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sábado, 29 de outubro de 2016

255- Igreja do Mosteiro de Leça do Balio

O itinerário das peregrinações a Compostela ou Caminhos de Santiago a partir do Porto, segue muitas vezes o caminho da antiga Estrada Romana que ligava Braga a Lisboa. Para os interessados recomendo a leitura do extraordinário trabalho em Itinerário das Vias Romanas em Portugal.
A pouca distância da saída do Porto para Norte no sentido de Braga, encontra-se em Leça do Balio a Ponte da Pedra, no concelho de Matosinhos, de origem românica.
A sua construção remonta ao século II. É uma ponte com tabuleiro plano formada por um único arco de volta perfeita.
Atravessando esta ponte sabiam os peregrinos que em breve receberiam hospitalidade.
Segundo as crónicas, no local existiria em cerca de 900 a edificação de um pequeno mosteiro com igreja sob a invocação de São Salvador do Mundo e provavelmente arrasados em 1003 durante a invasão árabe de Almançor, governador do al-Andaluz, designação em Árabe da Península Ibérica.
Terá sido no séc. XII a primeira sede da Ordem Militar dos Cavaleiros-Monges do Hospital em Portugal que desempenharam um papel importante na assistência aos peregrinos. A doação do Mosteiro é feita por Dona Teresa em 1122.
Em 1123 o filho e nosso primeiro Rei. Dom Afonso Henriques deu-lhes carta de Couto, separada do Porto. Aqui residiu com a esposa a Rainha Dona Mafalda algum tempo.
Dá-se início à construção do Mosteiro românico pelos Monges da Ordem do Hospital, que não foi concluído.
Em 1294 entra para a Ordem Frei D. Estêvão Vasques Pimentel, eleito em 1306 Bailio de Leça que inicia no primeiro terço do séc. XIV a construção da actual Igreja Gótica "Cheia de Luz" e o mosteiro no lugar do arruinado românico.
A Igreja de planta cruciforme, ladeada por uma alta torre quadrangular, provida de balcões com matacães, a meia altura e no topo, em ângulo, seteiras, dando à igreja um aspecto de verdadeira fortaleza militar.
Fachada sul da Igreja, que ligava ao Mosteiro e ao restante complexo conventual, segundo descrições anteriores às demolições de 1844.
No início do séc. XVII o bailio pertence à família dos Távoras que iniciou grandes obras na Igreja e Mosteiro.
Em 1834 dá-se a extinção das ordens religiosas e a Igreja fica abandonada e em progressiva ruína. Em 1934 iniciam-se obras de restauro efectuadas pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.
Em 1993/98 assinatura de protocolo com a Unicer para a comparticipação de obras de recuperação do Imóvel.
Entretanto, já no séc. XX, o Mosteiro e terrenos foram adquiridos pelo Engenheiro Ezequiel de Campos (12.Dez.1874 - 11.Junho.1965). Actualmente pertencem à companhia Leonesa.
Capela-mor
A estrutura da Igreja gótica remontam ao séc. XIV durante as obras de remodelação e ampliação.


Tem a Igreja duas lendas associadas. D. Frei Garcia Martins, antigo bailio cujo túmulo está encostado à parede norte (consegue-se ver um pormenor) faleceu em 1306. Passados 40 anos após a sua morte, começou a notar-se um cheiro intenso e agradável. O povo curioso levantou a tampa do túmulo e surpreso não só pelo cheiro que continuava a soltar-se, mas porque o cabelo, a barba e as unhas tinham crescido. E o corpo continuava intacto.
Foi considerado de imediato de Homem Santo e a quem foram atribuídos muitos milagres. O mais importante talvez seja o da Prova do Ferro-Caldo.
Capela do Ferro
Segundo a narrativa popular, a mulher do ferreiro de um lugar próximo foi acusada de adultério. Para provar a sua inocência submeteu-se à prova do ferro caldo que consistia em andar 8 pés com um ferro em brasa nas mãos sem exclamar um queixume. A mulher não só andou mais metros com o ferro e em direcção ao túmulo do seu padrinho o Santo Homem Bem Cheiroso, como as mãos estavam livres de queimaduras. 
Segundo o Historiador Joel Cleto, a Capela chama-se do Ferro porque terá existido à entrada um portal em ferro que unia as duas paredes laterais.
Mais pormenores em Caminhos da História, http://videos.sapo.pt/oE87Fu7U2cbe12Iyg1uj e em 
http://portocanal.sapo.pt/um_video/WwLedcFADRBhqYCGOEbL

Na Capela do Ferro, o túmulo de Frei Jerónimo Coelho da autoria de Diogo Pires, o Moço, escultor máximo do estilo manuelino.

Fez-se sepultar em campa rasa nesta capela Frei Estêvão Vasques Pimentel, o responsável pela edificação da nova Igreja.

No entanto uma homenagem foi-lhe prestada numa bem trabalhada artísticamente placa em bronze, produzida provavelmente na Flandres, com diversos motivos decorativos e o epitáfio em caracteres leoneses.

Na Capela Mor o túmulo de Frei Cristóvão de Cernache.

Outros túmulos de bailios estão espalhados pela Igreja.

Pia Baptismal também de Diogo o Moço

Pormenores

Do lado Sul, presumo que estas paredes farão parte do Mosteiro, agora em mãos particulares.
 Do portão podemos ver alguma arqueologia.
Imagem do lado oposto
Imagem das paredes do lado norte
A fonte bem como algum acervo espalhado pelos terrenos da Igreja devem fazer parte das obras de restauro que se foram fazendo.
Contrariando a vontade popular, D. Fernando I de Portugal casa em 15 de Maio de 1372 com Leonor Teles de Menezes na Igreja de Leça do Balio. Este episódio veio a criar a crise de 1383-1385.
O conjunto escultórico é de Irene Vilar (1930-2008).

Há quem refira que o Infante D. Henrique nasceu no Mosteiro, pois tinha melhores acomodações para receber os Reis do que o edifício da Alfândega Velha do Porto.

Balio ou Bailio. A quem é confiada a defesa dos bens. A sua área de jurisdição era o Bailiado.