante, em direcção a Guimarães e a Braga.

A história local conta que por volta de 1250 o beato Gonçalo de Amarante terá construído uma ponte (ou reconstruido a anterior romana ?), com os recursos oriundos de esmolas por ele obtidas na região.
Num dos coruchéus, a placa comemorativa da Defesa da Ponte.
No contexto da Guerra Peninsular (1807-1814), aquando da Segunda Invasão Francesa a Portugal, foi palco, durante 14 dias em 1809, da heróica defesa da Ponte de Amarante, contra as tropas napoleónicas em retirada para Trás-os-Montes.

Uma vista para a margem esquerda da famosa Casa da Calçada.
A primitiva foi construída no século XVI para ser um dos principais palácios do Conde do Redondo. Foi durante as invasões francesas um albergue dos comandos aliados. No entanto, ao terceiro dia de batalha, o edifício foi destruído pelo fogo.
A casa sofreu recuperações e incêndios e após vários donos, foi comprada há poucos anos
por uma cadeia hoteleira. 
Na imagem, o Jardim da entrada.

Voltando à Ponte. Em 10 de Fevereiro de 1763 devido às cheias do Rio Tâmega, ocorre a derrocada da Ponte de S. Gonçalo. Em 1782 dá-se início à reconstrução da nova ponte com projecto de Carlos Amarante (já algumas vezes o referenciei) e em 1790 é aberta ao trânsito.

Existia a meio da Ponte que desmoronou um cruzeiro dedicado ao Senhor da Boa Passagem que a população conseguiu retirar e salvar a escultura que mais tarde foi colocada numa janela da Igreja de S. Gonçalo - ao lado direito na imagem. Está do lado da Epístola.
  Ficou a ser conhecida com a Senhora da Ponte

 Igreja de S. Gonçalo
Pórtico e Varanda dos Reis
Remonta a história ao início do séc. XIII onde existia uma ermida mandada construir pelo eremita Gonçalo. Em 1540 D. João III ordena a construção de um novo templo e convento dominicano sob a invocação de Gonçalo de Amarante sobre (?) a ermida, junto à ponte sobre o Rio Tâmega, onde segundo a tradição São Gonçalo terá vivido e foi sepultado.
As obras iniciaram-se em 1543 e por volta de 1600 a edificação estava concluída. No entanto o conjunto foi sofrendo várias intervenções ao longo dos séculos.

Imperdoável não ter visitado: Ao fundo, uma fonte que é Monumento Nacional. E Igreja de S. Domingos, edifício do séc. XVIII e parte integrante do centro histórico, onde está instalado o Museu de Arte Sacra.

Mas a chuva desorientou-me em determinados momentos.
Iniciou-se em 12 de Outubro de 1683 a construção do Pórtico e da Varanda dos Reis.
No Pórtico estão representados Nossa Senhora do Rosário, São Pedro Mártir, Gonçalo de Amarante, São Tomás, São Francisco, São Domingos e, sobre a porta, os bustos de São Paulo e de São Pedro.
Na Varanda dos Reis estão representados em estátuas os reis que patrocinaram a construção do convento: D. João III, D. Sebastião, D. Henrique e D. Filipe I.

Altar do "novo" S. Gonçalo.
Mas quem foi Gonçalo de Amarante ? Lendas e Histórias. Há quem escreva não se saber a sua origem, mas o que está mais divulgado é de um indivíduo oriundo de uma família abastada, nascido em 1187 em Arriconha, Tagilde, Vizela, Guimarães, Portugal  (ufa). O arcebispo de Braga admitiu-o como seu familiar e sob os seus auspícios cursou as disciplinas eclesiásticas na escola-catedral vindo a ser ordenado sacerdote e nomeado pároco da freguesia de São Paio de Vizela.
Deixou a paróquia aos cuidados de um sobrinho e partiu durante 14 anos em peregrinação a Roma e a Jerusalém.
De regresso à paróquia, o sobrinho não o aceitou, não o reconheceu como verdadeiro pároco, e mediante documentos falsos provou não ser Gonçalo o verdadeiro pois este tinha falecido. Verdade ou lenda, acrescente-se que o Gonçalo veio pregar o evangelho até às margens do Rio Tâmega, onde ergueu uma ermida sob a invocação de Nossa Senhora da Assunção e aí se recolhendo como eremita.
Após um noviciado aconselhado pela Virgem Maria que lhe apareceu em visão, foi feito frade dominicano pelo convento de Guimarães da nova ordem recém fundada e regressou a Amarante.
Foi nessa altura que angariou fundos para a construção da Ponte e o povo começou a ver nele um santo milagreiro.
Foram abertos três processos canónicos no séc. XVI tendo sido promulgada a sentença de beatificação a 16 de Setembro de 1561.
Portanto e verdadeiramente, Gonçalo é Beato e não Santo. Mas como é o povo quem mais ordena, será sempre S. Gonçalo de Amarante.
A data no calendário litúrgico é a 10 de Janeiro, mas os amarantinos mudaram-lhe a festa e a romaria para o primeiro fim de semana de Junho.
   
A Capela Mor e as duas Capelas colaterais acabaram de ser construídas em 1586
Frei Luís de Sousa (antes de abraçar a vida religiosa em 1614 chamou-se Manuel de Sousa Coutinho, 1555 - 1632) documentou que “el-rei Dom João mandou um Architecto que fosse ver o sítio, e traçar a futura fábrica sendo a igreja de grande capacidade de comprimento, e largura, e com suas três naves, ficando a capela-mor sobre o rio, para recolher em si a sepultura do Santo; e correndo o corpo da igreja contra o monte, e o resto do Mosteiro lançado à parte direita da igreja, com bastante gasalhado para vinte Frades”.  in História de S. Domingos.

Túmulo do Beato Gonçalo no local actual. 
O altar-mor é de uma beleza extraordinária embora me pareça estar a precisar de restauros.
Ou o tempo, ou descuidos ou vandalismo, o certo é que vão faltando umas coisas como o dedo indicador da mão direita desta figura.

Órgão de Tubos. Presume-se que terá sido construído na segunda metade do séc. XVIII. Foi totalmente restaurado entre 2008 e 2010.

Baptistério do séc. XVII e pintura a óleo sobre tela do séc. XVIII representando o Baptismo de Cristo.

Coro Alto. Onde cantei. É a única coisa de que me lembro: o de ter cantado.

Claustro principal ou Nobre. A Torre Sineira e o Chafariz que não foi acabado como estava previsto pois ao alto deveria ser a figura de um menino com chapéu na cabeça e quatro serafins para que por eles caia água e não o coruchéu que podemos ver. Foi obra de 1606.
São as imagens possíveis pois o espaço estava totalmente ocupado por peças que presumo formariam uma tenda.
Os tectos dos corredores do claustro tendo nos quatro cantos uma figura, que francamente esqueci quem são.

Na Sacristia encontra-se uma imagem de S. Gonçalo, a mais antiga conhecida e que se presume ser do séc. XVI/XVII. Esteve muitos anos no altar onde hoje se encontra a moderna imagem com o hábito dominicano e saía em procissões. Para facilitar o contacto com os crentes foi-lhe colocada uma corda que era tocada.
S. Gonçalo é o padroeiro casamenteiro das solteironas, que para conseguiram casar têm de puxar três vezes o cordel do hábito e espreitar o que lá existe por baixo.
Segundo o que nos está explicado num dístico junto à imagem Olhe com devoção e reze com fé. Não toque. Não Puxe. a lenda do puxar três vezes pelas velhas para verem a parte fálica do santo não tem fundamento, pois a imagem é construída num tronco de madeira sendo apenas móveis as mãos e a cabeça. Já esteve revestida a prata que desapareceu durante as invasões francesas.
Esta imagem é conhecida como S. Gonçalo da Corda.
 
A sacristia, cuja porta tem a data de 1597, é uma sala de estilo maneirista com tecto de caixotões pintados, belíssimos, e contém pinturas em tela do nascimento, baptismo e morte de S. Gonçalo, bem como de Santa Catarina de Sena (primeira freira dominicana, falando de um púlpito perante o Papa Clemente VIII) todas do século XVIII, da autoria de Manuel Correia e Sousa. Ainda possui pinturas de Santa Maria Madalena (século XVII). Os azulejos são do século XVII.

Fonte do Convento de São Gonçalo
Esteve desde a sua origem sob a janela da sacristia num pátio junto da escada que descia para o rio muito perto do primitivo (?) túmulo de S. Gonçalo. Foi mudada para aqui nos anos 30 do século passado. É uma obra de 1545 e no nicho encontrava-se uma imagem de São Gonçalo.

Alameda Teixeira de Pascoaes
Onde se encontra o Museu Municipal Amadeo de Souza Cardoso
Instalado em parte do antigo Convento de S. Gonçalo, na década de 80 do século passado sofreu uma intervenção do Arq. Alcino Soutinho que recuperou e readaptou o edifício para fins museológicos.

Este é o segundo Claustro do Mosteiro, divido agora na parte central para receber as obras do Museu.

Fechando o claustro estão as instalações da Câmara Municipal de Amarante, ou Paços do Concelho
Pormenores numa das colunas

Disseram-me que os bustos foram oferecidos por vários escultores simbolizando os naturais de Amarante que se distinguiram em vários campos. No entanto, estão junto não naturais como Miguel Torga

Canção Popular e Pássaro do Brasil.
Óleo sobre tela de Amadeo de Souza-Cardoso
1916

Os Diabos de Amarante
ou 
Uma História dos Diabos
Não há quem melhor do que o Prof. Joel Cleto para nos contar a estória d'Os Diabos de Amarante  

Os Diabos de Amarante são umas esculturas em madeira que não só permaneceram no interior da afamada igreja de S. Gonçalo durante imensos anos, como eram objecto de oferendas e de práticas muito pouco canónicas.
E era exactamente a 24 de Agosto, numa tradição hoje completamente esquecida em Amarante, que os “diabos” eram mais procurados. Nesse dia, quase feriado na vila, entre diversas manifestações e festas, os “diabos” eram objecto de particular atenção e multiplicavam-se-lhes as ofertas.
As origens do “diabo” e da “diaba” são obscuras e perdem-se no tempo. Um estudo recente de Carlos Teixeira defende a hipótese, no mínimo sedutora, de que aquelas imagens, com características sexuais fortemente vincadas, fossem originalmente indianas e estivessem relacionadas com cultos de fertilidade dos brâmanes. A sua aparição em Amarante estaria relacionada com os contactos que os portugueses estabeleceram com aquelas regiões desde o século XVI, tendo sido presumivelmente pela mão de um comerciante do Porto, ou mesmo de Amarante, que estas fantásticas imagens aqui terão chegado, sendo interpretadas como simpáticas figuras diabólicas, à volta das quais se desenvolverá toda a tradição que lhes ficou associada.
A história destes mafarricos amarantinos não é feita, porém, apenas de festas e sucessos. Prova disso é que o diabólico casal que hoje se pode observar não é o original, mas sim uma nova versão concebida nos inícios do século XIX para substituir os iniciais que haviam sido queimados pelos franceses.
Com efeito, na sequência das Invasões Francesas, Amarante foi palco em 1809 de um heróico episódio da resistência portuguesa quando, durante 14 dias, a povoação impediu o avanço de uma força napoleónica. Dirigidos pelo general Silveira, os guerrilheiros amarantinos barricaram-se à entrada da ponte, na margem esquerda, impossibilitando assim a avançada francesa. A factura, no entanto, foi bastante cara. Na margem direita o exército invasor pilhava, destruía e incendiava toda a povoação. E o casal de diabos não escapou. Até porque, dentro do mais genuíno espírito anticlerical que caracterizava as tropas de Napoleão, as igrejas e os símbolos religiosos dos portugueses eram alvos prioritários nos saques e destruições.
O desaparecimento dos diabos originais teve, porém, contornos especiais e serviu como uma clara represália e medida provocatória junto da população dada a resistência que esta oferecia. Retirados da igreja do Mosteiro de S. Gonçalo onde se encontravam, os diabos foram vestidos pelos franceses com as roupas dos frades e assim exibidos, em procissão, pelas ruas da vila. Finalmente foram queimados.
Mas qual “Fénix”, também os “Diabos de Amarante” renasceram das cinzas. Pouco tempo depois das invasões, por suposta encomenda dos frades do Mosteiro, novo casal demoníaco é concebido e esculpido em madeira pelo mestre entalhador António Ferreira Carvalho, com oficina junto à fonte de Seixedo, que por tal motivo ficou conhecido por “Ferreira dos Diabos”.
Colocados novamente na igreja, mais precisamente na sacristia, coube-lhes, no entanto, a “penitência” de servirem de suporte à Cruz e à umbela do convento. E aí permaneceram durante várias décadas, atraindo a atenção dos curiosos e a continuação das oferendas pois “mal nunca fez estar de bem até com os diabos”.
Em 1870, contudo, o diabo e a diaba voltariam a passar um mau bocado. Classificados como diabólicos e indecentes pelo Arcebispo de Braga, indignos de partilharem o mesmo espaço com os santos, foram expulsos da sacristia pelas autoridades eclesiásticas de Amarante. Pena apesar de tudo relativamente leve se tivermos em conta que, por vontade do Arcebispo, eles teriam sido queimados.
Arrumados e escondidos durante alguns anos numa arrecadação da Câmara, acabaram, apesar de alguns protestos, por ser vendidos por três libras cada um a um inglês do Porto: Mister Alberto Sandeman. Viajaram então até Londres onde, comodamente instalados num palácio, eram exibidos como curiosos exemplares da superstição lusitana. Mas não se ficaram pela capital inglesa. Em 1889, por exemplo, acompanhando os vinhos do Porto da firma do seu novo proprietário, o casal diabólico é exibido na Exposição Internacional de Paris. Mas o exílio não demoraria muito mais...
Em 1910 os demónios são gratuitamente devolvidos a Amarante. Da grande festa que então se realizou, para registar o regresso dos “bons filhos” à terra natal, deixou Teixeira de Pascoaes um belíssimo texto do qual não resistimos a citar: “Lá vêm eles! Lá vêm eles! E vem a câmara municipal e a banda musical. Foram esperá-los à estação ferroviária, como sinal de alegria pelo regresso das maléficas Potestades (...). São de tamanho natural (se a medida humana é a mesma dos demónios) e ambos de madeira preta, é claro. Madeira? Para os olhos das crianças e dos populares é carne autêntica, dessa que veste os esqueletos (...). O Diabo, natural da África do outro mundo, tem um busto Negro e grossos beiços vermelhos ou incandescentes de ironia. A Diaba é também uma Negra da Guiné subterrânea, com duas tetas enormes, pontiagudas, donde saiu a Via-Láctea (...) atrai longa fila de pequenos diabos ou diabretes, que seguem atrás dos dois andores. São todos os garotos da vila diabolicamente mascarados. Deitam lume pela boca, ostentam chifres retorcidos, na testa, arrebitam a cauda petulante (...). Saltam, berram, bufam relâmpagos, fazem trejeitos dum cómico fabuloso, em que surge, esboçada no ar, a inocente caricatura do Mal.”
Contudo, não obstante terem sido recebidos como heróis, como se mantinha a ordem de expulsão da sacristia o casal de mafarricos não pôde voltar para a igreja. Mas ficou muito próximo: em pleno Convento de S. Gonçalo que, com a extinção das ordens religiosas na primeira metade do século XIX, passou a albergar uma série de serviços maioritariamente afectos ao município. Entre eles, e desde 1947, o Museu Municipal Amadeo de Souza Cardoso onde os diabos passaram a figurar como testemunhas privilegiadas e curiosas dos usos e tradições locais. E uma referência obrigatória da Memória Colectiva de Amarante porque, como deixou bem expresso Teixeira de Pascoaes: “Lá vêm eles! Lá vêm eles! São ele e ela, em dois andores, transportados aos ombros de altos dignatários (será dignitários ?) da Treva. Assim vão os Santos nas procissões, que um demónio é um santo às avessas, negro em vez de branco, temido em vez de amado, um santo para baixo até às Profundas.
Joel Cleto em  http://joelcleto.no.sapo.pt/textos/Comercio/DiabosdeAmarante.htm

Amarante é essencialmente agrícola, especialmente na produção de Vinhos Verdes. Encontrando-se numa zona compreendida entre o Litoral e o Interior, o Minho e o Marão de Trás-os-Montes, tem uma gastronomia rica onde sobressai o Cabrito e o Bovino da raça Maronesa. 

A doçaria conventual é parte integrante da gastronomia regional.

Há no entanto outros doces regionais, que normalmente dizemos de Feiras, como as Lérias mas são os Caralhinhos de S. Gonçalo de maior tradição.
E por falar em São Gonçalo, aqui ficam duas das muitas quadras populares:
São Gonçalo de Amarante
Que estais virado para a Vila
Vira-te para o outro lado
Que te dá o sol na pila

Casai-me meu São Gonçalo
Casai-me porque podeis
Já tenho teias de aranha
Naquilo que bem sabeis

Assim meus amigos, já sabeis que em Amarante podemos encontrar de tudo para matar a fome ou o bicho. Desde Tascas simples, Restaurantes de grande qualidade e até um com uma Estrela Michelin para os mais esquisitos. E não esquecer o verdadeiro vinho verde, branco ou tinto, bebido com requintes de degustação ou nas malgas características da região.

Amarante teve e tem gente ilustríssima e de grande perfil intelectual:
Acácio Lino, Agustina Bessa-Luís, Alexandre Maria Pinheiro Torres, Amadeo de Souza-Cardoso,
António Cândido Ribeiro da Costa,  A Águia do Marão. Eduardo Teixeira Pinto, fotógrafo.
Beata Mafalda de Portugal. António Carneiro, Augusto Casimiro, Ricardo Carvalho - O Kaiser,
Artur Carlos de Barros Basto  (nome Hebreu: Abraham Israel Ben-Rosh)
Teixeira de Pascoaes (Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos), e claro, o Senhor meu Pai que fez esta obra de arte que vos deixa uma fotos e pinta aqui umas tretas.

O seu culto espalhou-se pelo mundo português e especialmente ao Estado do Brasil como o confirma um sermão do Padre António Vieira sobre São Gonçalo. É patrono de várias Cidades Brasileiras umas que adoptaram o seu nome outras o seu culto.
Ver na Wikipédia Gonçalo de Amarante.

Outro local para pesquisas: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/4427.pdf